sexta-feira, 10 de maio de 2013

O palácio de Cí Xí





No meio da tarde de inverno chinês, passear pelo imenso palácio de verão da última imperatriz é compreender, no mais mínimo, como vivia a classe dominante da China, antes da revolução popular. O lugar é esplendoroso e fica às margens do rio Yun Tin, naqueles dias completamente congelado. Através dele a imperatriz se comunicava com a Cidade Proibida, para onde ia, navegando, caso fosse necessário. Cí Xí era o seu nome e ela literalmente dominou os últimos anos da dinastia Manchu, morrendo em 1908, quando o país já apontava novos caminhos para sua história.

Mesmo sendo uma concubina de escalão inferior, acabou assumindo o comando do país quando deu a luz ao único filho do imperador Xianfeng. Contam que ela era implacável e intolerante. Tanto que nunca aceitou qualquer modernização no país. Quando a alvorada do século XX prenunciava transformações em todo o mundo, Cí Xí esmagou a tentativa do príncipe Gong, em 1884, de modernizar a China. Ele acabou preso no próprio palácio, impedido de sair. E ela seguiu regendo os destinos da China, por 47 anos, sendo a responsável por mais de 12 milhões de mortes durante o seu reinado.

A história registra que foi ela quem incentivou o chamado “Levante dos boxers” (em 1900). Essa rebelião foi liderada por uma sociedade secreta, adepta de lutas marciais, que lutava contra tudo o que fosse estrangeiro no país. O levante, no início do século XX, matou quase 300 estrangeiros e outros tantos chineses cristãos, o que provocou a formação de um exército internacional que entrou em Pequim e saqueou a cidade. A realeza, que havia patrocinado a barbárie, só se salvou porque entregou os boxers e pagou indenização à força estrangeira. Desde aí, a ocupação estrangeira só aumentou. O tiro de Cí Xí saiu pela culatra.

Contam que ainda assim ela seguiu vivendo na riqueza. Em seu palácio de verão, todos os dias, eram colocadas à disposição da imperatriz mais de 10 mil frutas. Ela não comia qualquer delas, apenas gostava do cheiro. Na sua cozinha, esperavam, diariamente, 100 diferentes pratos. Ela só escolhia o que ia comer na hora da refeição.  Beliscava um e outro. O resto ia fora. Nunca tocou em nada da terra. Apenas comia o que vivesse no mar ou no ar. Chegou a construir um barco, todo em mármore, que ficava fixo no rio, onde ela costumava ver o pôr-do-sol. O seu palácio ostenta o passeio mais longo do mundo, com 778 metros, que ligava a casa principal ao rio. Dizem as más (ou boas) línguas, que quem desfrutou de tudo aquilo foi o seu amante, sempre protegido.

Cí Xí morreu em 1908 e o seu neto seria o último imperador da China, caindo durante a revolução comandada por Mao Tsé Tung.







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