segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Os tempos atuais



Está difícil entender o mundo. E, paradoxalmente isso acontece num tempo em que o que mais circula é a informação. O advento das redes sociais permite que qualquer pessoa munida de um celular possa disseminar informações em fração de segundo e para milhões de pessoas. O que menos importa nesse caso é a verdade dos fatos. O que vale é a versão. E, no geral, o que mais sucesso faz são as mentiras, armações, falsificações e sensações desprovidas de contexto. Vale tudo por um joínha, o dedo em positivo, o coraçãozinho.

Essa desvairada caçada de seguidores ou cliques tornou o mundo um lugar difícil de ser compreendido já que a leitura apurada, a análise complexa, o texto totalizante são coisas que perdem de goleada diante da informação ligeira que tem como base coisa nenhuma além do “é o que eu acredito” dos escreventes. Não bastasse isso a dissociação cognitiva causada pelo excesso de rolagem de inutilidades no celular leva as pessoas a não entender o que está dito, fazendo com que misturem alhos com bugalhos. 

Nesse universo turbulento quem ganha a guerra do discurso é o nosso velho conhecido sistema capitalista de exploração do mundo e das gentes. Quanto mais despreparadas estiverem as cabeças, mais fácil dominar.  Não é sem razão que impera no mundo a lógica liberal, mesmo na chamada esquerda. Tenho visto, estupefata, gente conhecida, lutadores sociais, jornalistas, políticos, assumirem posturas inimagináveis como, por exemplo, acreditar que a atual vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, possa ser um grande avanço para a democracia no mundo visto que é mulher, negra e pode tornar-se presidente do império. É aterrador, porque, inclusive, não se pode alegar desconhecimento. 

O Partido Democrata é uma máquina de guerra e atualmente apoia e financia um genocídio. Como Kamala pode ser um avanço para a democracia? De que democracia fala essa gente, por deus? O fato de ser negra e mulher é suficiente para que aceitemos uma dirigente que aplaude e promove o massacre de crianças no Iêmen, na Palestina, na Somália e em tantos outros espaços onde os EUA intervêm? 

Tivemos na Universidade Federal de Santa Catarina uma situação aberrante também quando uma Cátedra que leva o nome da primeira deputada negra do estado, Antonieta de Barros, se manifesta publicamente alegando que quem defende o povo palestino é racista e antissemita. O que é isso, minha gente? E quem assina a nota são pessoas que estudam, que têm conhecimento sobre a realidade. Como explicar isso senão observando que é a defesa de uma ideologia? Ideologia de direita, de defesa do capital. 

Agora a bola da vez é a Venezuela. Num átimo estamos cheios de comentaristas sobre o país irmão, do qual não conhecem nada além do que reproduz a Globo, a Record ou as redes sociais. É uma infinidade de bobagens que nos avermelham a cara, não por comunistas, mas por vergonha. Desconhecem a história, não compreendem a geopolítica, ignoram os fatores locais, surfam unicamente na aparência, e caso sejam confrontados com uma análise mais aprofundada, a reação é não ouvir, não ler, não dar bola. “Vi no instagram, me mandaram no uatizapi” solapam anos e anos de estudo sobre dada realidade. É desesperador. 

Diante deste turbilhão nos resta seguir. Tudo o que temos é a luta contra o capital que tudo esmaga, inclusive a capacidade de raciocinar. E para isso, seguiremos estudando, observando as entranhas do monstro e das vítimas, analisando o que se esconde, sempre numa perspectiva crítica é claro, porque o estudo em si, sozinho, não garante nada também. Uma hora dessas vem um novo pachakuti. É o que me mantém no prumo! P´alante! 



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