quinta-feira, 14 de março de 2019

As mil mortes de Marielle


No dia em que foi divulgado o nome dos matadores de Marielle, o que mais se viu nos perfis dos bolsonaristas foram calúnias e mentiras sobre ela. Um verdadeiro horror. Cada um e cada uma, a seu modo, tentando desqualificar essa mulher que vinha lutando bravamente, inclusive pelos policiais militares que também são vítimas da violência no Rio de Janeiro. São muitos os relatos de familiares de policiais assassinados que tiveram o apoio de Marielle nos mais de 10 anos em que ela trabalhou com a ajuda jurídica e psicológica à vítimas da violência. É, Marielle não começou sua luta contra a violência quando se elegeu vereadora, antes disso já travava pesadas batalhas. 

Como parlamentar pode ir mais fundo nessa luta e estava dedicada a esfacelar as milícias (grupos paramilitares que extorquem comerciantes e populares) que tomaram conta do Rio. Assassinada por dois policias (um aposentado e outro ex) ligados às milícias, ao longo desse ano ela ainda foi sendo assassinada em cada mentira, em cada calúnia, em cada maledicência dita contra ela. Seu corpo segue quente e recebendo balaços. 

Agora, encerrada a fase de saber quem foi que atirou, deveria ter sequência para se chegar ao mandante. Mas, mais uma vez Marielle é assassinada. O delegado que estava à frente das investigações foi afastado do caso. Segundo o governador do Rio, ele não foi exonerado, apenas está saindo porque "ele está esgotado, absorveu informação demais" e vai passar alguns meses na Itália, para espairecer, talvez. Sabe-se que os assassinos foram avisados que haveria a prisão, e já tratavam de fugir. Mas, o delegado antecipou o ato e conseguiu pegá-los, um deles já em fuga. Isso diz muito. Muito mesmo.

Agora, sabe deus quem vai assumir o caso e com que vontade de chegar à verdade. Marielle seguirá morrendo...

Mas, se Marielle segue sendo assassinada todos os dias, seja pelas autoridades ou pelas gentes bolsonaristas, isso significa que ela segue viva. E segue. Nas ruas, nas praças, nas casas, nos corações dos que amam a paz e a justiça. E para cada novo balaço que ela receba, uma nova ressurreição. Mil vezes alvejarão seu corpo. Mil vezes se levantará. Até que caia aquele que mandou apagar seu sorriso. Só aí poderemos chorar e fazê-la descansar! 




domingo, 10 de março de 2019

Dia 22 de março - Greve contra a Reforma da Previdência


Lá ia eu para uma conversa sobre a previdência que acontecia na UFSC. Pelo caminho encontrei uma colega. “Bora lá saber da reforma”, chamei. E ela: “Não tô nem aí, essa reforma não vai me pegar”. Por um minuto, pasmei. Depois, respirando fundo, decidi parar e conversar. Alto lá, amiguinha. A reforma vai pegar todo mundo. Mesmo aqueles e aquelas que já estão aposentados. 
Então expliquei que com essa proposta do governo, todo o volume de recursos que hoje é descontado do trabalhador e que fica na conta do governo serão desviados para os bancos, que são os que vão gerenciar os recursos no sistema de capitalização. Isso significa que todo o bolo que hoje serve para garantir o pagamento das aposentadorias dos que já fazem jus ao benefício, não estará mais disponível para o governo. De onde então, ele vai tirar dinheiro para pagar as aposentadorias que já estão em curso? O que torna a Previdência um sistema bom é justamente a solidariedade entre as gerações. 

Como todo o volume de recursos vai ser jogado na roda do capital, nos Bancos, não vai demorar muito para que o governo venha com nova campanha dizendo que não tem como pagar as aposentadorias que já estão sendo pagas. E aí? Certamente virá mais um projeto de lei, uma PEC ou qualquer coisa que pode acabar com a paridade, que pode diminuir valores, enfim, o que der na telha dos gerentes do capital. Por que, afinal, as pessoas não são importantes. Só é importante o lucro das empresas, principalmente dos bancos. 

Sacou? Então, a reforma te pega sim. Não seja tolo. Se não for por solidariedade que seja por egoísmo, mas a luta contra esse pacote de maldades tem de ser travada por todos. 

O governo federal tem feito uma campanha mentirosa sobre o déficit da previdência. Isso não existe, como diria o Padre Quevedo. Atualmente, no Brasil, o que existe é um sistema de Seguridade Social, que engloba Previdência, Assistência e Saúde, e isso está assegurado na Constituição Federal. Para dar conta de manter esse tripé existem várias fontes de onde são extraídos recursos. Tem o desconto INSS, que é pago pelo trabalhador formal e seus patrões, tem o desconto sobre todo qualquer produto que a gente compre (o Cofins) – o que significa que todas a pessoas no país contribuem para a seguridade, tem a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, que é paga pelas empresas, tem o PIS/PASEP, tem a arrecadação sobre a venda de produtos rurais, arrecadação sobre as importações, e até o desconto sobre todas as loterias. 

É uma dinheirama que não acaba mais, tanto que, como explica Maria Lúcia Fatorelli, da Auditoria da Dívida, o governo decidiu criar a DRU, que é a desvinculação dos recursos da União, que torna possível pegar dinheiro desse bolo e jogar em outra coisa que não a seguridade. Então, não há déficit. Há é superávit, uma sobra de dezenas de bilhões todos os anos, e isso pode ser comprovado vendo as notícias que toda hora falam da desvinculação dos recursos. 

Mas, então, como o governo fabrica o déficit? É simples. Ele pega apenas a soma dos recursos do INSS que, claro, sozinha, não fecha a conta de todos os gastos da Previdência, que não é só o do pagamento das pensões. E notem que nessa soma não entra, por exemplo, os valores que nunca foram pagos pelas empresas. O governo sequer cogita cobrar os devedores que hoje devem quase 500 bilhões de reais à Previdência. E também existem setores da sociedade que são liberados de contribuir para a seguridade social, como é o caso do agronegócio. “Isso é uma infâmia. O governo libera o agro de pagar e depois vem dizer que tem déficit”, diz Fatorelli. 

Qual é então a jogada dessa proposta? Alimentar ainda mais os lobos, aqueles que fazem dinheiro sem trabalhar: os bancos, que, sozinhos, tiveram em 2018 um lucro líquido de 18 bilhões. Os que apostam no futuro com o dinheiro dos outros. Assim, os recursos pagos pelos trabalhadores serão jogados nos bancos. Essas instituições ficarão especulando com o dinheiro das pessoas por 40 anos, que é o tempo que o trabalhador vai levar para se aposentar. Ganharão rios de dinheiro. E, quando a pessoa chegar à aposentadoria - se chegar – eles vão pagar aquilo que quiserem. Porque poderão alegar que os investimentos não deram certo, que houve prejuízo, enfim, o que quiserem, porque o trabalhador não terá controle sobre o que será feito com esse dinheiro. Não bastasse isso, pensem em quantos trabalhadores ficarão pelo caminho, sem conseguir chegar a esse momento. Aos 80, 90 anos, nem sequer terão viúvos ou viúvas para requerer pensão. E o dinheiro amealhado ao longo de uma vida se perde para sempre. 

No sistema capitalista é assim. Só o trabalhador tem sua vida sugada. Dele, enquanto está vivo e atuando, sai o lucro do patrão. E, dele, sairá agora mais lucro para os bancos e os especuladores. Enquanto isso as empresas seguirão sem pagar nada, devendo sem serem cobradas, o agronegócio seguirá isento e essa minoria de vampiros seguirá vivendo à larga ao mesmo tempo em que os trabalhadores sangram. 

O governo, que tem priorizado desde sempre o pagamento de uma dívida ilegal e ilegítima, seguirá vertendo dinheiro para os bancos internacionais e para os especuladores que compram títulos públicos. 

A reforma da previdência, que o governo diz que igualará todos os trabalhadores, só os igualará na miséria, no risco de perder a velhice e na sangria. A reforma é para garantir o bom viver dos que já são ricos, e que sempre, absolutamente sempre, viveram às custas do esforço do trabalhador. 

Sendo assim, quebrar essa reforma, impedi-la, deve ser considerada, no momento, a mãe de todas as batalhas. Vencê-la é fundamental para quebrar a coluna desse governo, pois é sobre ela que está ancorado o apoio da classe dominante. Os ricos, os capitalistas, sempre insaciáveis, querem abocanhar mais um pouco da vida dos trabalhadores e exigem a reforma. Se a gente vence, pode, inclusive, derrocar o governo, impedindo que tenha seguimento esse desmonte do país que acelerou com a votação da PEC que congela os gastos públicos por 20 anos. Agora imaginem o povo brasileiro sem os serviços públicos e ainda sem recursos na velhice. É a morte! Então, a greve geral que está sendo chamada para o dia 22 tem de parar o país. 

É a hora do povo em luta!