sábado, 27 de agosto de 2016

Lua em Sagitário: Não vi e já gostei





O filme Lua em Sagitário é o primeiro longa-metragem de Márcia Paraíso, essa carioca que chegou por aqui e, de mansinho, foi descortinando, pelo olho da câmara, apaixonadamente, a nossa história. É ela que assina o roteiro - com Will Martins  - e direção, bem como coordena uma equipe de 14 atores cujos protagonistas são Fagundes Emanuel e Manuela Campagna, estudante do curso de artes cênicas da Udesc. Boa parte do elenco é da terrinha e a produção tem parceria com os irmãos argentinos.

O filme foi rodado no Oeste de Santa Catarina - Abelardo Luz e Dionísio Cerqueira - e tem como cenário a cara camponesa do estado, com suas paisagens deslumbrantes. É uma aventura na estrada, e a câmera passeia pelo universo esquecido dos trabalhadores rurais.

Márcia já acerta por aí. Quando decide filmar uma história que se ambienta no interior de um estado periférico – Santa Catarina. É o interior do interior, sem a mistificação do velho adágio de que o sul é a Europa brasileira. Não, o sul de Márcia é o sul de verdade, das pequenas cidades, dos pequenos agricultores, dos acampamentos de sem-terra, das ocupações nascidas da luta, dos assentamentos de reforma agrária, da vida sem sobressaltos, da lenta rotina, da falta de opções, das famílias conservadoras, da gurizada que espera e da que faz acontecer.

O outro elemento do filme que faz com que a gente goste de cara é a aposta na realidade dos jovens. Mas não jovens quaisquer. São aqueles que vivem nas pequenas cidades, sem o brilho dos grandes centros e com suas singelas existências. Essa gurizada real, que estuda, trabalha, ama, sonha e quer ver realizados seus desejos mais ternos.

O filme conta a história de uma guria que vive numa dessas cidadezinhas do interior catarinense – fronteira com a Argentina - que se apaixona por um guri, filho de assentados – esses guerreiros da reforma agrária, tão mal/ditos pela mídia comercial. Os dois querem participar de um festival de música na capital, Florianópolis, e o filme conta dessa viagem e desse sonho.

O caminho, percorrido de moto, é o fio condutor do filme, que acaba discutindo outros temas, para além das intenções. O amor, a ternura, o preconceito, o medo do desconhecido, a aventura da descoberta. Lá, no encontro com a tela, cada um vai descobrir o que mais lhe toca, como cabe à arte.

O fato é que Lua em Sagitário fala de nós, da nossa cultura, da nossa terra, tem o nosso sotaque. Isso já é mais um motivo para desfrutar da aventura. Tem a ternura do amor adolescente, e tem a beleza do encontro com os diferentes.

Márcia, que já narrou com tanta fortaleza a vida cabocla, a Guerra do Contestado,  agora nos descortina mais uma obra. Eu mesma ainda não vi, mas já gostei. Porque sei quem a Márcia é, porque conheço o que ela faz e o que ela pensa das coisas do mundo. Com ela, caminha ainda toda uma turma que também tem uma linda história de trabalho e de realizações bem aqui, na nossa aldeia, como a Juliana Kroeger e o Chico Caprario. Motivo a mais para que ocupemos todas as cadeiras do cinema na estreia do filme em setembro.

Lua em Sagitário nos apresenta a leveza do amor que se compromete. Não apenas o amor que salta da tela, da história em si, mas o que permeia todo o trabalho da equipe de produção, que atua sempre no limite da condição. Afinal, nunca é fácil fazer cinema fora do eixo do grande centro. 

O pequeno petisco que vi, no trailer promocional, já me roubou lágrimas.

- Eu te amo, tá?
- Tá!

Nada pode ser mais lindo...

A não ser essa coragem, dessa equipe toda, em contar uma história tão nossa e, ao mesmo tempo, tão universal.

FICHA TÉCNICA

Roteiro: Will Martins e Marcia Paraiso
Direção: Marcia Paraiso
Direção de Produção: Juliana Kroeger
Produção Executiva: Ralf Tambke (Brasil) Saula Benavente (Argentina)
Direção de Foto: Ralf Tambke (unidade 1) - Anderson Capuano (unidade 2)
Direção de Arte: Loli Menezes
Maquiagem e Cabelos: Fernanda Cacivio
Desenho de Som: Lucas Larriera
Montagem: Glauco Broering
Direção Musical: Ju Baratieri
Interferências Gráficas: Marcelo Buti
Foto Still: Silvio Marchetto


LUA EM SAGITÁRIO - TRAILER OFICIAL CINEMA from Plural Filmes on Vimeo.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Na calada da noite, deputados congelam gastos públicos



Como geralmente acontece com quem não tem qualquer compromisso com a população, os deputados e senadores brasileiros aprovaram o texto-base da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), em plena madrugada desta quarta-feira (24), para evitar qualquer “atrapalho”. A LDO é a lei que deve orientar a elaboração do orçamento de 2017, e que inclui no seu texto a proposta de congelar por 20 anos os gastos com saúde e educação. Na Câmara foram 252 votos favoráveis e oito contra. No Senado a aprovação foi simbólica. 

Para os deputados que estão na oposição ao governo interino, o contrabandeio da proposta de congelamento para dentro da LDO é uma manobra e é inconstitucional. Primeiro, porque aconteceu sem qualquer debate na casa legislativa e segundo, porque inclui na LDO parte do que já está em discussão na PEC 241, que também prevê um novo regime fiscal e congela investimentos da União nos serviços públicos. O que os deputados fizeram foi antecipar o que pretendem aprovar na PEC. 

A manobra dos aliados de Temer, nessa madrugada, foi habilidosa e permite que o governo já possa tomar medidas de congelamento dos gastos públicos no orçamento do ano que vem, sem o constrangimento de passar pelo debate nas comissões e no plenário outra vez. Além disso, ao incluir na LDO essa proposta, o governo evita também todo o desgaste que viria com a discussão pública dessa proposta. Tudo já foi urdido, no silêncio da noite e sem a presença “incômoda” dos trabalhadores e lutadores sociais. 

Como essa medida é inconstitucional, a oposição espera que a Justiça possa se manifestar imediatamente. Afinal, o congresso não pode incluir numa lei ordinária conteúdos que já são matéria de emenda constitucional e tampouco pode estabelecer teto de gastos com base em inflação. Mas, o que esperar da Justiça brasileira? O mais provável é que tudo siga seu curso e os serviços públicos sejam ainda mais precarizados a partir do ano que vem.

A regra que entrará em vigor com a LDO estabelece que todos os investimentos públicos no país, não apenas os da saúde e educação, ficarão vinculados à inflação do ano anterior. Isso significa que a tendência é sempre reduzir as verbas. Como sempre, quem perde é a população empobrecida que é quem precisa de creche, hospital público, posto de saúde e demais serviços.

Outro baque para os trabalhadores com menor poder aquisitivo foi o veto do presidente interino Michel Temer à proposta que previa destinar 10% dos recursos do programa Minha Casa, Minha Vida para a construção de imóveis direcionados a pessoas de baixa renda nos municípios com menos de 50 mil habitantes. 

A LDO estabeleceu um déficit primário de R$ 139 bilhões como meta fiscal do governo federal para 2017 (a proposta de Dilma era de 67 bilhões). Para as estatais federais a meta é um déficit de R$ 3 bilhões. No total, o setor público federal terá como meta um déficit primário máximo de R$ 142 bilhões, o equivalente a 2,09% do Produto Interno Bruto (PIB). Para os estados, Distrito Federal e municípios, o valor máximo aceito será um déficit de R$ 1,1 bilhão.

Com isso, os governantes estão habilitados a reduzir os custos nos serviços públicos, sempre priorizando o pagamento das dívidas aos bancos. Ou seja: a maioria da população seguirá pagando a conta ( o pato?) do caviar dos ricos. 

No dia 31 o governo deverá mandar para o Congresso a proposta do orçamento de 2017.

domingo, 21 de agosto de 2016

Futebol



Amo essa arte de brincar com a bola, serpentar por entre pernas, enfrentar os esquemas táticos e técnicos com a alegria moleca, e enfiar a bola na rede numa explosão de beleza. Por isso, não me furto de curiar os jogos da seleção brasileira. Ainda que eu saiba que tudo por ali é interesse e mercadoria, vez ou outra, como é comum, algo escapa. Ontem, na final olímpica lá estava eu, a postos, esperando por alguma beleza, dessas que rompem a lógica capitalista do futebol-negócio.
Foi um jogo até bom, bem disputado. Um belo gol de falta do Neymar. Mas, salvou o ouro aquele que é o esquecido, o que fica sob as traves e ao qual é imputada a dor da derrota, quando as bolas malévolas passam pelo risco humano que fica no meio do gol.
No ouro olímpico de ontem, a vitória veio pela ação segura de um garoto lá do Acre, dos fundões do Brasil: Weverton da Silva, que entrou no time por conta da contusão do titular.
A vida e suas surpresas. Valeu, gurizinho... Foi bonito... E ainda que os jornais estampem as fotos do Neymar - que é mercadoria com melhor preço - a gente te saúda...