quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Vitória dos TAEs da UFSC






 “Cada vez que eu dou um passo, o mundo sai do lugar”... A frase do compositor pernambucano Siba expressa muito bem a luta social: no mundo dos trabalhadores nada se conquista sozinho. Tudo é um longo processo de construção que implica muita gente, cada um dando um passo e movendo o mundo. Ontem, na UFSC, os TAEs garantiram uma importante vitória depois de décadas de batalhas, com avanços e retrocessos. Foi finalmente aprovado o Controle Social e a flexibilização dos horários. A decisão do Conselho Universitário amalgamou uma longa caminhada de luta que só a organização coletiva dos trabalhadores foi capaz de dar conta. 

Quando os órgãos de controle iniciaram uma campanha para obrigar a instalação de relógio ponto na universidade os trabalhadores começaram todo um processo de construção de alternativa visando mostrar que uma universidade não é uma fábrica de salsicha. Ela se move em terreno imaterial, o trabalho envolve inúmeras funções que exigem processos diferenciados. Não se tratava de fugir do ponto, mas de deixar claro que o ponto não era a melhor opção para o controle público do trabalhador público. 

Como sempre acontece, buscando o mais fácil, os dirigentes da época preferiram atender a indicação da CGU e do Ministério Público e chegaram até a comprar os relógios. Mas, a força da luta dos trabalhadores e, principalmente, o extraordinário trabalho da categoria na proposição de alternativa, mudou o curso do rio. Depois de muito debate coletivo os TAEs conseguiram aprovar a criação de um grupo de estudo, o “Reorganiza”, que iria levantar a situação dos setores e apontar outro jeito de prestar contas à sociedade sobre horário de trabalho. Foram longos meses de trabalho, debates, conflitos, até que tudo ficou pronto. Consolidava ali a proposta das 30 horas e do Controle Social, uma maneira de ampliar o atendimento na UFSC e de garantir qualidade de vida aos trabalhadores. Mas, quando chegou a hora de aprovar o relatório, a então reitora Roselane Neckel decidiu não levar adiante a proposta.

Os TAEs realizaram até uma greve local específica que, desgraçadamente acabou por conta da direção do sindicato que trouxe os aposentados para uma assembleia de desmobilização.  

Apesar desta triste derrota a luta não parou e nos anos seguintes os trabalhadores continuaram suas mobilizações. A universidade foi mudando e as propostas do Reorganiza também precisaram ser revistas. A luta pelas 30 horas seguiu, mas também apareceram novas formulações, como o teletrabalho e a flexibilização, que seguiam as novas tendências pós-pandêmicas. Alguns projetos pilotos foram criados e ali também foram dados importantes passos de transformação. Quando o reitor Irineu Manuel de Souza se elegeu, levava junto também a promessa de oficializar estas práticas que já se expressavam em vários espaços da UFSC.  

A discussão ontem no Conselho Universitário foi mais um passo nesta longa batalha dos trabalhadores técnico-administrativos que, desde sempre, entendem serem eles os mais qualificados para apresentar propostas sobre suas vidas laborais. Apesar de haver uma “tradição” de que são os professores os sábios, na UFSC os TAEs já mostraram que são capazes de atuar ombro a ombro na construção da universidade. 

Assim que, mais uma vez, com a força da luta coletiva, com um sindicato forte, com capacidade de convocatória, os trabalhadores acorreram em grande número à reunião do CUn, dispostos a arrancar a vitória com a força de seus argumentos e sua mobilização. Desta vez, as conquistas vieram. Foi bonito! 

É certo que as batalhas não acabam aqui nesta vitória que é dos TAEs e que é também da administração do Irineu, que cumpriu sua promessa. Com mudanças estruturais na forma-trabalho outros novos desafios certamente aparecerão e, mais uma vez, os trabalhadores terão de encontrar caminhos. Novos passos, novas mudanças de mundo. 

Para a nova geração que ontem lotou o auditório da reitoria fica essa deliciosa sensação de vitória. Mas, sempre é bom deixar registrado que ela não veio por conta do hoje. Ela é fruto de uma fieira de gente que lutou, que quase foi demitido (como o Daniel), que foi perseguido (como a Juliane), que ficou doente, que precisou se afastar, enfim, companheiros e companheiras, com nome e sobrenome, que pavimentaram essa conquista. 

O sindicato foi gigante. E mostra que ainda é por esta via que a organização se faz. E os trabalhadores de hoje fizeram sua parte, garantindo essa importante vitória para todos nós.

Um viva aos os trabalhadores e trabalhadoras!  Ontem o mundo saiu do lugar...