quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A Globo se protege


Tem certos assuntos que dão uma preguiça. Um deles, pelo menos para mim, é a rede Globo. Empresa nascida no período militar, abençoada pela Time Life, veio para criar a idéia de um “estado nacional”, sob o ponto de vista dos militares, é claro. Depois, ao longo da sua vida como empresa, sempre de braços dados com o poder. Não importa qual seja. E, nesses anos todos, o jornalismo que pratica é o que interessa aos donos do poder. Ou seja, no mais das vezes, nem jornalismo é. Propaganda, como bem diz Noam Chomsky. É certo que, vez ou outra, um determinado repórter escapa dessa lógica e consegue produzir jornalismo de qualidade, mas é raro. O que também às vezes ocorre é que, como ensinou Adelmo Genro, alguns fatos por si mesmo são tão eloqüentes que transcendem qualquer possibilidade de manipulação. Mas, o que é certo é que o jornalismo global é porta-voz do poder. Não se importa com a vida das gentes, essa gente real, que luta e protesta.

Assim, não pode causar espanto que existam por aí afora pessoas que sintam vontade de repudiar com mais veemência essa prática nefasta de mau jornalismo. Há os que fazem análises ácidas, mas se comportam de forma respeitosa. Há os que escracham, os que xingam, os que são bem deselegantes. Mas há também os que chutam o balde mesmo. Talvez porque tenham aprendido que no Brasil tentar fazer as coisas “por dentro da ordem” não dá muito resultado. Por isso, por aí andam esses que fazem aparições nos momentos em que os repórteres globais estão ao vivo.

Outro dia acabaram derrubando uma repórter e o caso virou notícia nacional através das redes sociais. Enfastiada, acabei lendo bastante coisa que saiu e não me surpreendeu que a maioria dos comentários fosse de repúdio aos manifestantes. Alguns chegaram a dizer que era um ataque ao jornalismo. Bueno, ainda com preguiça, resolvi entrar no assunto.

Lembrei de uma campanha salarial que fizemos em Santa Catarina na qual se desencadeou a “operação papagaio de pirata”. Nela, alguns colegas se postavam atrás dos repórteres da RBS que entrassem ao vivo, protestando, com cartazes, sobre os baixos salários no estado. Foi um momento histórico da luta dos jornalistas em Santa Catarina, até hoje lembrado com orgulho. Não era um ataque ao “jornalismo”, mas um ousado e criativo protesto contra a rede que mais explorava jornalistas naqueles dias. E não foram poucos os que condenaram a eficaz forma de luta dos jornalistas, alguns apelando para o que chamavam de “desrespeito aos colegas”. Ora, não era. Pelo contrário. Era amor pelos companheiros explorados.

Assim, vejo esses ataques que andam acontecendo junto aos repórteres da Globo como um saudável protesto contra os péssimo serviços da emissora. E, finalmente, um protesto que se pode ver, justamente pela radicalidade do grupo. Não os comparo com vândalos ou baderneiros. Devem ser criaturas que querem ser escutadas e encontraram nessa forma a mais eficaz. E vejo que tem dado certo.

Talvez isso leve os big boss da Globo a pensar um pouco sobre o que andam fazendo. Que tipo de jornalismo é esse que, num país democrático, precisa de segurança para se fazer? Não seria isso um sintoma claro de que algo está podre no reino da platinada? Perguntas que qualquer profissional sério se faria. Mas, qual! A primeira resposta da Globo foi, pasmem, demitir os trabalhadores que faziam a segurança da equipe. E a segunda atitude foi anunciar que agora os repórteres que entrarem ao vivo serão cercados por um aparato de proteção contra vândalos. Interessante isso! Mais uma trincheira impedindo a verdade de entrar.

Eu, aqui da periferia da periferia, no sul do sul, não tenho dúvidas. Esse povo aí não está agredindo as pessoas, nem o jornalismo. Estão protestando contra a mentira, a manipulação e ao descaso com a vida real. E quer saber? Gosto disso!


De PT, lutas e Lula...

Eu sou filha das CEBS, não posso negar. Foi com os padres vermelhos que adentrei nesse mundo da luta popular. Através deles conheci o PT. Era repórter em Caxias do Sul em 1983 e já ajudava na campanha da então candidata pelo partido naquela cidade, a Geci Prates, uma mulher valente como poucas. Naqueles dias ela era do Sindicato dos Gráficos e enfrentava a conservadora cidade criando o PT e a CUT. Era uma guerreira. Eu trabalhava na RBS e não perdia oportunidade de dar espaço para a Geci. Lembro com carinho do seu riso e da sua fortaleza. Aprendi muito com ela. Desde então, sempre estive nas campanhas petistas e acreditei que era possível construir uma proposta de poder para o país. Desde aí, que em 1989 estive de cabeça na campanha de Lula para presidente.

Naqueles dias eu já morava em Florianópolis e lembro que montávamos bazares na Esquina Democrática a vender botons e outros materiais de campanha. Era um frisson e éramos um grupo bonito de pessoas que sonhavam com um Brasil diferente.

Mas, o tempo foi passando e as coisas mudando. Inclusive o PT. Quando Lula finalmente chegou à presidência em 2003 já não era mais com aquele projeto pensado nos anos 80. Ainda assim, votei nele, embora já estivesse madura o suficiente para saber que seu governo não passaria de algumas reformas. Mas, o que veio foi “mais pior”, como diria minha avó. Poucos meses depois de assumir o governo Lula impôs uma reforma da Previdência, uma reforma que tirava direitos. Foi um furdunço, porque a gente reagiu na hora. Não aceitaríamos. Naqueles dias eu estava na direção do Sindicato dos trabalhadores da UFSC. E iniciamos nossa luta contra a reforma do Lula.

Foi coisa difícil de fazer porque todos os amigos ainda acreditavam que o governo iria fazer coisas boas. Nossos velhos companheiros nos viravam a cara, nos xingavam e acusavam de fazermos o “jogo da direita”. E a gente permaneceu firme na crítica. Recusávamos a ficar cegos diante das evidências. E a reforma da previdência passou, assim como a reforma sindical, as privatizações, os transgênicos, as políticas compensatórias, os fundos de pensão, a previdência privada e tantas outras coisas horrorosas, antes tão combatidas. O movimento sindical foi se domesticando, parte do movimento popular também. E parecia que já mais ninguém podia ver que o rei estava nu.

Eu, que nunca havia endeusado o Lula, tampouco sofri com a guinada que ele deu na direção da elite predadora deste país. “Nunca antes os bancos ganharam tanto como no meu governo”, ele disse, com orgulho. E é verdade. Apenas entendi que ali estava um político que, tendo todas as condições de avançar (com a aprovação popular que tinha) preferiu ajoelhar diante do capital. Isso tampouco é novidade. Raros são os que conseguem fugir da sedução da mosca azul.
Assim, tenho toda a convicção que a história - o implacável tempo que passa – haverá de mostrar com mais claridão o que significou o governo Lula para o movimento social e sindical desse país.

Tenho lido coisas horríveis sobre a doença dele. Como ouvi da do Hugo Chávez, quando admitiu que tinha câncer. Tampouco me surpreende. Sobrevive, forte, uma direita insaciável, sempre arreganhando os dentes, querendo mais do que já tem. E ninguém é poupado. Nada vou falar sobre isso, pois as dores humanas nos alcançam a todos. Lula agora vive as suas, como qualquer mortal. Aonde vai se tratar não é o ponto. Posso, e devo, falar do político Lula. E esse, na minha insignificante opinião, perdeu grande chance de mudar a história do Brasil.

Olho para mim no espelho e nunca me envergonho do passado, de filha das CEBs e da militante petista que fui. Aprendi muito na caminhada. E uma certeza me pulsa: quem mudou não fui eu! Caminhando sigo, à esquerda!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Minha alma caipira


Desde pequena minha vida foi embalada pela viola caipira. Coisa inusitada, já que morava no interior do Rio Grande. É que o meu pai tinha um profundo amor por essa cultura do homem do interior, e tanto que criou um personagem na rádio Fronteira do Sul, onde trabalhava. Era o Nhô Zé, um caipira que reunia histórias e causos da vida do campo, mescla de gaudério e tropeiro. E foi com ele que aprendi a amar esse som que toca a alma da gente e nos remete ao interior de nós mesmos. A viola, a toada, o repente, a catira, o cateretê, ritmos que brotam do mais profundo sentimento das gentes.


Um desses mestres da música caipira que eu aprendi a amar é Adauto Santos. Cantor, compositor, violonista e violeiro dos bons. Mesclava a MPB com a música caipira e era capaz de contar lindas histórias como a que narra na canção “Triste Berrante”, um hino dos boiadeiros. Um lamento contra o desenvolvimento sem coração!...