sexta-feira, 4 de março de 2022

O que encanta o popular


Eu tenho sempre uma imensa curiosidade por entender o que encanta o popular, por isso estou sistematicamente vasculhando aquilo que a massa curte. Impressiona-me, por exemplo, que alguns artistas consigam levar milhares de pessoas nos seus shows. Fico pensando: mas, por quê? Luan Santana é um. Não entendo. As letras são horríveis, a música não tem ritmo, é um negócio incognoscível pra mim. Também não gostava da Marilia Mendonça. Tá, entendo o lance da indústria cultural e do bombardeio que as gravadoras fazem no rádio e nas plataformas. Mas não pode ser só isso. 

Por outro lado vejo figuras como o Orlandinho, e acho muito engraçado. Ao vê-lo em suas dancinhas estranhas, me divirto mesmo e gosto de ver os três fazendo um matuto/moderno descolado. Gosto de muitas músicas da Anitta e até acho que não precisava ela usar tanto a bunda. Tento entender esse lance de bunda, tento mesmo. Sei que é parte constitutiva do imaginário masculino brasileiro e sei que tem a ver também com esse lance de “meu corpo, minhas regras”, mas acho que fica tudo meio misturado. Também percebo que essa coisa da conotação sexual nas músicas sempre houve, embora agora a coisa esteja menos sutil, mais crua mesmo. Vejam a letra da Malvada, cantada pelo Zé Felipe. A música tem três compositores e basicamente só diz que vai ter socadão, sentadinha e rebolada. É a realidade nua e crua do “sexo selvagem” sem qualquer  romantismo. Creio que isso diz muito sobre o nosso tempo, como também diz muito da libido de gente jovem. Por isso vasculho, pesquiso, conheço. 

Agora encontrei o Xamã, um raper carioca que tem a música mais tocada hoje no Brasil. A mais ouvida. Milhões de vezes em todas as plataformas. O tema igualmente é bunda gostosa, mas também é a realidade do trabalhador comum, o celular sem bateria, a passagem do busão, a malandragem, a tesão. Formas diversas de dizer sentimentos e sensações. 

Acho meio blasê algumas pessoas dizerem que não conhecem esse ou aquele que está bombando na cabeça de milhares. Fui criada ouvindo ópera, sertanejo e música cigana, Lupicínio e Agnaldo Timóteo, Leni Andrade, Miguel Aceves Mejia e Jorge Ben. Depois, Elvis, Rick Wakeman, Paulo Sérgio, Fernando Mendes, Vila Lobos, Ovelha, Beto Guedes. O cabeça e o popular, lado a lado. Ora gosto mais de um, ora de outro. E sinto que não é possível desconhecer aqueles que conseguem – por uma coisa ou outra – cair no gosto de tantos. 

Sei lá, divagando... e ouvindo o Malvadão...

O Adelmo chegou


A internet e suas surpresas. Numa dessas coisas das redes sociais que são inexplicáveis, apareceu na minha linha um grupo de Artistas Plásticos do Brasil. Entrei, afinal, gosto de arte e vi que tinha muito artista popular. Aí me deparei com um cara, o  Claudio Junior Aprendiz, lá do Recife, que fazia bonequinhos de filósofos e outros pensadores. Bah, achei incrível o trabalho dele. Então, como sou apaixonada por bonequinhos, entrei em contato e perguntei se ele faria um bonequinho do Adelmo Genro Filho, para eu colocar no altar dos meus afetos... Ele não conhecia o Adelmo, mas topou. 

Hoje, chegou pelo correio o trabalho do Cláudio. Ai, meu deus. Esperado por mais de dois meses. Pensa numa alegria? O carteiro não entendeu a gritaria, mas sacou que era algo muito precioso o que vinha naquele pacote postado desde o distante Pernambuco.

Pois aí está o meu Adelmo, com o livro "Segredo da Pirâmide" numa das mãos e uma caneta na outra. Esse homem incrível que ilumina minha vida e meu ofício de jornalista. Esse teórico gaúcho que criou a teoria marxista do jornalismo e mudou para sempre a maneira de a gente fazer o jornalismo. Esse homem fantástico que nunca vi e sempre amei. 

Agora, ele vai fazer parte do altar dos meus afetos, onde estão meus outros amores, e sempre vou poder reverenciá-lo com bebidas e comidas, como deve ser. Porque existem mortos que nunca morrem e ele é um. 

Obrigada Claudio, pelas tuas mãos mágicas, capazes de recriar em miniatura a imagem dos que amamos... lindimais... E, não bastasse o próprio Adelmo ainda veio uma flor e um bilhetinho escrito à mão. Há humanos que valem a pena, como tu rapaz... que bom...  que dia feliz... 

O Adelmo, que já vivia em mim, agora é também presença. Não caibo em mim de tanta alegria.

***

Contato com o artista: https://www.facebook.com/claudio.junior.9047