sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Vá para casa ou preso!


Conhecida como uma das capitais europeias mais descoladas e abertas do mundo, Londres vive seu momento “treva” a partir de uma campanha realizada pelo Ministério do Interior britânico. Dispostas a se livrar dos indesejáveis imigrantes, as autoridades criaram uma campanha que tem como lema uma violenta ameaça: “Vá para casa ou enfrente a prisão”. Assim, desde há semanas circulam pelos bairros londrinos várias camionetas com grandes cartazes contendo essa advertência, com o “singelo” discurso de ajuda aos que estão em situação ilegal. A proposta das autoridades é amedrontar os imigrantes com a ameaça de prisão e fazer com que eles se apresentem para uma deportação “sem traumas”.

O tema virou assunto nos jornais e mesmo os liberais estão de acordo de que esta é uma campanha estúpida e ofensiva.  Até Nigel Farage, líder do Partido da Independência, que defende a ideia de que é preciso frear a imigração e fechar as portas à União Europeia declarou que a proposta da campanha é repugnante e geradora de medo.

Ainda assim, passadas mais de duas semanas, as camionetas seguem rodando, visando “limpar” as ruas daqueles que chegam a Grã Bretanha para buscar vida melhor. Entre os “indesejáveis” estão principalmente os habitantes de antigas colônias inglesas na África e Ásia que, de uma forma ou de outra, estabeleceram laços com a metrópole. Mas, o recado é claro: os britânicos podem invadir as terras, roubar as riquezas e tudo mais. Mas os povos invadidos não podem se arvorar a querer viver em Londres ou outras cidades britânicas. Para esses resta o que se vê: ameaças, prisão e deportação.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Uma mudança necessária : 30 horas


A batalha pelas 30 horas na UFSC e em todas as universidades do Brasil não é uma novidade para os trabalhadores. Desde há anos que os técnico-administrativos incorporaram na sua pauta de luta a ideia de redução de jornada, uma luta mundial. Todos os avanços tecnológicos criados pelo homem permitem essa redução e não há argumento sólido capaz de sustentar que uma pessoa precise ficar oito horas no seu local de trabalho para cumprir suas tarefas. Só mesmo a ganância e a superexploração podem servir de motivo para isso. No caso do serviço público, onde em última instância o patrão é o governo, apenas a eterna submissão ao capital e ao modelo de dependência é o que impede de garantir essa redução de jornada aos trabalhadores.

Ainda assim, a luta tem sido grande. Ora mais forte, ora menos, mas constante. Tanto que o governo teve de admitir, através de um decreto lançado em 2003 (decreto 4.826), que em caso de os setores permanecerem abertos por 12 horas, o turno de seis horas estaria garantido. É lei. Não há mais o que discutir. Por outro lado, no caso das universidades, imperam os sofismas. Boa parte dos reitores insiste que a interpretação da lei não é tão simples assim e admite liberar os turnos de seis horas apenas para setores como os do Hospital Universitário, argumentando que setores administrativos não estariam enquadrados no decreto. Mas, para uma pessoa de mediana inteligência, a lei se mostra muito clara. Se o setor abriu 12 horas, turno de seis.

A universidade é uma instituição que atua em três períodos do dia: manhã, tarde e noite. Logo, todos os setores são passíveis de fazer turnos de seis horas, desde que mantenham 12 horas de atendimento. Para os usuários, essa opção seria absolutamente necessária. Quem já não deu com a cara na porta quando foi buscar um documento no horário do almoço? Pois a universidade, oferecendo os turnos de seis horas, manteria os setores abertos durante todo o dia e também à noite, quando muitos estudantes que trabalham poderiam resolver suas questões.

Mas, o que é uma reivindicação histórica dos trabalhadores de todo mundo, enfrenta barreiras gigantescas na universidade. Na Federal de Santa Catarina muitos são os motivos que levam a uma parcela significava dos trabalhadores a não querer essa redução para seis horas.

Privilégios – uma herança maldita

A UFSC nasceu em plena ditadura militar e desde então seus dirigentes tem consolidado uma forma de atuar que beira ao conhecido coronelismo, típico das regiões rurais. Ou seja: o dirigente assume as funções de “pai”, auxiliando os trabalhadores em questões pessoais e exigindo deles lealdade no local de trabalho. Essa lealdade se concretiza no apoio e no voto que tem garantido a manutenção no poder de praticamente o mesmo grupo político ao longo de quase 60 anos de existência. Os trabalhadores agem no cálculo, assumindo a servidão voluntária. São leais aos chefes e, com isso, garantem alguns privilégios.
Uma dessas moedas de troca é a diferenciação no horário de trabalho. Um número expressivo de trabalhadores já realiza um único turno de trabalho, geralmente atuando das oito ao meio dia ou das duas às seis. Muitos desses trabalhadores acabam sendo radicalmente contra a proposta das seis horas, pois, com isso, teriam de trabalhar duas horas a mais do que já fazem hoje. Essa proposta também esbarra nas chefias. Afinal, se todos os trabalhadores passassem a fazer seis horas, qual seria a moeda de troca que poderiam usar? Perderiam o controle sobre os “favores” que prestam e, com isso, já não teriam como garantir a lealdade.

Não é sem razão que o trabalho do grupo Reoganiza, criado na última greve dos trabalhadores, em 2012, encontre tanto ranço e barreira. A proposta, tirada em assembleia geral, garantiu que fosse criada uma comissão, envolvendo técnicos e representantes da gestão, para fazer um estudo do redimensionamento da instituição. Na prática, era conhecer a situação das vagas nos locais de trabalho e observar se havia a possibilidade de aplicação das seis horas, com dois turnos entre os trabalhadores. Para os técnicos-administrativos a proposta do Reoganiza era clara: mostrar que a universidade pode fazer as tão esperadas 30 horas. Mas, tanto para a gestão quanto para os que temem a perda do controle sobre os trabalhadores, essa não é uma questão fechada. Terminado o relatório, a grande batalha pelas 30 horas ainda nem começou.

30 horas muda a organização da vida na universidade

Se para o grupo que administrou a UFSC por décadas – com um único respiro em 1993 -  as 30 horas elimina uma boa moeda de troca que garante a lealdade de grande número de trabalhadores, para a atual gestão (que não faz parte do velho conservadorismo), essa proposta não diz coisa alguma. Nota-se um discurso cuidadoso e muito relutante. Talvez porque na medida em que se instale o processo das 30 horas, aconteça também grande resistência por parte dos trabalhadores já citados, que hoje cumprem apenas quatro horas. Nada garante que isso não venha a ser um entrave para o andamento dos trabalhos na UFSC.

É fato que a aceitação dos turnos de seis horas trará algumas mudanças importantes, e uma delas é uma nova lógica administrativa, a qual também enfrentará muita resistência. Os trabalhadores teriam de reaprender os processos, uma vez que o colega do turno seguinte precisaria dominar o serviço do que o antecedeu. Afinal, não se admitiria que um determinado serviço só pudesse ser prestado num dos turnos. Isso significaria a necessidade também de um esforço grande de capacitação. A considerar a lentidão com que os trabalhadores acostumados a pequenos acordos e privilégios têm de consolidar mudanças, não será um trabalho fácil para ninguém. Nesse primeiro ano de mandato da gestão Roselane/Lúcia não tem sido difícil perceber os entraves administrativos existentes, e isso que ainda nem aconteceu qualquer mudança. 

Há uma parcela de trabalhadores que perderam cargos e privilégios que realiza sistemática oposição. Também não são poucas as reclamações de trabalhadores que foram removidos de seus velhos locais de trabalho de maneira forçada, sem diálogo, e que se tornaram críticos ferozes. E, nesse universo, a administração tem tido dificuldades em lidar com essas questões, seja por inexperiência ou por arrogância. O fato é que há muita insatisfação. Assim, mudar os processos administrativos com as 30 horas pode aprofundar ainda mais os descontentamentos. A pergunta que fica, então, é: haverá a administração de enfrentar isso? Saberá atuar em consequência, garantindo a participação dialogada, a capacitação? Essa é uma forte dúvida.

Também é importante perceber que mesmo aqueles trabalhadores que hoje trabalham oito horas e esperam pelo turno de seis, haverão de encontrar dificuldades na transição. Não será coisa fácil. Como já foi dito, cada trabalhador precisará passar por um longo processo de readaptação, uma vez que precisará atuar em sintonia com o colega do turno seguinte. E isso não poderá ser feito sem muito trabalho e muita disposição de mudança. Os mais novos, que chegaram nos últimos concursos talvez estejam mais propensos a essas mudanças, porque ainda não estão enraizados em velhos hábitos, mas é certo que a mudança será lenta e precisará de muita conversa, democracia, compreensão e disponibilidade de mudança. Tanto para quem administra como para quem cumpre o trabalho. Talvez por isso a ideia das 30 horas caminhe tão lentamente.  

O futuro

O trabalho desenvolvido pelo grupo Reorganiza foi um bom esforço de diagnóstico da situação funcional da UFSC.  Agora tudo está no papel. As condições para as 30 horas já foram apresentadas. É possível fazer. Resta a decisão política. E essa não virá facilmente. Muitos são os interesses em jogo. Há um grupo conservador que não quer perder sua moeda de troca. Há grupos que simplesmente não querem ver a atual gestão bancar essa proposta. E existem os limites da própria gestão que não parece segura em garantir a transformação, seja porque vai encontrar muita oposição, seja porque não sabe mesmo onde isso poderá dar.

Mas, ainda assim, o certo é que essa mudança precisa ser feita e já nem é mais uma questão política. Passa a ser uma necessidade de adaptação aos novos tempos. Para os trabalhadores pode parecer um grande desafio, mas, certamente eles são os que mais estão preparados para isso. É fato que mesmo entre os técnico-administrativos haverá oposição e essa será uma longa batalha. Só que é uma realidade que precisa ser enfrentada. Não há mais como voltar atrás. Todos os dados apontam que as 30 horas podem ser implantadas. Então, o esforço para isso deverá ser, primeiro, individual, acompanhado da discussão e aprofundamento coletivo. Juntos, os trabalhadores poderão dar esse passo fundamental para melhorar a qualidade de vida e garantir atendimento aos usuários.

Agora, à administração central cabem duas opções: ou assume e realiza a mudança, com todos os riscos que isso pode ter, ou capitula diante do conservadorismo, do medo e da inércia, perdendo a chance de modernizar a universidade. Os caminhos estão abertos e foram pavimentados pela luta dos trabalhadores. O trabalho do Reorganiza consolidou ainda mais essa possibilidade. Aos trabalhadores cabe seguir na batalha pelas 30 horas, garantindo um passo a mais no processo de trabalho. As 30 horas são uma exigência do tempo presente que oferece avanços tecnológicos significativos. Nada revolucionário, apenas uma reforma dentro do sistema burguês. Um pequeno avanço que já não é mais possível protelar.  

domingo, 4 de agosto de 2013

Semana Paulo Freire


Semana Paulo Freire, de 19 a 21 de agosto, na UFSC,  se propõe a pensar a pedagogia latino-americana para a transformação social. Muitas conversas, muitas ideias, muitas propostas. Vale a pena conferir. 

O cubano Carlos Rodriguez Almaguer faz a abertura, falando sobre o pensamento de José Martí. Telmo Adams, da Unisinos, fala sobre Paulo Freire. Elaine Tavares fala sobre Simón Rodriguez.