quarta-feira, 1 de agosto de 2018

As aventuras do pai


Quando é dia de vento suli, valamideuzi. Bate uma zica e ele quer sair. Sozinho. Se eu digo que vou junto, arrenega demais, fica brabo, e volta. Não posso deixar ele ir só, pois se perde. Já me aprontou uma assim. Mas, é preciso dar alguma autonomia. Hoje, encrencou, se foi em direção ao portão e saiu. Deixei que ele fosse e fui seguindo de longe, me escondendo atrás dos carros ou postes.  Ele, que não é bobo, vez em quando olha pra trás, pra ver se estou seguindo. 

Minha técnica é deixar ele seguir uma quadra, quando ele dobra, eu corro. Hoje, confundiu o caminho do mercado e dobrou para o lado errado. Fui seguindo, e ele se mandando por umas ruas bem cabulosas, já indo em direção ao mato. Deixei que ele fosse até bem longe. Vi que estava confuso, não sabia se seguia ou voltava. Creio que percebeu que o caminho estava errado.  Fui chegando devagar pra tentar trazê-lo de volta. 

- Mas, olha, tu por aqui?
- É. 
- Acho que me perdi. 
- Não tem problema, vamos juntos. 

Ele me deu o braço, bem tranquilo, e seguiu de volta pra casa com seu passinho ligeiro. 


segunda-feira, 30 de julho de 2018

Artistas na defesa do Edital Elisabete Anderle 2018 e pela transparência na política pública.

A cantora Jana Gularte é uma das lideranças desse movimento - Foto: Luiza Filippo


Artistas da cidade de Florianópolis, trabalhadores da cultura e comunidade que ama e vive a arte estão em luta por mais recursos e também por transparência na liberação das verbas dos editais que financiam a arte e a cultura, que já são poucos e bem mal distribuídos. No último sábado, 28 de julho, aconteceu um ato público, no Espaço Arco Íris, no qual os artistas se reuniram para debater as ações do Governo do Estado e da Fundação Catarinense de Cultura que, através de contratações diretas, sem chamamento público, e sem qualquer consulta de relevância junto ao Conselho de Cultura, colocaram em risco para esse ano o Edital mais importante para a promoção da cultura no Estado, o “Elisabete Anderle”.

Segundo os organizadores, “a lei obriga o governo garantir o Anderle, então como pode ficar gastando o dinheiro em outros eventos não previstos em lei se não garante a obrigação legal? Isso é crime de responsabilidade e causa dano ao setor cultural e toda a sociedade pela ausência de suas consequências diretas em economia, turismo e educação”.

Conforme informações dos artistas que estão no comando desses protestos, em 2017 o Edital Elisabete Anderle beneficiou apenas 170 projetos culturais entre 1800 projetos inscritos, o que significa menos de 10% de toda demanda do Estado. Agora, em 2018 o edital está sob risco de não sair, apesar de ser uma lei de obrigatoriedade anual. 

A denúncia é de que o fundo que permite o cumprimento da lei, o Funcultural, está sendo esvaziado por atividades paralelas que não estão previstas em lei. 

“O Governo Estadual esvazia o Funcultural em dois milhões de reais em contratação de recitais da Associação Filarmônica Camerata (as três primeiras cidades confirmadas que receberão a contratada são governadas pelo mesmo partido da gestão estadual atual) e esvazia também com o valor de 1,5 milhão de reais a ser liberado para o Festival de Dança de Joinville, uma suplementação que inclusive colocou em constrangimento o Conselho Estadual de Cultura por ter que politicamente se manifestar a favor da concessão da verba com a ressalva de colocar em risco o Edital Elisabete Anderle, sem nada poder fazer para impedir”.

A FCC, em nota oficial, admitiu já ter 50% do valor necessário para poder lançar o Edital com o mesmo valor do ano anterior, de 5,6 milhões de reais. Observa-se que, somados, os valores dessas duas contratações citadas acima já seriam suficientes para suplementar a totalidade do Anderle.

Para os artistas que estão engajados nessa luta tudo evidencia que a falta de provisão é de responsabilidade da gestão e poderia então ser considerado um crime o esvaziamento do Funcultural, já que não garante a sua obrigação principal.

A batalha que os trabalhadores da cultura do estado de Santa Catarina travam é para que o governo do Estado defina e garanta o provisionamento imediato do Edital Elisabete Anderle 2018 e que providencie o seu imediato lançamento. 

“Lembramos que em valores atualizados o Edital deveria ser no valor de 13 milhões de reais, o que representaria ainda muito menos que os 3% previstos legalmente de repasses ao Funcultural, visto que atualmente os valores repassados correspondem a 0,01%, um zero à esquerda e um zero à direita do que deveria de fato ser repassado das verbas públicas ao setor cultural. O não cumprimento do lançamento do Edital Elisabete Anderle acarreta em pena de responsabilidade administrativa da gestão executiva estadual”. 

É importante ressaltar que os artistas que estão nessa luta não estão fazendo qualquer juízo de valor sobre a importância do Festival de Dança de Joinville ou da Camerata. O que questionam é o fato de a quase totalidade dos recursos ser investida em apenas dois grandes projetos, deixando de fora uma quantidade gigante de pequenos projetos que, juntos, podem fazer ecoar a cultura catarinense em todo o estado.

Num país que já relega a cultura , a opção por financiar apenas megaeventos impede ainda mais que a cultura chegue aos confins das comunidades, elitizando ainda mais a arte.