sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Banco Mundial e a Internet



Relatório do Banco Mundial - o banco que adora dar pitaco nas políticas públicas dos países subdesenvolvidos - divulgado essa semana dá conta das seguintes informações:

1  - A internet não democratiza a informação
2 - As novas tecnologia não melhoraram o acesso aos serviços públicos
3  - A internet aumentou a desigualdade no mundo
4  - Quem tem educação de qualidade e recursos financeiros consegue aproveitar melhor a internet
5 - A tecnologia é inútil para 20% da população mundial que ainda é analfabeta
6  - No planeta, 60% da população não tem acesso à internet.
7 - A tecnologia emprega entre 3 a 5% da população nos países desenvolvidos, nos subdesenvolvidos emprega 1%.

Com base nisso, o Banco orienta que deve ser feito um esforço de oferecer uma educação que habilite as pessoas para as tecnologias.

Conhecendo a instituição, já se pode imaginar o que isso significa. Programas de educação cada vez mais tecnologizados e emburrecedores. Como se pode perceber pela pesquisa do próprio banco, o problema não parece ser a falta de habilidade, mas sim a falta de condições de acesso. Habilidades se conseguem em cursinhos rápidos, já a possibilidade de estar conectado exige condições econômicas, o que significa a necessidade de uma mudança no modo de organizar a vida.


Como diz o Suricate seboso: valamideuzi!!!

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A racionalidade da má política


Foto: Notícias do Dia


Ao ler a notícia de que o prefeito César Souza e seus secretários decidiram fechar com areia a foz do rio Brás, que deságua no mar de Canasvieras, como a solução para o problema de contaminação por esgoto, aparece um único pensamento: isso é uma irracionalidade. Mas, depois, com mais frieza, observa-se que essa é a única racionalidade que essa gente conhece. Para esse tipo de político, que não tem qualquer ligação afetiva com a cidade, o que precisa é estancar o problema imediato, para evitar a debandada dos turistas. É que a contaminação do mar estava levando vagas de gente para os postos de saúde do bairro, com uma série de problemas de saúde, e logo depois direto para fora da ilha.

Pouco interessa ao  prefeito e seus secretários conhecer a origem do problema, saber desde quando que aquele bairro joga esgoto na praia, ou todo o tipo de agressão que o velho rio vem sofrendo desde há décadas, com toda a especulação imobiliária feita, muitas vezes, sem qualquer planejamento, ao bel prazer da alterações de zoneamento aplicadas pelos vereadores. No final das contas, a culpa da onda de doenças na praia ficou para o Rio Brás. Julgado e punido ele recebeu cargas e cargas de areia, para que não mais chegasse ao mar. E agora, o que fazer com ele? Entubar, desviar, drenar, o quê? A melhor opção, fruto dessa racionalidade cezística, é fazer o maldito desaparecer. E a merda? Ah, a merda, certamente darão um jeito de enterrar.

O drama do rio Brás não é caso inédito na cidade. Vários dos rios da ilha foram virando riscos de esgoto por conta de uma cidade sem planejamento e sem cuidado com a vida. Quem se lembra do velho rio da Bulha enterrado sob a Hercílio Luz, morto sem dó e hoje escondido pelo asfalto? Ou o pobre rio do Noca, no Campeche, ou o rio Rafael? E o Rio Tavares, que ainda se mostra como uma água suja na entrada do bairro, como a pedir socorro diuturnamente? E o rio do Carreirão, que ficava ali onde termina a rua Presidente Coutinho? Tudo destruído em nome do progresso. Com eles a solução foi a mesma. Se enfeavam a cidade com o cheiro podre da merda, a punição era esconder, entubar, tirar do alcance da vista.

Mas, a água que brota nos caminhos naturais sempre encontra um jeito de se livrar. Por isso mesmo que ainda acontecem alagamentos nos mesmos lugares onde antes eram caminhos de rio. A natureza dá jeito de sobreviver em meio ao processo de destruição levado a cabo pelos humanos. Assim, encher de areia a saída do rio do Brás não vai resolver nada. Só um paliativo para os negócios.
Florianópolis é uma ilha, não é um espaço interminável onde podem os seres se aglomerar uns sobre os outros nos prédios bonitos. Há limites para a água, para a luz, para a mobilidade. Há limites, não tem jeito. Não é uma ilha elástica que pode se alargar por conta dos desejos dos empreiteiros. Ela é um espaço "imexível", sem chance de se espraiar. Ou se entende isso ou certamente se destruirá o paraíso.

Para os que ricos, a solução é simples. Se a cidade ficar insuportável eles pegam o avião e se vão para outro lugar. Mas e os que não podem ir? Que farão? Terão de se conformar em viver numa cidade destroçada, ladeada por água, sem que se possa tocá-la. Uma cidade sem água potável, colapsada energeticamente e na qual andar é um sofrimento.

O fato é que muito já foi destruído, por esse e por tantos outros políticos que já passaram pela administração. Também as gentes comuns, os cidadãos da polis, destroem e burlam as regras em nome de seus desejos. A responsabilidade não é só de uma parcela da população. Mas, há algo que não podem esconder. Gente há que estuda, que luta, que propõe soluções sustentáveis e equilibradas ambientalmente. Gente há que sabe que esse é um recanto turístico digno de ser visto por todo o mundo. Mas, isso tem de ser feito de um jeito que não se destrua justamente o que as pessoas vem buscar.   Um exemplo é a proposta do Parque das Três Pontas. Turismo comunitário, sustentável, com menor impacto de predação. Mas, em vez disso, querem colocar na ponta um hotel de 18 andares. Aí, em vez de trabalho para os pescadores, beleza para os turistas e vida para os bichos do mar, teremos quilos e quilos de merda jorrando na beira do mar.

Hoje foi o rio do Brás, ontem já foram tantos outros, destruídos e enterrados. Amanhã será o quê? Seguiremos colocando areia, escondendo a sujeira?

A ilha é uma ilha. Ela está esgotada. Temos algumas opções. Ou a mantemos no oxigênio, numa sobrevida, ou cuidamos dela, para que seja bela e plena. Estou pela segunda opção e nesse desejo caminho com gente que tem respostas técnicas e políticas para que nossa cidade siga sendo um pequeno paraíso.  Que se escutem essas vozes, os chamados eco-chatos, os ambientalistas, os urbanistas, os representantes comunitários do Plano Diretor, os que conhecem e amam a nossa histórica Meiembipe.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Quando morre uma criança



Tamir Rice, 12 anos, foi assassinado pela polícia de Cleveland, Ohio, Estados Unidos, em novembro de 2014, quando brincava com uma arma de plástico num parquinho. Nesse último dezembro as autoridades do estado informaram que nenhum dos policiais seria julgado pelo crime. O líder negro Múmia Abú-Jamal escreveu esse texto quando soube do fato, agora em dezembro de 2015. Um texto que tanto serve para pensar esse assassinato, como o do menino indígena Vítor Pinto.




"Existe algo de devastador na morte – o assassinato – de uma criança.

Quando morre uma criança, a ordem natural se desagarra, as estrelas choram e a terra treme.

Estamos tão acostumados a este sistema que consideramos a morte de uma criança como algo natural, não como resultado do abuso humano.  Os políticos, que são pagos pelos chamados sindicatos de policiais, baixam a cabeça vendo as bolsas de prata e fazem que não enxergam que uma criança foi morta, especialmente se é uma criança negra.

Que instituição criada pelos homens é mais importante, mais valiosa, que uma criança?

Que trabalho?
Que profissão?
Que posição política?
Que estado?

Quando morre uma criança, os adultos não têm o direito de respirar o ar que está ao seu redor.

Quando uma criança morre, os vivos não devem descansar até que não tenha sido eliminado o veneno que se atreveu a causar danos a esse criatura.

Quando uma criança morre, o tempo tenta regressar e busca corrigir tal erro.

Isso é o que deve inspirar os movimentos mundiais, para lutar como jamais se lutou.  

Porque algo detestável se passou diante dos nossos próprios olhos.

Uma criança foi assassinada, e como é um menino negro, nos Estados Unidos da América, sua morte não significa nada".