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sexta-feira, 28 de junho de 2024

Universidades perderam seus HUs

Dr. Wladimir Tadeu / UFF

Quem vive em Florianópolis sabe a importância que o Hospital Universitário tem. Inaugurado em 1980 foi se tornando uma referência de saúde pública em todo o estado, por conta da qualidade de seu pessoal. Os mais importantes professores da UFSC, das mais variadas especialidades da saúde, ali atuavam, e o corpo técnico, formado por trabalhadores públicos, sempre foi considerado de primeira qualidade. Não é sem razão que todas as manhãs podiam ser vistas as ambulâncias de inúmeros municípios de Santa Catarina trazendo pessoas para tratamento ou emergências. Além disso, o HU era um hospital escola. Ali eram formados trabalhadores da saúde em várias especialidades, com milhares de atendimentos por dia. Por isso, dizer HU era dizer qualidade. 

Mas, com o sistemático desmonte do serviço público e o rebaixamento de verbas para a universidade federal, aos poucos o HU também foi sofrendo as consequências. Dificuldades crônicas foram se agravando e começou a se consolidar o discurso de que o grande problema era estar vinculado às verbas da UFSC. A gritaria privatista que vinha crescendo desde o primeiro mandato de Fernando Henrique, encontrou abrigo no coração do primeiro governo de Luís Inácio. A partir daí começou a se gestar a ideia de desvincular os HUs das Universidades, para dar aos hospitais “mais capacidade de gestão”. E foi assim que, no último dia do segundo mandato, Lula encaminhou a proposta da criação da Empresa Brasileira Serviços Hospitalares (EBSERH), um fundação pública, mas de direito privado. Ou seja, toda a lógica de gestão obedece ao privado. A palavra pública é só para garantir que recursos do estado fluam para lá. A mesma velha lógica de assalto ao estado e da entrega do patrimônio público a uma meia dúzia de mercadores.

Para o médico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense, Wladimir Tadeu Baptista Soares, trazido pelo Sintufsc em atividade de greve na UFSC, a Ebserh é verdadeiramente uma aberração administrativa. Não há argumento plausível que justifique sua existência a não ser a completa rendição ao Banco Mundial e à iniciativa privada. Sua criação, em 2010, foi um experimento do braço neoliberal do capital no Brasil. “Se desse certo, poderia ser aplicado em outras áreas”, denuncia. 

Wladimir aponta que no contrato firmado entre a Ebserh e o governo está bem claro, no artigo primeiro, qual a sua função: ser exploradora de atividade econômica. Ora, saúde é atividade econômica? Parece que agora sim. A empresa tem sede em Brasília, ocupando um prédio imenso. “Lá, parecemos estar em Dubai”, diz Wladimir. A Ebserh é uma empresa unipessoal, ou seja, não têm acionistas, não tem assembleias para discutir seu fazer e é totalmente dependente da União. Portanto, é o dinheiro público que viabiliza sua rica existência com uma imensidão de cargos, de salários altíssimos. O professor fluminense afirma que se todos esses recursos fossem para os hospitais, como antes, hoje eles seriam umas joias. Mas, o que se vê é o contrário. Onde a Ebserh tomou os HUs os serviços à população só pioraram, bem como também piorou o ensino. A ideia de público se perde.

Para Wladimir a autonomia universitária foi quebrada com o aceite da Ebserh, pois a universidade perdeu completamente o controle dos hospitais. Inclusive não tem nem mais o controle do ensino visto que é a Ebserh quem contrata os médicos e enfermeiros. Não estão mais lá dentro os professores da UFSC, por exemplo, só os contratados pela empresa.  “Existe uma prova nacional da Ebserh com questões de múltipla escolha. Como avaliar um profissional médico assim? E é esse médico que vai ensinar os estudantes residentes. Perdeu-se também a qualidade do ensino dentro do hospital porque ao fechar enfermarias ou setores como emergências, a Ebserh tira do estudante a possibilidade de aprender o cotidiano da medicina. Quem está ensinando nos hospitais da Ebserh são preceptores escolhidos pela empresa, não são mais professores das universidades”. 

Outro problema gravíssimo é que a Ebserh não sofre o controle social do SUS, portanto pode fazer o que bem entender. E, como uma empresa privada, sua função é gerar lucro, logo, sua meta é não gastar com paciente, daí a lógica de acelerar a alta dos internados para que não gerem prejuízo. “Essa empresa não tem patrimônio algum, tudo é público, ela se apropriou dos HUs, nenhum recurso ali é posto pela Ebserh, tudo vem do estado através do REUF e das verbas do programa Mais Médicos”, diz Wladimir. Ele explica que antes desta aberração, os recursos ficavam vinculados ao MEC que os distribuía às universidades. Agora vai tudo para a Ebserh. 

Outro drama que se expressa nos antigos HUs diz respeito aos trabalhadores. Com a chegada da Ebserh há dois tipos de contratos: os trabalhadores públicos, que já atuavam no HU, e os trabalhadores celetistas, que vivem a lógica privada. E o mais grave. Como são geridos pela CLT estes trabalhadores têm data base e recebem reajuste todos os anos, enquanto que os trabalhadores públicos ficam até 10 anos sem qualquer ganho nos salários. “E o cofre público de onde sai o aumento para o trabalhador Ebserh é o mesmo de onde deveria sair para o trabalhador público. Só que não sai,  e isso gera muito conflito dentro dos hospitais  porque há casos de trabalhadores públicos ganharem menos do que o privado, na mesma função”. 

Wladimir também denuncia que os antigos HUs, agora da Ebserh, também não tem porta aberta para os trabalhadores nem para os estudantes. Ou seja, se um trabalhador ou um médico residente enfartar dentro do HU, será encaminhado para outro hospital. “Vários casos assim já foram levantados. É algo inadmissível”.

O que parece ser um absurdo completo tem uma lógica bastante clara: a proposta embutida nessa forma de gestão dos hospitais é a de destruir o SUS (Sistema Único de Saúde). O governo criou uma empresa para fazer o que as universidades já faziam, e bem, que era administrar os hospitais escola. Agora, a universidade não interfere em mais nada e os reitores que permitiram essa barbaridade são cúmplices do crime. É sabido que o SUS é um dos sistemas de atendimento à saúde mais reconhecidos no mundo. Nele, o atendimento é universal. Pobre, rico, brasileiro ou estrangeiro, qualquer um é atendido sem pagar um centavo. Para o capital isso é aberração. Para a população é vida. 

Wladimir aponta que a proposta do Banco Mundial é ir sufocando o SUS até acabar com ele, criando o que chamam de CUS (Cobertura Universal de Saúde), cuja sigla já diz tudo: fazer merda. Os mercadores da doença querem que o atendimento gratuito fique só para os miseráveis, e que o restante da população pague pelo atendimento. O que fica óbvio é que se o CUS passar, o atendimento aos empobrecidos será de péssima qualidade. Hoje, por atender a todas as faixas econômicas, o SUS é de primeira. 

Enfim, no caso da UFSC, onde a comunidade universitária se expressou em mais de 70% contra a aceitação da Ebserh, a entrada da empresa foi aprovada pelo Conselho Universitário em 2014, numa polêmica reunião levada para dentro das dependências da Polícia Militar pela então reitora Roselane Neckel. Todos os envolvidos, a seu modo, são responsáveis pela decadência do HU, que só piorou depois de ser entregue a Ebserh. Hoje, os trabalhadores do regime RJU (públicos) são considerados intrusos dentro do hospital. 

Segundo Wladimir, ainda há tempo de reverter a situação. Em 2026 as universidades poderão rever os contratos e provar que nada do que foi prometido foi cumprido. Isso dá base para a rescisão do acordo. Mas, claro, isso não pode ser uma decisão isolada de um reitor particular. Tem de ser uma articulação nacional, que envolva também as comunidades. Hoje, o contrato da Ebserh é de adesão, a empresa decide tudo, logo, os HUs estão mortos. O que existem são filiais da Ebserh. O nome "universitário" é só uma grife, para pegar trouxa. Recuperar os HUs exigirá uma luta gigante, mas que precisa ser travada em nome da saúde pública. 

Uma grande tarefa para todos nós. Ou fazemos isso, ou estaremos sendo igualmente cúmplices da morte do SUS. 


segunda-feira, 10 de junho de 2024

A universidade, o governo e a greve dos TAEs



Greve nas universidades nunca foi fácil. Até porque uma universidade não é uma fábrica de salsichas. Quando os trabalhadores param não há um patrão específico perdendo seus lucros. É uma batalha contra um governo de plantão. No geral, os motivos são salariais e isso não é um acaso. Ocorre que os trabalhadores públicos, ao contrário dos que atuam no mundo privado, não têm uma data-base, que é aquele momento obrigatório no qual são recompostas as perdas do ano. Por conta disso o governo vai se fazendo de morto, não recompõe os salários, não repõe a inflação e vai deixando os trabalhadores na lona. Sem a recomposição da inflação o salário vai minguando, perdendo poder de compra. Quando fica insustentável, a única saída é a greve. 

Outro motivo que obriga os trabalhadores a parar o trabalho é a destruição sistemática da universidade, quando o governo - seguindo receitas externas - vai diminuindo as verbas, sucateando, arruinando, arrasando a estrutura e minguando as políticas de permanência. Chega uma hora que fica impossível trabalhar e estudar. Então, os trabalhadores precisam agir em consequência, parando, para que o governo seja provocado a recompor também o orçamento das instituições federais, melhorando assim o ambiente de trabalho e permitindo que mais estudantes possam se manter na universidade. Esse é, portanto, o cenário no qual se movem os trabalhadores e os governos. É como um interminável jogo de força. 

Nesse ano os trabalhadores técnico-administrativos, amargando perdas de 76% desde 2015, tiveram de parar. Iniciaram uma greve para recompor os salários e também para exigir o aumento das verbas de custeio para a universidade, que diminuíram mais de 50% desde 2015 até aqui. São perdas muito significativas na vida do trabalhador e na da universidade. É uma derrocada que impacta muito mais do que os mais de 200 mil TAEs (entre ativos e aposentados), afinal, a universidade caindo aos pedaços interfere também na vida de mais de um milhão e 200 mil alunos que ainda estudam no modo presencial. Pois é esta pauta que move a greve iniciada em março deste ano. 

Agora o movimento chega aos três meses tendo apenas duas mesas de negociação com o governo, nas quais a proposta tem sido a mesma: zero% de reajuste para este ano, mudanças insignificantes no plano de cargos e nenhum aceno para o aumento de verbas para as universidades.  O governo de Luis Inácio já negociou com outras categorias e concedeu aumentos graúdos para algumas delas, mas para os trabalhadores das universidades a regra tem sido: endurecer e não ceder. 

Diante disso há que se compreender duas questões importantes. 

As mudanças ocorridas no desenvolvimento do sistema capitalista têm colocado os países periféricos como o Brasil na condição - cada vez mais fortalecida  - de meros exportadores de matérias primas: grãos, petróleo, carne. Por isso os governos fortalecem tanto o setor do agronegócio bem como o da extração mineral. Os incentivos para esses setores crescem de maneira vertiginosa, enquanto a educação vai perdendo na mesma medida. Para um país que exporta commodities (mercadorias de origem primária) e importa tecnologias, não se faz necessário investir em escolas ou universidades. Por isso um ensino médio voltado ao “empreendedorismo”, e uma universidade cada dia mais sucateada. Oferece-se uma educação meia-boca para capacitar minimamente o trabalhador e deixam-se essas coisas de ciência e pesquisa para os países centrais. Não é sem razão que hoje, no Brasil, o número de estudantes fazendo faculdade no modo on-line, pagando 50 reais de mensalidade, cresce sem parar. Já são mais de três milhões de alunos nessa modalidade, enquanto nas universidades públicas, no ensino regular e presencial são pouco mais de um milhão. Como bem avalia o economista Nildo Ouriques, isso resolve o problema da formação de profissionais e gente minimamente capacitada. A universidade pública, tal como a conhecemos, está ficando desnecessária. 

Com essa decisão política de enxugar as universidades públicas ao máximo, o governo federal vai estrangulando os atuais trabalhadores, visando justamente extinguir a carreira de técnico-administrativo, ideia que vem desde o governo Fernando Henrique. Os sucessivos governos foram extinguindo cargos, terceirizando e tornando esta carreira cada vez menos atrativa. A tal ponto que hoje o que mais se ouve entre os trabalhadores das universidades é a vontade de passar em outro concurso, para uma carreira mais vantajosa. A condição material real tem afugentado os trabalhadores. Só na UFSC há um déficit de mais de 300 que ou se aposentaram ou abandonaram a carreira. E não há reposição destes cargos, o que sobrecarrega os que ficam. 

Agora na greve essa política de extinção dos TAEs fica bem clara. Pela primeira vez não se vê movimentação da base de apoio do governo no sentido de cavar reuniões ou influenciar o presidente para que atenda as demandas dos trabalhadores. Há apoios ritualísticos, mas nenhuma ação concreta por parte de deputados federais e senadores. É certo que alguns têm gritado no deserto, mas são exceções e acabam não tendo muita força. Audiências sobre educação são feitas, mas não há pressão sobre o executivo, que é quem tem a caneta. Por parte do governo de Luís Inácio a intenção é de oferecer o mínimo possível e ainda dividido em dois anos, com zero ajuste nesse ano. Com o agravante de manter o movimento em greve, prejudicando ainda mais a universidade. Nem mesmo os professores, que sempre são os que aparecem para a sociedade como “os trabalhadores” das universidades estão sendo ouvidos. A negociação tem sido dura. 

Neste diapasão o governo vai mantendo a ideia de que a universidade é desnecessária, que os trabalhadores técnico-administrativos precisam ser privatizados e que os professores precisam aceitar os novos tempos. A sociedade, como sempre mal informada pelos sacerdotes do capital (mídia comercial), começa a acreditar que fazer dancinha no tik tok pode ser mais rentável para seus filhos do que queimar pestanas na universidade, e assim, a educação vai perdendo força e importância. 

O mais dramático é que esta universidade que aí está nem chegou a ser a universidade que sonhamos, aquela, necessária, rebelde, que se debruça sobre os problemas nacionais, que avance nas pesquisas estratégicas para o país, que abre caminhos para o fim da dependência. E, mesmo assim, caminha-se para sua destruição.  

O cenário é esse. Para os trabalhadores só resta o caminho da luta. 


sexta-feira, 22 de março de 2024

Os dramas do Restaurante Universitário


O restaurante universitário da UFSC serve cerca de 10 mil refeições por dia. Sua capacidade foi planejada – em 2011 – para cinco mil, o que já complica. Além disso, a manutenção das instalações, que deveria ser frequente e sistemática, foi abandonada nos últimos anos em função da vertiginosa diminuição dos recursos do governo para as universidades. Tudo isso acaba desembocando em relações muito precárias de trabalho. Não é de hoje que os trabalhadores vêm reivindicando melhorias nas instalações, pois além de se preocuparam com suas próprias condições sabem que o usuário também acaba sofrendo. É fato que as coisas no serviço público são mais lentas. Tudo precisa ser licitado e há que ter recursos. Mas, se há planejamento, a coisa flui. Também é fato que a pandemia complicou demais as coisas e que a última gestão perdeu a mão. Só que agora é preciso dar respostas aos problemas ou então o RU vai fechar. 

Nesta quinta-feira os trabalhadores em greve ocuparam o RU justamente para colocar às claras os dramas que se desenrolam para além da aparência. Enquanto as refeições seguem sendo servidas, lá dentro, os trabalhadores vivenciam situações limite, pois, como já foi dito a cozinha foi projetada para cinco mil refeições e prepara dez mil. Todos os dias são manejados e distribuídos mais de uma tonelada de carnes, 400kg de feijão, 500kg de arroz, além das outras preparações do cardápio. O que ninguém sabe é que para amaciar um bife há que ter equipamento em quantidade suficiente e operando bem, assim como a comida quente no balcão precisa de maquinário adequado. 

Para que a comida esteja saudável as condições higiênico-sanitárias precisam estar em dia. Não estão. Há sobrecarga das instalações causando frequentes entupimento das tubulações. Isso gera sujeira no chão e faz com que o esgoto brote, atingindo as áreas de manipulação de alimentos. Vem o mau cheiro e o risco para a saúde dos trabalhadores. Como trabalhar assim? 

Uma boa olhada na cozinha e já se vê que o piso está se desfazendo, porque a manutenção não acontece. A área de carga e descarga amiúde está invadida pelo esgoto porque as tubulações estão entupidas, o que ajuda na proliferação de insetos e roedores. Risco para os trabalhadores e para os usuários. 

Atualmente o RU tem um número bastante grande de trabalhadores terceirizados (mais de 100), visto que alguns cargos importantes para a manutenção da cozinha foram extintos. Ainda assim, restam cargos que são chaves na cadeia de produção do alimento, como é o caso das nutricionistas, só para dar um exemplo. Isso significa que só com terceirizados o RU não pode funcionar. Daí a importância de se pensar o RU como um todo, focando sempre na qualidade do ambiente onde todos esses trabalhadores atuam.

Agora, aproveitando a greve, os trabalhadores do RU paralisaram por um dia para tornar visíveis suas reivindicações, tais como o redimensionamento das redes de esgoto e elétrica, reparos no telhado da área de produção, almoxarifado e vestiários dos funcionários. Reparos para resolver goteiras e infiltrações nos banheiros, vestiários e na área de produção e estoque de alimentos. Manutenção do ar condicionado do refeitório que não tem dado conta nesses dias de intenso calor. Climatização da cozinha, que é extremamente quente por conta dos equipamentos de cocção, e que torna exaustivo ao extremo o trabalho. Climatização do almoxarifado para evitar proliferação de insetos. Manutenção preventiva dos equipamentos. Criação de novos espaços para o preparo e distribuição de alimentos no campus, visando diminuir as imensas filas. Contratação de mais trabalhadores, pois se aumenta o número de refeições o quadro não acompanha gerando sobrecarga.  

Estas são algumas questões que estão na pauta. A principal delas é a garantia de um alimento saudável e de qualidade que está em risco nas atuais condições. Os trabalhadores sabem que o governo federal diminuiu ainda mais os recursos para as universidades e por isso estão em luta. Querem recuperar os salários, melhorar o plano de cargos, mas fundamentalmente lutam pela valorização das universidades, abandonadas nos últimos governos e também no atual. 

Sabem que é duro fechar as portas, mas também sabem que se não forem resolvidos esses problemas estruturais não demorará muito para que o RU seja obrigado a parar por absoluta falta de condições. Por isso apontam que toda a energia dispendida para “xingar” os trabalhadores seja voltada para o governo, exigindo uma proposta séria na mesa de negociação e mais recursos para as universidades. 



terça-feira, 19 de março de 2024

A greve e o HU



A universidade tem sofrido muito ao longo dos anos com o descaso dos governos, um após o outro diminuindo orçamento, extinguindo cargos importantes, enxugando a máquina pública para dar espaço ao privado dentro das IFES. Quando vem a greve isso fica muito mais claro. Passando de setor em setor, conversando com os trabalhadores, o que se observa é a precarização sempre crescente nas condições de trabalho. Estrutura decadente, falta de pessoal, um drama cotidiano que, no mais das vezes, adoece o trabalhador. Dezenas estão solitários nos setores, fazendo o trabalho de duas ou três pessoas, ou cercados de bolsistas que, de maneira irregular, acabam fazendo serviço de técnico. Tudo isso impacta negativamente no processo de trabalho e no atendimento, mas na aparência, a universidade está de pé. 

Mas, se há algo que realmente impressiona é a situação do Hospital Universitário. Os relatos dos trabalhadores sobre a degradação dos serviços são assustadores. E, claro, tudo isso se aprofundou com a entrada da EBSERH, certamente a decisão mais perversa do governo do PT que cresceu no segundo mandato de Lula e foi efetivada no governo de Dilma Roussef em 2011. Uma fundação privada para administrar hospitais. Ora, o que quer uma fundação privada? Lucro! E como lucrar com a saúde? Essa pergunta nós, que fizemos a luta contra a Ebserh, respondemos muito claramente: serviços precários, foco na doença, salários baixos para os trabalhadores e muito, mas muito risco para os pacientes. 

Quem lutou contra a Ebserh sabe. A UFSC realizou um plebiscito e mais de 70% votaram contra a entrada da Fundação no HU. A comunidade sabia que seria o fim do serviço de excelência que sempre fora prestado pelo Hospital. Mas, na época, a reitora Roselane Neckel, decidiu ir contra a decisão da comunidade e chegou a levar a votação do Conselho Universitário para dentro da Polícia Militar. Foi um dia triste. Não tivemos acesso à votação e ficamos no portão da PM enquanto lá dentro os conselheiros que entraram decidiram por aderir à Ebserh. 

Hoje, ouvindo os relatos dos trabalhadores sobre a precariedade do trabalho o assombro vem, não por não saber, mas justamente porque sabíamos e não conseguimos vencer essa batalha. Setores sendo sustentados por uma única pessoa, que adoece e não consegue nem se tratar dentro do próprio hospital. Que precisa pagar para cuidar da saúde que foi destruída pelo excesso de trabalho. Espaços que deveriam ter enfermeiros funcionando só com técnicos de enfermagem, relatos desesperados de trabalhadores veteranos que assistem o hospital desmoronar, relatos emocionados de jovens trabalhadores que percebem os absurdos e não conseguem mudar. Um drama que ultrapassa o limite do absurdo.

E aí está a greve e muitos trabalhadores do HU querem parar. Porque precisam viver e porque querem que o HU volte a ser o que era: um hospital referência no atendimento. É uma batalha de vida ou morte, tanto dos trabalhadores quanto do povo da cidade que precisa de cuidados. O HU tal como está é uma sombra do que foi. A Ebserh propõe metas, busca lucro. Não é essa missão de um hospital vinculado a uma universidade pública. A greve da UFSC coloca à nu as chagas abertas do nosso hospital. É grave e à beira do terminal. Os gestores dizem: os trabalhadores não podem parar. 

E o que se pode dizer é: eles devem parar, em nome da vida.

Para além da mobilização que acontece hoje por conta do movimento, uma coisa fica absolutamente clara: é preciso reverter essa perversidade que se chama Ebserh. O HU precisa voltar a ser público. Uma batalha que não é a da greve, mas que deve ser a do resto de nossas vidas. Em nome das vidas de toda gente. 

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

UFSC faz 63 anos


Foto: Ricardo Casarini, num Eko Porã


 Quando o Irineu Manoel de Souza assumiu a reitoria em julho de 2022, sabia que não seria fácil. A universidade vinha de dois anos de pandemia, quando praticamente houve uma viragem, uma mudança na temperatura da realidade. No campus a vida tinha murchado. Os estudantes voltavam lentamente ao presencial. Outros nem voltaram, desistiram. Os prédios estavam degradados por tanto tempo em abandono, e o ambiente do campus estava feio, o mato alto, faltavam as flores, a imagem era de um mundo em ruínas. Afinal, além da Covid também foram quatro longos anos de estrangulamento por parte do governo de Jair Bolsonaro. Era um caos.  

Agora, ao final de 2023, depois de um ano e meio de gestão, muitas coisas ainda estão por fazer. O dinheiro vem pingadinho e o governo Lula ainda anuncia cortes. O campus segue feio, com mato alto, porque os contratos com as empresas acabaram e tudo é muito demorado no serviço público. A maioria dos trabalhadores dos jardins, que era TAE, se aposentou e não há quem cuide das flores. A estrutura da UFSC que foi deteriorada tampouco pode ser rearranjada sem recursos federais. Um exemplo é a Biblioteca Central que com qualquer chuva, alaga. 

A UFSC que chega aos 63 anos é uma universidade vazia de gente. Não existe mais a concha acústica com shows ao meio dia, não há pessoas sentadas nos bancos, embaixo das árvores, e só se vê mesmo gente na fila do RU, que segue longa, longa, longa, porque os restaurantes mais baratos que existiam no entorno fecharam. A estudantada que a gente encontra do ponto de ônibus vive com a cabeça enterrada no celular, faltam risadas e a vida parece assomar, por algumas horas, apenas às quartas-feiras, quando tem a feirinha. O centro de convivência que era para ser um espaço de encontro se desfaz à vista do boi-tatá do Laércio Luiz. 

Sinto certa tristeza de andar por aí, bem como me surpreende ver que tudo o que o nosso reitor faz pela UFSC sequer aparece nas tais das redes sociais da universidade. Seguramente há falta de gente. Os trabalhadores andam sobrecarregados e muitos apostaram no trabalho remoto. Ainda assim, para saber sobre a Ufsc só no Instagram do Irineu, que sempre foi célere nas redes. Mas, é estranho. Que passa com a comunicação? Está escondendo o reitor?

É fato que a universidade mudou. Os tempos são de redes, conexões internéticas, solidões. Não gosto desse tempo. Preferia os tempos de vida mesma, real, no chão da existência, como quando as assembleias dos trabalhadores eram no RU e saia gente pelo ladrão, todo mundo querendo lutar pela universidade pública. Agora, tudo é virtual, as lutas são intestinas, não há abraços, nem beijos e poucas são as batalhas contra o capital. 

É o mês e aniversário da UFSC. Que tenha um feliz cumpleaños e que em 2024 algo possa mudar.

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sexta-feira, 4 de agosto de 2023

A burocracia e a UFSC


A burocracia é um poder. Isso é um fato. Os que se aferram a ela a usam para justificar uma forma de agir que não encontra amparo numa visão mais humana e empática de mundo. No serviço público isso tem sido uma arma. Lembro de uma vez, eu sentada numa sala de espera do INSS, e uma trabalhadora mandou embora um senhor bem velhinho, dedos calejados, chinelo havaiana, que tinha vindo resolver um problema de sua aposentadoria, porque ele não tinha em mãos uma conta de luz ou algo que atestasse residência. Ora, era absolutamente visível que aquele senhor não era um fraudador da previdência. Era alguém desinformado. Ela poderia ter liberado sua aposentadoria, de pouco menos de seiscentos reais na época, e pedido para ele trazer a conta no dia seguinte. Não, o mandou embora. E ele saiu, perplexo e perdido. 

Na UFSC pós-pandemia temos observado um avanço grande dessa burocracia imobilizadora. Tudo é feito por formulários na internet e há que obedecer a fila. A fila. Uma coisa que inviabiliza cuidar de urgências e emergências. Imaginem um setor de informática, com uma fila de pedidos para reparação num computador. O que deveria ser levado em conta? A fila ou a necessidade real do reparo? Um computador em meio a vários outros para o serviço administrativo é mais ou menos urgente que um computador que é único – por conta dos programas que carrega – para a realização de determinado serviço? Obvio que é o segundo. Mas se ele estiver lá para trás na fila não será reparado até que chegue a sua vez. Isso, para mim, não é qualidade de atendimento. 

Muitos colegas defendem a fila e até se negam a falar por telefone ou pessoalmente com as pessoas porque é “preciso respeitar a fila” e se houver uma conversa a fila pode ser desrespeitada. Penso eu que essa é uma posição equivocada. Há que contextualizar a fila. Não sou contra formulários. Penso que pode ser uma boa estratégia, mas nele deveria constar um espaço para a explicação da emergência ou da urgência. “Ah, mas tudo é urgente para quem está precisando”. Sim e não. O trabalhador responsável pode muito bem avaliar e decidir. Como aquela moça do INSS. Poderia ter liberado o dinheiro e recebido a comprovação de residência depois. E se o velho fosse um marginal, fraudador, bueno, é o risco. Mas pelo menos ele não teria saído dessuleado. Naquele dia eu fui atrás e ajudei o homem. Mas e os outros tantos? 

Penso que a fila deveria seguir o critério da fila no hospital. Quem tá em pior situação, é atendido primeiro. Tratar de maneira desigual os desiguais. A burocracia dura desumaniza, emperra os caminhos em vez de abrir. O trabalho no serviço público envolve relações humanas, fundamentalmente. Lidar com gente. Eu estou na UFSC desde 1994. Sei exatamente quem está tentando ludibriar a fila e quem realmente está na urgência, porque conheço a instituição, conheço o trabalho que cada setor desenvolve. E conheço porque me importo. Já me ferrei algumas vezes, com gente enganadora, é verdade, mas muito poucas. Na maioria das vezes as pessoas falam a verdade. 

A burocracia é boa porque organiza. Mas quem a maneja somos nós, humanos. E os humanos no serviço público precisam agir na força de Exu, abrindo caminhos, abrindo caminhos... Essa deveria ser a nossa primeira preocupação! 


quarta-feira, 14 de junho de 2023

Roberto Carlos Alves, um trabalhador



Trabalhar no serviço público não é bolinho. Além do preconceito expresso na máxima: servidor público é tudo vagabundo, ainda há todo peso da máquina que mais atrapalha do que ajuda o serviço a andar. Por isso, quando encontramos um trabalhador que sabe driblar as dificuldades e faz as coisas aconteceram há que iluminar. Porque, sim, é possível ser um bom trabalhador no serviço público. Roberto Carlos Alves é um exemplo vivo em ação na UFSC. Sua especialidade é resolver as coisas. Nada fica sem resposta e mesmo quando tudo parece impossível, ele encontra uma brecha e aparece com a solução. Ele definitivamente é um exemplo de trabalhador público.

Roberto entrou na UFSC quando tinha 19 anos. Fez concurso para o HU num tempo em que ser um trabalhador público era sinônimo de segurança e bom salário. Naqueles dias, em 1985, os reajustes eram iguais, tanto para professores quanto para trabalhadores. Sua primeira função foi de oficce boy e ele a cumpriu com bastante competência. Logo em seguida surgiu uma vaga para atendente de enfermagem. Como a irmã trabalhava em hospital ela ajudou no treinamento, e foi por conta da prova prática que ele se deu bem. “No dia do resultado, o hall da reitoria cheio de gente, eu fui olhar a lista e vi lá o meu nome em 24º lugar. Eram 30 vagas”. 

No HU Roberto trabalhou no setor de esterilização, na parte do expurgo de materiais sujos. Não gostava muito da coisa, mas, com seu bom humor característico sempre levou na maciota. Pouco tempo depois passou para o centro cirúrgico, lidando com as roupas limpas. Melhorou. Naquela época ele tratou de fazer um curso de datilografia, pois se surgisse alguma vaga de escriturário ele queria pegar. Mais uma vez buscou amparo na ascensão interna e em novo concurso passou para assistente de administração. Foi parar no balcão da clínica médica. Lá conheceu a Delvina, colega que mais tarde foi trabalhar no Gabinete do Reitor. 

E foi justamente a Delvina que o convidou para trabalhar no gabinete. Naquele tempo havia muito trabalho de datilografia e o Roberto era fera na coisa. Podia copiar um documento rapidamente, datilografando sem olhar para as teclas. Também era responsável pela digitação nas máquinas de telex. Era um fenômeno. E foi por conta dessa habilidade que acabou saindo do HU e indo para o gabinete. Mas, os dedos que corriam céleres pelas teclas da máquina também dedilhavam violão e a música era uma paixão na vida de Roberto. Daí que seu sonho era fazer o Curso de Música na Udesc. Dedicado como sempre, ele fez o vestibular e passou. Mas, tinha um problema, o curso era de manhã. A saída foi passar a fazer os plantões da noite. Ele ficava todas as noites e os colegas não precisavam mais fazer plantão. Foi um acordo feliz e assim conseguiu terminar o curso. 

Em 2003 foi convidado pela professora Elisabete Flausino para trabalhar no Departamento de Economia, no CSE. Os tempos já estavam mudando e sua habilidade como datilógrafo começava a migrar para o computador. Mas, ao longo do tempo no gabinete ele também havia secretariado a Estatuinte e aprendido as manhas sobre como administrar as coisas na UFSC. Por isso, em pouco tempo já estava envolvido com o trabalho de manutenção na relação com a Fepese. Foi quando começou uma grande reforma no Centro Socioeconômico e o professor Zapelline não teve dúvidas: chamou o Roberto. E lá foi ele coordenar a obra, resolvendo todos os problemas com a habitual alegria e bom humor. Nunca teve tempo ruim para o Roberto. 

Foi por conta disso que quando o professor Ricardo assumiu o CSE, logo chamou o Roberto para secretariar o Centro. Não haveria melhor pessoa. Para qualquer problema a frase mais ouvida era: fale com o Roberto. Fosse como fosse ele resolveria. E sempre foi assim. Ricardo saiu, entrou Eliseth e depois Irineu como diretor, a torcida de todo mundo era para que Roberto continuasse. E ele continuou, para alegria geral. Sua mesa era sempre um amontoado de papéis, com os mais variados pedidos, e sua sala um espaço de lamentações, as quais ele transformava em alegria, sistematicamente. Ninguém saía dali sem uma resposta. “Fica tranquilo, vamos resolver”, ele dizia, e resolvia.

Ele lembra que apesar de amar o trabalho na UFSC chegou a tentar uma chance na música. Montou um conjunto e estavam até indo bem, sempre com muitos bailes e apresentações. Chegaram a ser a banda base do CTG Figueira Velha. Mas, aí, ele teve um acidente de moto e precisou ficar seis meses em recuperação. A coisa esfriou. Nesse ínterim o tecladista morreu e o gaiteiro não quis mais tocar. Era o fim de “os Travessos”.  Mais tarde houve uma chance de ir para Portugal, mas Roberto se apaixonou e decidiu ficar. Quem ganhou foi a UFSC. 

Agora, aos 57 anos, ele foi nomeado pelo reitor Irineu como Diretor do Departamento de Manutenção Externa e ao andar pela UFSC já se pode notar concretamente a mão do Roberto na organização da vida da UFSC. O campus está bem cuidado, foram retomados os viveiros de flores, os problemas prosaicos vão sendo resolvidos silenciosamente, como é do seu feitio. Roberto é de uma geração de trabalhadores que tem muito claro o seu papel como trabalhador público. Sabe que para a missão da universidade se cumprir, a máquina precisa andar. E ele sabe muito bem como fazer isso acontecer. 

Roberto Carlos Alves é um exemplo de trabalhador público. Sabe fazer e sabe comandar. Sempre com muito riso, muitas histórias e muita competência. Eu o reverencio e o honro. 


quarta-feira, 8 de março de 2023

Recuperar a qualidade dos cursos de Graduação da UFSC: o grande desafio para 2023

 


Foto: Henrique Almeida

Carta aberta do professor Lauro Mattei sobre a necessidade de uma profunda análise da situação da graduação na UFSC depois de todo o drama da pandemia que esvaziou os cursos e gerou outra série de grande problemas para os estudantes. 


Texto do professor Lauro Mattei

O início do ano de 2020 demarcou uma nova era na história da humanidade, uma vez que a pandemia provocada pelo novo coronavírus atingiu todos os países e povos do mundo, causando milhões de mortes, além de deixar um número expressivo de sequelados e de milhares de crianças órfãs. No Brasil o primeiro caso da doença (Covid-19) foi oficialmente registrado em 26.02.2020, sendo que a virose logo se espalhou por todas as cidades e regiões do país. Já em Santa Catarina (SC), o primeiro registro oficial da doença foi documentado em 12.03.2020.

Como naquele momento (ano de 2020) não havia um antídoto eficaz para combater a doença, os mecanismos de proteção das pessoas foram o isolamento social e o uso de máscaras para evitar o contágio, uma vez que a transmissão ocorria via micropartículas virais expelidas pelo sistema respiratório.

Neste cenário, a UFSC decretou, em 15.03.2020, a suspensão de todas as atividades acadêmicas e administrativas presenciais. Todavia, somente após cinco meses – e diante da continuidade e avanço da pandemia – foi instituído o ensino remoto, o qual perdurou até o mês de março/22, período que compreendeu os dois semestres letivos dos anos de 2020 e de 2021. Obviamente que esse foi um período extremamente complexo, dada a gravidade com que a pandemia se alastrou no país e também em SC, afetando as diversas esferas da vida de todos.

Infelizmente, até hoje a UFSC não fez uma avaliação rigorosa e adequada sobre o significado desse processo sobre os resultados do ensino remoto, especialmente na aprendizagem do corpo discente. Ou seja, no dia 15.03.2020 tiramos o plug da tomada e no dia 18.04.2022 o recolocamos, seguindo as rotinas acadêmicas e administrativas como se nada tivesse ocorrido. Mas o retorno às aulas presenciais revelou – pelo menos para aqueles que querem ver e analisar um conjunto enorme de problemas, inclusive que se avolumaram após um ano de ensino presencial. O mais evidente desses problemas é o enorme número de vagas ociosas nos cursos de todas as unidades de ensino da universidade. Mas há, ainda, uma quantidade enorme de problemas bem menos visíveis, quase sempre ligados aos aspectos comportamentais e existenciais dos integrantes da comunidade universitária.

Neste caso, gostaria de registrar o feede back que obtive de um número considerável de estudantes ao longo do ano de 2022. Assim, problemas de ansiedade, desânimo, falta de concentração, desistência, depressão, etc., são bem mais comuns do que se possa imaginar. E o resultado da combinação dessas diversas mazelas afetou e ainda está afetando a qualidade do processo ensino-aprendizagem, caso nada seja feito para o enfrentamento das mesmas.

Exatamente neste ponto, gostaria de externar duas ordens de preocupação. A primeira delas diz respeito ao comportamento de parte expressiva do corpo docente que, de maneira confortável e até mesmo descompromissada, faz de conta que esses problemas não existem e seguem como se a vida acadêmica-profissional continuasse como era antes do início da pandemia, porém com um agravante: tornou-se comum para uma parte importante da categoria docente a narrativa de que fazer reuniões presenciais para discutir os problemas anteriormente mencionados é “perda de tempo”. Registre-se que há relatos de que muitas atividades acadêmicas da graduação em diversas unidades continuam remotamente, apesar da decisão da instância máxima da universidade (CUn) de que essas atividades devem ser 100% presenciais. Assim, cada qual continua em seu “quintalzinho” enquanto “la nave va”.

A segunda diz respeito à postura das administrações da UFSC. A gestão anterior – encerrada em junho de 2022 – foi marcada por uma inércia monumental desde o início da pandemia, destacando-se a lentidão para implementar o ensino remoto quando este já era um ponto pacífico na maioria dos países igualmente afetados pela pandemia. Além disso, entre março de 2020 e junho/22 a UFSC viveu um período de completo abandono, cujo cenário era mostrado cotidianamente pelos meios de comunicação, uma vez que o mato tomou conta das diversas edificações, especialmente no campus de Florianópolis. Já a gestão atual – empossada no início de julho/22, portanto há oito meses – ainda não foi capaz de tomar iniciativas robustas voltadas a atacar os problemas anteriormente mencionados, particularmente em termos da elaboração de um diagnóstico preciso sobre os impactos da Covid-19 na esfera da graduação, apesar de ter sido eleita com o discurso de que sua prioridade seria o ensino de graduação.

Em meados de janeiro/23 mantive uma reunião reservada com o atual Reitor, momento em que explicitei todos os problemas acadêmicos que observei a partir do retorno do ensino presencial após dois anos de ensino remoto, ao mesmo tempo em que fiz uma sugestão geral que se desdobrava em duas dimensões para se pensar o início das atividades do ano letivo de 2023: a primeira dizia respeito à organização de uma força tarefa por parte dos integrantes da gestão atual para, no período entre 15.01 a 28.02.23, fazer um diagnóstico mínimo sobre a situação de cada curso de todas as unidades acadêmicas segundo os principais indicadores (índice de aproveitamentos, índice de reprovação, índice de represamento, abandonos, desistências, etc.) que ajudam a compreender a realidade atual; a segunda, partindo desse primeiro passo, seria organizar nas primeiras três semanas do calendário de atividades (mês de março) ações conjuntas em cada curso envolvendo todos os segmentos com o objetivo de discutir minimamente a realidade e os desafios a serem enfrentados visando melhorar a qualidade dos cursos de graduação em cada área de conhecimento.

Minha surpresa for ver no dia 03.03.23 a página principal da UFSC divulgar a programação de retorno às atividades acadêmicas para praticamente todo o mês de março/23, da qual faz parte um conjunto de atividades que vão desde oficinas diversas, cursos de cálculo e estatística, recepção aos calouros de alguns cursos, além de diversas atividades específicas correlacionadas aos assuntos identitários e de gênero. Diante disso, minha reação foi enviar, as 11:15h do mesmo dia, uma mensagem ao Reitor, cujo teor segue: “estou aqui vendo a programação de início das aulas do ano de 2023. De fato, a programação é extensa e variada. Todavia, passa longe de enfrentar os reais problemas da graduação conforme comentei contigo em nossa conversa no início de janeiro/23”.

Minha segunda surpresa veio no mesmo dia: ao acessar novamente a mesma página da UFSC percebi que tal programação não estava mais disponível. Continuo crendo que a atual administração tem feito poucos esforços para enfrentar as questões centrais da graduação, apesar de reconhecer a importância de outras pautas também relevantes que serão desenvolvidas.


terça-feira, 27 de setembro de 2022

A tecnologia e o tele trabalho


Trabalhadores querem outras regras para o tele trabalho - Foto: Rubens Lopes

Como já bem pontuou o filósofo Álvaro Vieira Pinto a tecnologia sempre vem para ajudar o ser humano na sua relação com o trabalho. Desde o começo dos tempos quando o humano inventa é para ter mais qualidade de vida. Assim, a descoberta do fogo, da roda, do alfabeto, as máquinas e por aí. Daí que o debate sobre o tele trabalho na UFSC deve levar isso em consideração. A internet, os novos instrumentos de trabalho e tudo mais chegaram para melhorar a nossa vida. Isso, em tese. 

E por que dizemos assim, em tese? Porque se a tecnologia sempre vem para melhorar a vida, quem a domina e impõe seu uso pode mudar a ótica da coisa. Um exemplo claro é a internet. Quando chegou anunciou a democracia, a possibilidade de cada pessoa poder produzir sua informação, dizer sua palavra. O reino da liberdade. Mas, na prática, como funciona? Para ter a internet é preciso pagar e as grandes corporações são as que decidem como e o quê tu vais dizer. Quem nunca foi bloqueado no facebook? Quem tem liberdade de escolha? Quem pode dizer o que quer? Não é bem assim, né? Quem domina as redes não é a pessoa. São umas poucas pessoas que concentram as informações e dados. Ou seja, ela tem dono, e não és tu. Logo, não há democracia nem liberdade. É tudo uma ilusão. Segue a ditadura do capital.

A proposta do governo para o tele trabalho segue a lógica do capital. O professor Vitor Filgueiras, da UFBA, escreveu um livro mostrando o quanto as chamadas “novidades” do mundo do trabalho são as mesmas velhas armadilhas que superexploram trabalhadores e atuam para sua desagregação enquanto classe. Trabalhar remotamente pode ser bom para algumas pessoas, mas é preciso estar atento às regras impostas pelo governo para que isso aconteça. Pela norma aprovada ontem no Senado, a IN65, é o trabalhador quem deve ficar responsável pela sua estrutura de trabalho, ou seja, caminho seguro para o gasto e a precarização, assim como já funciona no Uber e com entregadores de comida. Há que cuidar do carro e da bicicleta e há que seguir as regras da empresa, mantendo-as como a empresa quer. O cara se acha empreendedor ou autônomo, mas, na verdade está atrelado às normas da empresa. Ela define e ele gasta.

No caso do tele trabalho proposto pelo governo a coisa vai por aí. E tem mais. O trabalhador terá de ser responsável pela segurança dos dados públicos. Ora, como dar segurança para os dados senão investindo em bons antivírus e coisa e tal? E esse investimento quem terá de fazer é o trabalhador e se os dados forem roubados, ele será responsabilizado. Pesado isso, heim? Sem contar o tanto de direitos que somem da relação e trabalho. Haverá metas a cumprir e índices de produtividade e quem vai definir isso é o chefe imediato. Ou seja, o cara não precisará bater ponto, mas deverá seguir uma proposta de produção. E o que é mesmo que os trabalhadores técnico-administrativos produzem? Temos uma longa luta contra essa lógica da fábrica de salsicha. Não é assim que banda toca. O trabalho na universidade e no serviço público não pode ser medido pelo número de e-mails respondidos ou atendimentos realizados. Isso não diz do trabalho feito pelo trabalhador da educação. Aceitar isso é dar tiro no pé.

O governo que aí está não pretende fazer com que a tecnologia facilite a vida do trabalhador. Pelo contrário. Quer preparar a cama e a mesa para os empresários da educação na medida em que o sonho dessa turma é privatizar a universidade precarizando o trabalho. Aceitar essa regra tal qual o governo criou é colocar tijolo nessa obra. 

Por isso que o sindicato dos trabalhadores da UFSC está discutindo uma outra legislação, que não penalize os trabalhadores, que de fato use a tecnologia a nosso favor, que não signifique perda de direitos, que não ajeite o campo para a privatização. Mas, há quem seja contra isso e peça a implantação já da IN65. Nada mais equivocado. Na sanha de resolver questões pessoais e urgentes, colega há que estão atropelando o debate. A regra do governo é ruim. Nós podemos melhorar isso. Mas, é preciso que estejamos juntos nessa luta. Dividir os trabalhadores é trabalho dos quinta coluna, dos que não se importam com os destinos da universidade e do serviço público. Olho vivo com isso pessoal. O tele trabalho pode ser bom, mas tem de ser dentro das nossas regras. 


sábado, 9 de julho de 2022

Novo reitor na Ufsc


Foto: Cotidiano/UFSC

 Entrei na UFSC em 1994, já passei por muitos reitores e nunca elegi qualquer deles. O Diomário, que já era reitor quando eu cheguei foi o que mais perto chegou da compreensão da comunicação, a tal ponto de depois de entender, ele ser um divulgador da política pública criada pela Agecom, naqueles dias comandada pelo jornalista Moacir Loth. Depois, os que vieram estavam sempre na posição de adversários e contra suas políticas muitas lutas travei. Cheguei a responder a um processo na polícia federal, por sequestro de reitor - o Lúcio - numa dessas lutas com a estudantada. E foi por conta de uma atitude equivocada do Rodolfo Pinto da Luz que eu tive de sair da Agecom. Ele nomeou um professor do curso de jornalismo para dirigir a agência durante uma greve de trabalhadores. E com ele sofremos censura e assédio moral. Foi quando decidi, junto com Nildo Ouriques, Beatriz Paiva e Raquel Moysés participar da criação do Iela. 

Hoje foi um dia especial. Fui a uma posse de reitor. Um reitor que escolhi, no qual votei e em quem deposito grande confiança. Irineu Manoel de Souza, a melhor pessoa. Foi uma cerimônia bonita, esperada por anos, já que Irineu havia tentado outras três vezes. Agora, finalmente, o gurizinho que entrou na UFSC com 18 anos sonhando em ser reitor, viu seu sonho acontecer. Foi emocionante olhar sua figura pequena assomando no meio de um mar de gente, sob o som das palmas. E lá em cima, no palco, com sua beca de reitor, gigante. Esperou 48 anos por isso. E não apenas esperou. Ele batalhou por isso, se preparou. E o dia chegou. 

Irineu assume num tempo duro, final de festa bolsonarista (ou não?), cortes imensos nas verbas da universidade, anos de abandono, não será fácil. Mas, o Irineu está bem acostumado a lidar com os tempos duros. Vai encontrar caminhos, eu espero. 

De minha parte seguirei como sempre. Acreditando, apostando, mas sem deixar de ser o grilo-falante, pronta a berrar se algo não sair como por tantos anos planejamos. Espero que ele cuide bem da comunicação - essa menina dos meus olhos. Que a Agecom seja fortalecida, que não vire espaço de alunos - isso é coisa do curso de jornalismo - que não seja chapa-branca, que volte a ter um jornal, que a TV UFSC também receba cuidado, que se reconheça o valor dos que cuidaram de tudo com tão pouco, como é o caso do querido Thesta. 

Lá do fundo do auditório eu fiquei com o coração em festa, eu me emocionei, chorei. Foi bonito demais. Amanhã, quando a vida reiniciar depois do fim de semana, estaremos ao pé do canhão, de ouvidos e olhos alertas. Porque a UFSC precisa ser a universidade necessária. Para isso lutamos e menos que isso não aceitaremos. Desejo sorte ao Irineu e toda sua equipe. Sejam ousados, inventivos e certeiros.



terça-feira, 3 de maio de 2022

Irineu e Joana vencem o terceiro turno

Foto: João Eduardo Cardoso Pinheiro/Agecom/UFSC


O Conselho Universitário da UFSC não embarcou na canoa do golpe tentado por um professor que representa grupo bem específico na universidade. O mesmo que tentou por meses a fio inviabilizar a direção do Centro Socioeconômico, buscando barrar a construção de um regimento construído de maneira ultra participativa. Não por acaso, o diretor do CSE era o professor Irineu Manoel de Souza.  

Agora que Irineu venceu as eleições para a reitoria da UFSC certamente não iram deixar que tudo corresse bem. E, não se enganem, caso o resultado fosse diferente, nada disso teria acontecido. O resultado seria aceito e a vida seguiria em paz. 

Foi assim que a chapa Universidade Presente, de Irineu e Joana, enfrentou nesta segunda-feira mais um turno das eleições. Para azar do golpista o CUn decidiu acatar o resultado das urnas, como historicamente sempre aconteceu. Ainda assim aparecem três votos para a chapa que foi apresentada sem ter passado pelo crivo da eleição. Ou seja, existem três conselheiros que seguem apostando no atraso e no obscurantismo. Como a votação foi secreta, não saberemos quem foi. 

Para viver mais este turno, na manhã chuvosa deste começo de maio, a reitoria se encheu de gente, estudantes, técnicos e professores, que foram apoiar a chapa vencedora e cuidar pra que os acordos fossem mantidos. Havia tempos que não se via esse barulho, essa vibração, essa força que brota da união daqueles que lutam por uma universidade necessária. Foi bonito de ver. 

Terminada a votação, o grito de alegria ecoou, enquanto Irineu e Joana reafirmavam suas propostas e alertavam: ainda não está terminado! Agora, com a lista tríplice encaminhada ao MEC, o presidente da República vai decidir quem assume a UFSC. Será o quarto turno. E, não se sabe o que pode sair daquela cabeça. Caso não seja a chapa vencedora, outras lutas virão. 

Mas, ainda que o presidente assine a condução de Irineu e Joana, já se sabe que os golpistas seguirão agindo. Já tramita ação na justiça. O quinto turno. E, se perderem aí certamente ficarão infernizando por todo o mandato. Assim que não será fácil dirigir a UFSC tendo de esgrimir os inimigos internos. Por sorte a comunidade os conhece bem e saberá enfrentar. 

Por enquanto, a UFSC celebra. A eleição foi realizada, o CUn respaldou. Ainda há que esperar o quarto turno, numa espera ativa a mobilizada, afinal, o processo não acabou.  


domingo, 1 de maio de 2022

Os "democratas" da UFSC


Toda eleição para a reitoria é a mesma coisa. Se o resultado não interessa aos “democratas” de plantão, há uma tentativa de barrar a posse através da alegação de que o processo não respeitou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que exige um peso de 70% para professores e a divisão dos outros 30% entre técnicos-administrativos e estudantes. É justamente por isso que a consulta é informal. Ela acontece a partir de um acordo político e o candidato eleito é colocado numa lista que depois vai ao Conselho Universitário, onde a conformação é justamente de 70/30. Essa consulta não burla a lei e ela pode ser feito do jeito que as entidades quiserem. É a forma encontrada para garantir uma participação paritária já que não há qualquer argumento que respalde a ideia de que os professores são mais iguais que os outros. Mas, é preciso entender essa história e porque as coisas são assim. Explico.

Como nasceu a LDB

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que hoje está em vigor foi aprovada em 1996, diante de um movimento social perplexo pela ação do então senador Darcy Ribeiro, que atropelando um debate democrático de anos, apresentou um substitutivo e conseguiu aprova-lo, apesar dos fortes protestos que aconteceram em todo o território nacional. Na nova lei, um dos pontos que configurou tremenda derrota para os trabalhadores foi justamente o que definiu a superioridade dos professores que diz respeito à administração das universidades. Apenas eles poderiam se candidatar à reitoria e a escolha deveria ser feita de forma indireta, pelo Conselho Universitário, respeitando uma porcentagem de 70/30. Ou seja, 70% do peso dos votos ficaria na mão dos professores, enquanto os 30% restantes seriam divididos entre técnicos e estudantes. Com essa proposta, Darcy reforçava a ideia de que os técnico-administrativos não tinham qualquer importância na vida universitária, muito menos os estudantes.

O processo de construção da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação começou logo depois da aprovação da nova Constituição, com a apresentação de um projeto que era fruto de grandes debates públicos. Durante muitos anos, com mais força em 1989, as entidades ligadas à educação haviam discutido a proposta de LDB nos seus fóruns e tinham logrado incluir muitos pontos considerados importantes e progressistas. Justamente por isso, e por não terem uma correlação de forças favorável dentro do Congresso Nacional, que essas entidades – unidas no Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública - optaram por aceitar um consenso com os parlamentares, evitando assim confrontos que poderiam levar a perda dos avanços.

A Lei tramitou no Congresso Nacional desde 1990, passando pelas comissões e recebendo emendas. Apesar das muitas contribuições, o caráter progressista da lei foi mantido, graças ao esforço de parlamentares como Florestan Fernandes e Jorge Hage, seu primeiro relator. Quando afinal foi submetido à pauta do Congresso para votação, em 1991, o projeto tinha sido acrescentado de 1.263 emendas. A ofensiva conservadora protelou por mais tempo a votação, encaminhando o projeto de volta para as comissões. Aí aconteceram novas eleições e mudaram os deputados. Angela Amin passou a ser a relatora da Comissão de Educação no lugar de Jorge Hage. Naqueles dias chegou a surgir um projeto substitutivo proposto por um deputado que era dono de uma rede privada de escolas. Um verdadeiro retrocesso.

A reação do Fórum Nacional em Defesa Pública conseguiu reunir mais de 10 mil pessoas em Brasília e os protestos se multiplicaram por todo o país. A ação conseguiu paralisar o projeto por dois anos. Durante esse tempo novas emendas foram apresentadas e novos relatórios foram sendo produzidos, sempre pendendo para o lado conservador. Em 1992 o processo de negociação recomeçou com o debate sobre três substitutivos diferentes. O ponto central do debate era a batalha pelo fortalecimento do sistema público de educação, enquanto os conservadores buscavam privatizar. Davam-se batalhas gigantescas no interior do Congresso, com esse tema perpassando todo o processo.

Quando todas as forças atuavam no debate das propostas apresentadas, surge, de maneira completamente inusitada, um projeto substitutivo, de autoria do então senador Darcy Ribeiro. O atropelo do novo substitutivo complicou a luta que vinha sendo feita pelo Fórum Nacional de Defesa da Escola Pública, pois, como vinha do senado, teria prioridade na votação, deixando o antigo projeto – construído coletivamente à duras penas - em desvantagem. Começou então uma batalha regimental para ver qual o projeto seria colocado em votação primeiro.

A ação de Darcy Ribeiro dividiu as forças progressistas e acabou polarizando o debate em torno de dois projetos. Um que era o da Câmara – com todas as suas idas e vindas (e alguma excrecências), e outro que era o dele. A manobra realizada por Darcy Ribeiro colocou em polvorosa o movimento pela educação outra vez. Houve protestos e lutas. Mas, ainda assim, o projeto de Darcy seguiu sendo o que balizaria a discussão, e o que é pior, incorporando novas emendas feitas pelo governo, via MEC. Era a descaracterização total do trabalho coletivo e democrático que vinha sendo feito desde 1989. E assim, a LDB é aprovada em dezembro de 1996, considerando o projeto individual de Darcy Ribeiro. Foi uma grande derrota para o movimento social.

As eleições e o peso dos trabalhadores

Como havia o entendimento de que a lei aprovada era fruto de um golpe, no campo da educação a luta continuou, visando garantir mudanças que representassem novas correlações de forças que foram se formando no legislativo. De qualquer forma, os tempos neoliberais de FHC foram difíceis para a luta popular como um todo, pois havia muitas frentes para serem atacadas, entre elas a da privatização, o que levou para segundo plano algumas questões mais pontuais. Ainda assim, no âmbito dos trabalhadores das universidades esse ponto específico da LDB, que dá aos professores todos os poderes, sempre foi discutido e combatido. Tanto que em muitas instituições federais aconteceram protestos significativos contra essa ideia. Na UFSC, por exemplo, o movimento chegou a construir uma candidatura estudantil à reitoria, buscando dar visibilidade ao completo absurdo que era deixar de fora dos fóruns de decisão àqueles que são a razão de ser da universidade. No campo dos técnicos-administrativos essa tática nunca foi usada, mas o debate pelo direito de estar em igualdade de condições nos fóruns sempre se deu.

Com o processo de luta política, as universidades conseguiram criar mecanismos de consulta à comunidade – feita através de eleições diretas – organizada pelas entidades das três categorias, docentes, técnicos e estudantes. Havia o acordo de que o nome do candidato eleito de forma paritária, ou seja, com o peso do voto não configurado nos 70/30, mas dividido em igual medida entre as três categorias, seria o enviado ao MEC pelo Conselho Universitário, esse sim configurado dentro dos parâmetros do 70/30.

Essa maneira engenhosa de escapar do reacionarismo da lei acabou sendo acolhida por todas as universidades, com eventuais casos de não cumprimento do acordo. Mas, apesar desse acerto, a batalha pela mudança, na lei, dessa regra excludente e elitista seguiu seu curso. Para os trabalhadores e estudantes, não bastava garantir o direito paritário ao voto numa eleição para reitor. Havia que garantir essa paridade também nos fóruns de decisão. Espaços como o Conselho Universitário, Colegiados de Curso e Departamentos cumprem a lógica do 70/30. Ou seja, nas instâncias cotidianas de decisão da vida universitária, técnicos e estudantes seguem como seres de segunda categoria e sem qualquer possibilidade de garantir suas demandas. Mesmo em eventuais alianças entre os dois, não conseguem superar a avassaladora maioria docente.

Por conta disso, ao longo dos anos seguiram sendo apresentadas emendas à LDB visando mudar esse estado de coisa. Mas, dentro do Congresso Nacional esse tipo de demanda não caminha. Projetos mofam nas gavetas e os trabalhadores precisam garantir, na luta cotidiana, esses espaços de poder. O que não é fácil. 

Quando começou o governo do PT, em 2004, os trabalhadores acreditavam que haveria espaço e vontade política para mudar essa lei. Mas, passados 14 anos de governo as propostas apresentadas no Congresso para mudar a LDB não avançaram. Porque há, na chamada esquerda liberal, a mesma ideia que plasmou a proposta de Darcy, de que os técnico-administrativos são menos importantes na universidade, apesar de serem maioria entre os trabalhadores. Isso segue sendo uma enorme pedra na vida universitária. Mesmo que atualmente o perfil dos trabalhadores tenha mudado significativamente, boa parte dos docentes ainda acredita que devem ter mais peso nas decisões. Esse é um embate que parece não ter fim e está presente em todos os fóruns, conseguindo um acordo apenas para o processo eleitoral, já que esse é mais visível aos olhos da sociedade. 

Assim que a tentativa de golpe na decisão da comunidade universitária, agora com a eleição de Irineu Manoel de Souza e Joana dos Passos, não é nenhuma novidade. Basta que o eleito não faça parte de um determinado grupo que se acha dono da instituição, que esse argumento da ilegalidade da consulta venha à tona. Isso já foi tentado em 2015 e a justiça apontou que não há empecilhos para consultas acertadas entre as entidades. 

Assim que nesta segunda-feira, quando o Conselho se reunir, o que se espera é que os conselheiros sigam a tradição e garantam a eleição de Irineu e Joana, escolhidos por quase 60% dos votos da comunidade. Os golpistas que chorem. 

E os trabalhadores, que se movimentem e garantam de vez a mudança na lei para que isso não tenha de voltar a acontecer. A proposta de 70/30 é ultrapassada, reacionária e fora de sentido. E se vier novamente um governo do PT, que não defraude mais os trabalhadores.


segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Farinha pouca, meu pirão primeiro


Esse é um ditado popular que infelizmente parece ser a regra no mundo humano. Aquilo que toca individualmente é o que acaba prevalecendo. O coletivo serve para bonitos discursos, mas a prática é o que determina aquilo que realmente somos e pensamos. Um dos exemplos disso é a vacina. Há os que, em nome de suas convicções individuais, preferem deixar o coletivo se explodir. Mesmo sabendo que a vacina terá mais eficácia quando mais gente estiver vacinada, há os que se negam, ainda que nos seus perfis de redes sociais façam emocionados discursos pela família, por deus, por gatinhos ou cachorros. 

Outro exemplo são as lutas sindicais, coletivas. Uma batalha travada por uma categoria precisa da adesão de todos, mesmo aqueles que não são tocados pelas decisões. Lembro-me das greves da UFSC quando os técnicos de nível superior decidiram criar uma associação própria porque entendiam que os ganhos vinham só para os de nível médio.  Estudados, sabiam muito bem que numa greve existem várias demandas e que os ganhos podem não chegar da mesma forma nem no mesmo tempo para todos. Houve greves que os TAEs de nível superior ganharam mais, e outras que os de nível médio ganharam mais. É assim. 

Também havia e há até hoje os que sequer fazem greve porque acreditam que estão muito bem, que o seu salário tá bom, que não sofrem assédio, que têm chefias camaradas etc... Então, se existe alguém que não está satisfeito, que lute sozinho. O bom e velho egoísmo funcionando a mil. Sempre tentamos trabalhar isso nos movimentos, observando que a luta coletiva é o que fortalece a categoria, e que as batalhas pontuais a gente vai travando ora aqui, ora ali. 

Agora mesmo a UFSC define um retorno ao trabalho presencial em setembro, apenas para os técnico-administrativos é claro, bem no meio de uma nova onda da Covid, com a variante Delta chegando para arrasar. A ideia, diz o documento da reitoria, é preparar os setores gradualmente para o retorno, ainda que diga que os setores precisam abrir das 08 às 18. Onde fica o gradual aí? E como trabalhar em salas que não têm a devida ventilação quando os prédios foram sendo feitos para o uso de ar-condicionado? Há tantas coisas que causam insegurança e até terror. 

Isso acontece com todos os trabalhadores? Não! Existem setores na UFSC que podem estar bem preparados para um retorno. Inclusive existem trabalhadores que nunca pararam de ir à universidade, presencialmente, para resolver problemas. Eu mesma fui várias vezes ao IELA ligar os equipamentos, fazer limpeza, fazer a manutenção nas máquinas fotográficas, filmadoras e em outras máquinas que não podem ficar tanto tempo paradas. Sabemos o quão difícil é conseguir a estrutura. Amamos a UFSC e temos muita clareza de que precisamos cuidar. E por que eu fui ao IELA? Porque lá estou sozinha. Não divido o espaço com ninguém e nunca permiti ar-condicionado no meu espaço, sempre de janelas abertas. Ora, essa é minha realidade, individual. 

O mesmo não acontece com uma parcela bastante grande da universidade. Boa parte dos trabalhadores labuta em salas coletivas, fechadas. Então, o compromisso ético de cada um de  nós deve ser com essa maioria. A luta coletiva precisa estar em primeiro lugar. Atualmente, os mais diversos setores da UFSC, com suas especificidades tão díspares, estão trabalhando na sua capacidade máxima. Cada pequeno setor segue dando respostas para a comunidade e para a instituição. Ninguém está parado. O trabalho da maioria está sendo feito remotamente, mas, possivelmente, muitos colegas já foram até a UFSC para resolver alguma coisa presencialmente. Porque é assim que são os trabalhadores comprometidos com a universidade.

Assim que um retorno presencial em massa não tem sentido algum nesse momento, muito menos na lógica confusa da administração que afirma ser um retorno gradual, mas exige setores abertos. Haveremos de retornar, é certo. Quando for seguro. E ainda não é. Por que então expor os trabalhadores a um risco desnecessário? Por conta das cobranças da imprensa pelega? Ora, desde quando a UFSC se rendeu à bocas-alugadas de plantão? O documento da reitoria diz que serão acompanhados os casos de infecção que possam surgir. Ora? O que é isso? Depois de os trabalhadores serem infectados, sem necessidade, o que a UFSC fará? Rezar? Chorar no enterro? Isso não tem qualquer cabimento. 

Cada trabalhador da universidade sabe do seu trabalho e a maioria sempre esteve e está comprometida com a qualidade do que faz, sabendo muito bem o que significa ser um trabalhador público. Sim, existem os ladinos, os preguiçosos, os egoístas. Mas, esses, são poucos, exceções. Não podem servir como base. 

O que deve nos orientar é a luta coletiva. Enquanto houver um único colega em risco, por conta de uma decisão irresponsável, temos de estar juntos, lutar juntos.  

Precisamos preparar a universidade para o retorno, é certo, mas isso não se dá assim, num ato administrativo, sem diálogo com os trabalhadores e sem a devida contrapartida estrutural. Esse retorno precisa ser articulado e discutido com as categorias que conformam a UFSC. Não estamos em Marte. Estamos aqui e temos muito a contribuir. 

Esperamos que a administração central não se esqueça de tudo que prometeu na campanha eleitoral. A democracia tem de ser participativa e, tal e qual a solidariedade, ser uma prática cotidiana e não um discurso vazio.



quinta-feira, 23 de julho de 2020

Na UFSC há professores com medo dos TAEs

Irineu (camisa laranja), que foi canditado  reitor, ladeado por De Pieri(de azul) e Ubaldo, insiste na participação de todos. 

Vez em quando nós, trabalhadores técnico-administrativos da UFSC, precisamos lidar com algo que é muito intrigante: o medo que alguns professores tem de nós. Digo intrigante porque, se somos todos trabalhadores da mesma instituição, esse medo me parece estranho. Por quê? É o que me pergunto. Digo isso em função da novela que se arrasta no Centro Socioeconômico para a aprovação do regimento do Centro. Já se vão meses e depois de uma tremenda pataquada protagonizada pela administração Ubaldo/Alacoque no Conselho Universitário, o regimento, que foi aprovado, sofre mais um ataque. 

Pois o regimento estava no CUn desde o ano passado, passando por várias mãos e pareceres, até que finalmente foi aprovado  há poucos dias, mesmo com os votos contrário da administração e dos representantes do CTC. Surpreendentemente, depois da aprovação, um dos conselheiros, o professor do CTC Edson de Pieri, decidiu entrar com um processo interno alegando ilegalidade na tramitação do regimento. Surreal. 

Mas o que tem de tão perigoso no regimento do CSE, que leva um diretor de outro Centro a todo esse esforço? Pois o regimento do CSE foi construído a partir da discussão universal com toda a comunidade do CSE, professores, TAEs e estudantes. Foram realizados fóruns de pesquisa e extensão, graduação e pós-graduação e administração, com debates e deliberações envolvendo toda a comunidade. Isso é altamente perigoso, afinal democracia em tempos como esse é quase heresia. Daí que uma parte dos professores acha imperdoável a decisão do diretor Irineu Manoel de Souza de envolver toda a gente.  

Outro ponto  gravíssimo, a representação dos TAEs aumentou de um para três, e isso representando os famigerados 70/30 que prega a LDB, logo, nenhuma ilegalidade. Mas, três TAEs no Conselho do Centro  parece ser algo tremendamente perigoso para o De Pieri que, claro, está atuando em nome de um grupo político e de uma posição política que ele inclusive já defendeu quando candidato a reitor. É uma galera que teme os TAEs. Fingem ignorar e tripudiam dos trabalhadores, mas, na verdade os temem. 

Outro problema do regimento do CSE: ele garante voz e vez aos institutos que são ligados ao Centro e que sempre estiveram à margem das decisões. O Inpeau e o Iela terão direito a uma representação no Conselho. Isso também aparece como gravíssimo para alguns professores que se escondem por trás de figuras como De Pieri e da Administração. Professores que cotidianamente estão ali, tentando sabotar o trabalho coletivo, a participação democrática e a liberdade de expressão. 

Por isso mais essa tentativa esdrúxula de impedir que o regimento construído coletivamente num espaço onde eles foram derrotados seja colocado em prática. Esses professores – e a administração também  -  temem os TAEs, temem o pensamento crítico. Pois ora, isso é bom. Eles devem temer mesmo. Porque os TAEs não estão dispostos a serem tratados como seres de segunda categoria. Os TAEs não estão dispostos a abrir mão do seu direito de participar, opinar, formular e decidir. 

O regimento do CSE tem ainda outro perigo: cria as Câmaras Setoriais de pesquisa e extensão, de graduação e pós-graduação e de administração, tornando cotidiano o debate livre e participativo. E pasmem, garante e um técnico-administrativo a condução desse fórum administrativo. Outra heresia. Mais um motivo para tentarem boicotar o trabalho do Irineu.

Ah, quão pueris são esses professores que nos temem. Acreditam mesmo que impedindo nossa participação ficarão livres de nossa crítica e de nossas formulações. Pois é o contrário. Ficamos mais bravos, e mais fortes. Resta agora ver se a administração, que também nos teme e teme o processo democrático, vai dar guarida a mais essa tentativa de impedir a vida no novo regimento. Por aqui, seguiremos resistindo. E eles que lutem!

segunda-feira, 6 de julho de 2020

A administração da UFSC e os trabalhadores

Promessas feitas por Cancellier foram esquecidas pela atual gestão

Quando Luiz Carlos Cancellier  venceu as eleições em 2015, para a reitoria da UFSC, levou com ele um número significativo de votos dos trabalhadores técnico-administrativos. Havia se comprometido, para o segundo turno, com as tão sonhadas 30 horas, que fariam a universidade ficar com as portar abertas desde manhã até a noite, sem fechar ao meio-dia. Eleito, precisou ser pressionado para levar adiante a proposta. Relutava, colocava entraves, mas ia caminhando.  Com sua trágica morte, em outubro de 2017, depois de uma espetaculosa ação da Polícia Federal, as demandas dos trabalhadores voltaram à estaca zero. No final daquele triste ano e no que se seguiu, a comunidade como um todo precisou se mobilizar para garantir que a universidade continuasse funcionando, até que viesse uma nova eleição.  As lutas particulares ficaram em segundo plano.

Em 2018, quando Ubaldo Balthazar enfrentou Irineu Manoel de Souza, os trabalhadores técnico-administrativos, em grande número, acreditaram que, por ser da equipe de Cancellier, Ubaldo honraria as promessas do reitor morto. Decidiram não colocar suas vidas nas mãos de Irineu, que já fora TAE e que já apontara com clareza meridiana suas propostas para a universidade, nas quais os TAEs teriam vez e voz. 

Com a chegada de Ubaldo Balthazar à administração central, os TAEs já tiveram de enfrentar de saída um longo processo de luta para garantir a permanência de uma trabalhadora que tinha sido reprovada no estágio probatório. Uma excrecência administrativa e uma clara perseguição. Não foi uma luta fácil, sempre barrada pela Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas, que viria desde aí se mostrar, de maneira paradoxal, contrária a muitas demandas dos trabalhadores. 

Ao mesmo tempo em que a batalha por Juliane seguia dura, estava também colocada na mesa a proposta de controle de horário dos trabalhadores através do ponto eletrônico. Isso já tinha sido tentado em outras administrações, todas barradas. Os trabalhadores tinham construído uma proposta de controle social e com ela foram para a mesa de negociação, buscando esclarecer ao reitor que a universidade não era uma fábrica de salsichas e como uma instituição educacional não se prestava a um controle estrito como o do ponto. Mas, a conversa com a administração sempre foi difícil. Primeiro porque o reitor raramente se manifestou, sempre alegando que seguia o que mandava a Justiça, preferindo colocar a questão nas mãos da Pró-Reitoria de Gestão ou do chefe de gabinete, Áureo Moraes. 

Durante todo o processo que levou o Ministério Público indicar a implantação do ponto,  a reitoria se limitou a uma defesa formal sobre o tema, sem chamar os procuradores para uma conversa e sem propor uma ação mais agressiva no sentido de discutir a especificidade da universidade. Deixou que a questão corresse sem defender os trabalhadores, usando inclusive a ação como pretexto para acelerar o processo de controle. Estava mais do que claro para os trabalhadores que essa administração seguia a mesma linha de pensamento de praticamente todas (exceto a de Diomário de Queiróz) as que já passaram pela UFSC: a de tratar os TAEs como mão-de-obra desqualificada, sem qualquer ligação com o processo educacional. Para  maioria dos professores – e a administração parece se colocar aí – o TAE não desenvolve qualquer trabalho intelectual, podendo então ser controlado através do relógio. 

A administração finge desconhecer o trabalho dos TAEs que se faz nos espaços de ensino, de  pesquisa e de extensão, afinal, até mesmo os que tem como função abrir e fechar as portas estão envolvidos intelectualmente com seu fazer  e com a educação, porque sabem que se a porta não tiver aberta, o processo educacional não se realiza. Além do que, os que têm essa função não se limitam a ela, visto que esses trabalhadores também são responsáveis pela excelência dos espaços de aula e dos laboratórios, acumulando um conhecimento sobre os equipamentos e os processos que muito professor não tem. Isso é trabalho intelectual. 

O fato é que, passados três anos da administração de Ubaldo Balthazar, a gestão tem sido leonina com os trabalhadores TAEs. Praticamente nenhum avanço nas demandas internas, ainda que existam encontros e conversas amistosas que só revelam a omissão e o não-comprometimento com as promessas de campanha. O desmoronamento do já implantado processo das 30 horas foi central. Tudo foi cancelado sem levar em conta toda a estruturação da vida que já tinha sido modificada. Sem discussão e sem diálogo, os setores que já faziam 30 horas tiveram de desfazer os turnos e fechar os setores. 

Agora, em plena pandemia e todo o desconforto gerado pelo trabalho remoto, que tem esgotado e onerado os trabalhadores, a reitoria coloca como pão comido a implantação do malfadado ponto eletrônico. Nunca lutou junto com os trabalhadores, nunca se comprometeu, nunca sequer tentou compreender a proposta do controle social. Todo o debate sobre o tema sempre foi  marcado por uma postura anti-trabalhador  da pró-reitora Carla Búrigo – uma TAE – mostrando que o ponto nunca esteve em questão para essa administração, visto que nem o reitor, nem a Prodegesp esboçaram qualquer atitude diante das intervenções do Ministério Público e da Justiça.  A administração abriu mão da autonomia, não foi capaz de mostrar a verdadeira face do trabalho realizado na universidade e agora já dá como uma realidade sem volta a implantação do ponto eletrônico. Um ponto que será biométrico, com o uso de câmeras e catracas. Ou seja: O Ministério Público e a Justiça agem como se os trabalhadores da UFSC fossem um bando de irresponsáveis e relapsos, vagabundos em potencial, sempre dispostos a driblar o trabalho. E a administração aceita isso sem pestanejar. É o que pensa também? Acredita que os trabalhadores precisam desse tipo de controle bizarro e fora de propósito?

Claro, fora de propósito para nós que somos TAEs, porque para a administração e boa parte dos professores, é a coisa mais acertada a fazer: colocar um cabresto no trabalhador para voltar a exercer sobre ele o mesmo tipo de controle que havia quando não existia sequer concurso público: a velha moeda de troca para ganhar eleições. Aí, haverá chefes que afrouxarão, pedirão favores, tudo como antes na fazendinha Assis Brasil.

Assim que é hora de os trabalhadores compreenderem o tremendo erro que foi confiar nas promessas do grupo que trouxe Ubaldo para a reitoria. Porque foi um engano. Nem deu sequência às promessas feitas por Cancellier – e esse grupo venceu como defensor de seu legado – nem bancou as próprias promessas feitas. Para os TAEs essa administração não apontou nada de bom.  Pelo contrário.

É tempo de aprender a lição.