terça-feira, 21 de junho de 2016

Chegou o willkakuti - o retorno do sol




















O primeiro de janeiro é a celebração do início do ano legado pelo calendário gregoriano, imposto ao mundo ocidental pelo papa Gregório XIII em 1582, quando ele substituiu o calendário Juliano, definido por Julio César, ainda no Império Romano. Como a Europa acabou sendo o espaço do mundo que impôs os padrões do mundo ocidental, esse tem sido o calendário que rege o ano civil da maioria das nações no globo.

Mas para o povo aymara que conforma boa parte dos Andes, o ano começa no 21 de junho, sempre no solstício de inverno, quando o sol (Tata Inti) fica mais longe da terra, esperando que as gentes façam oferendas e dancem chamando-o de volta. É nesse período que também começa o período das semeaduras que terá seu auge no dia 24, durante o Inti Rayme, a celebração mais importante do povo dos Andes. Para os aymaras e quéchuas o ano que começa é o 5525.

Para os que ainda cultivam as tradições e os deuses velhos, esse 21 de junho foi dia de visitar a porta do sol em Tiahuanaco, centro sagrado da cultura antiga, e render homenagens a Tata Inti. É ali que se reúnem os amautas (sacerdotes) reverenciando Pacha (tudo que vive). Nos primeiros raios da manhã que se divisam através do portal os camponeses e os indígenas renovam as esperanças na unidade do universo. É uma hora única, sagrada, na qual se anuncia o eterno retorno de Inti para que a vida siga se fazendo.

O centro cerimonial e Tiahuanaco faz parte das ruínas de uma das cidades mais antigas da parte sul de Abya Yala, hoje no centro da Bolívia. No solstício o lugar se enche de cantos e oferendas a Inti e Pachamama. Ali, com a invocação da fertilidade da terra as gentes esperam que a vida siga se reproduzindo sob as bênçãos do sol.


Jallalla, hermanos. Estamos juntos na vibração


O jornalismo está vivo e brilha


Jornalismo de Qualidade: parte da equipe do programa Informativo Paralelo, produzido pelo portal "Desacato" , de análise da mídia.


Antes de qualquer coisa vamos estabelecer um consenso sobre os conceitos. O que é a mídia comercial e o que são as mídias comunitárias, populares e os ativistas digitais. Bom, a mídia comercial reúne os grandes meios de comunicação, empresas privadas que usam o espaço público – com as TVs e Rádios – e empresas privadas que atuam no espaço privado: os jornalões dos grandes centros e os jornais médios e pequenos dos municípios menores. 

A mídia comunitária e popular é composta por um conjunto bem diverso de meios. Espaços privados de gente que tem uma posição política mais avançada e que organiza blogs e páginas pessoais, espaços públicos comunitários – o caso das rádios e TVs comunitárias – espaços sindicais e do movimento social, espaços de grupos organizados de produção de informação, espaços no éter de pessoas físicas que de forma isolada produzem e distribuem informações.

Pois bem, agora vamos ver como esses dois blocos se comportaram durante o processo de discussão do impedimento da presidenta Dilma Roussef. O primeiro, que é reconhecidamente o braço armado ideológico da classe dominante, fez o que lhe é comum: defender os interesses dessa classe. E quais eram? Criar um consenso nacional sobre a necessidade da saída da Dilma e consolidar a derrubada do PT do governo. Para tanto usaram o tema da corrupção, useiro e vezeiro nos processos de golpe. Como já existe um consenso generalizado na sociedade de repúdio à corrupção, apelar a isso é sempre uma boa estratégia. Então, começaram as reportagens sobre o tema cuja intenção principal era implicar a presidenta. Nenhuma ligação sobre o fato de ter sido esse governo o que deu as condições para que a Polícia Federal pudesse aprofundar as denúncias e chegar aos verdadeiros implicados. 

Se observarmos com cuidado vamos ver que desde o final das eleições que acabaram conduzindo Dilma ao segundo mandato, já teve inicio a cruzada anti-PT. O tal do terceiro turno, que nunca se encerrou. Não houve um dia que a mídia comercial não tenha feito alguma matéria que levasse a essa formação de consenso: o PT era ruim para o país. Os casos de corrupção que foram sendo levantados só serviram para consolidar esse mantra. Junte a isso o arrefecimento do “espetáculo do crescimento” e estava formado o caldo perfeito paro que veio a seguir. 

A queda de braço do governo com Eduardo Cunha, por exemplo, que foi o estopim do golpe, teve um tratamento totalmente manipulado. Em nenhum momento a mídia comercial deixou claro que a presidenta se recusava a blindar o então aliado que estava – ele sim – acusado de corrupção. E foi justamente essa recusa em defender Eduardo na comissão de ética que levou à vingança do mesmo, com o pedido de impedimento de Dilma. Assim, estava virado o jogo e a presidenta foi quem começou a aparecer como corrupta.

O bombardeio na mídia comercial para implicar Dilma foi feroz. Quem não se lembra da conversa gravada com Lula, divulgada no Jornal Nacional – e em todos os grandes jornais televisivos - como a prova definitiva da culpa de Dilma? E o que havia na gravação? Nada. Ocorre que ninguém prestou atenção ao conteúdo ou ao contexto da fala. Todo o cenário espetacularizado foi montado para criar uma sensação: a culpa de Dilma. O tom da voz dos apresentadores, os trechos fragmentados incompreensíveis e inconclusivos. Era o carnaval da corrupção. O consenso já estava criado. Ninguém precisava escutar com atenção a conversa para saber que ali estavam as provas. E as gentes foram às ruas pedir o fora Dilma, inclusive usando a última frase da conversa entre ela e Lula, quando o presidente se despede e diz: tchau, querida. Isso acabou virando o mote da campanha do impedimento. Orientadas pelos jornais nacionais as pessoas batiam panelas e saíam às ruas. Muitas sem saber, inclusive, que aquelas gigantescas manifestações estavam sendo organizadas e financiadas pelos mais “importantes” corruptos do país, liderados por Fiesp e outras entidades internacionais, também useiras e vezeiras em financiar golpes de estado.

Não foi sem razão que a manifestação do domingo que levou milhões às ruas pedindo a saída da presidenta, foi televisionada desde os primeiros momentos, ao vivo, por emissoras que jamais abririam espaço na sua programação para manifestações políticas. Pois essa se fez em tempo real na casa de outros milhões de brasileiros. Já a resposta dos movimentos sociais, dias depois, mereceu algumas notas, senão o silenciamento. Ou seja, a mídia atuava de maneira fundamental na construção de uma ideia, na criação de um consenso.

E a mídia alternativa? Qual foi o seu papel? Esses espaços atuaram como sempre fazem no trato com a notícia, buscando trazer as informações dentro do seu contexto para que as pessoas tenham noção da totalidade. Foi assim, nos chamados “blogs sujos” de jornalistas de esquerda ou progressistas, foi assim nas páginas de sindicatos e movimentos sociais e foi assim nos coletivos livres de produção de notícias. A outra versão, os fatos no contexto, as realidades destapadas.

Mas, toda essa gente – que desde sempre atuou na contrainformação – contou com uma ajuda inesperada. Os chamados ativistas digitais. Que são pessoas comuns, não necessariamente envolvidas em coletivos ou movimentos, que se agregaram a essa linha de divulgação das informações e passaram a atuar de forma intensa nas redes sociais. Assim, de repente, todo o trabalho realizado por essa mídia alternativa, comunitária e popular, começou a ser viralizado, horizontalmente pelos ativistas. A rede passou a ser um espaço de contrainformação importantíssimo e passou a também mobilizar pessoas para atos de protesto, ou de apoio à Dilma. 

Aqui é bem importante fazer uma relação com a chamada “primavera árabe”, na qual as mídias sociais foram bastante utilizadas, só de que maneira contrária. As pessoas reproduziam a informação que era criada pelas forças de desestabilização dos governos, financiadas pelas instituições golpistas internacionais. A fabricação do consenso foi de que lá, naqueles países, Argélia, Líbano, Líbia, Síria, estava nascendo uma revolução “popular” contra os regimes autoritários, quando na verdade, era uma ação violenta dos países centrais contra o nacionalismo árabe. Naqueles dias do que foi o grande inverno das populações árabes, as redes sociais eram usadas com maestria pelos “tanques de pensamento” do sistema capitalista mundial. É claro que os governos em questão não eram ilhas de paz e amor, estavam eivados de suas contradições, e é claro também que havia resistência popular, mas o que se viu nas redes – e que foram reproduzidos nas grandes cadeias de informação comercial – foram informações produzidas a dedo pelos think tanks.

É fato que no Brasil também tivemos o ativismo de direita, que foi grande e poderoso, com a ação articulada do Revoltados On Line e MBL, mas nesse campo eles acabaram, de certa forma derrotados, pois ainda que tenham arrebanhado milhões de seguidores, não conseguiram estabelecer o consenso nas redes sociais. O ativismo de esquerda enfrentou a máquina comercial e os tanques de pensamento da direita com uma ação coletiva, massiva, horizontal e articulada, e colocou o povo nas ruas. Manifestações gigantescas passaram a acontecer até o dia da votação do impedimento, e continuam a se realizar nesses dias todos de governo golpista. Impossível negar o papel fundamental dessa rede no processo de resistência.

Bueno, diante disso, do fato de que o ativismo digital foi decisivo para a articulação da luta nas ruas, surgem as alegações de que agora, o jornalismo não é mais necessário. Pois, se cada pessoa é um comunicador em potencial, não precisa mais da mediação do profissional do jornalismo. E, se a informação circula horizontalmente e em tempo real, tampouco se faz necessária a mediação – coisa que é papel do jornalista fazer.  

Defendo contrário a essa tese e arrisco dizer que o jornalismo foi a grande estrela desse processo de mobilização popular. Sem ele - o jornalismo de verdade - não teria sido possível todo esse rastilho de pólvora que se espalhou pelas redes sociais. E o que quero dizer com “jornalismo de verdade”? É essa maneira de narrar a vida de tal forma que o leitor/ouvinte/espectador possa compreender o fato em toda a sua inteireza. Na prática, é a notícia como forma de conhecimento, tal qual ensina o teórico Adelmo Genro Filho, partindo de uma singularidade e dialeticamente passando ao particular e ao universal, permitindo ao que recebe a informação apreendê-la de forma totalizante. Ou seja, dentro de seu contexto geral.  

Nesse sentido é importante observar que houve um casamento perfeito entre os ativistas da informação, que são esses que repassam informações fragmentadas, imagens em tempo real, fatos particulares, sem qualquer análise, e os velhos e novos jornalistas que, usando de toda essa trama de informações segmentadas, faziam as amarrações, apontavam análises da realidade e estruturavam as notícias de forma a oferecer a universalidade do assunto. Jornalistas como Paulo Henrique Amorim, Luiss Nassif – para citar alguns mais conhecidos – aos quais poderia agregar jornalistas críticos que existem em todos os estados brasileiros, como eu e o Raul Fitipaldi em Santa Catarina, por exemplo, os coletivos de jornalistas como o Desacato, o Mídia Ninja e os Jornalistas Livres, e os blogs e portais de notícias comandados por jornalistas foram decisivos no processo que se contrapôs aos grandes meios comerciais. Então, o que isso significa? Que o jornalismo está vivo sim, e brilha, e desaloja, e transforma. O jornalismo não morreu como alegam alguns que se comportam ou como neo-ludistas – negando as novas formas de comunicação e buscando destruí-las - bem como os que pensam que agora qualquer pessoa que passa informação na rede é jornalista. 

Não é.

 O jornalismo é uma forma específica de produzir conhecimento que narra a vida de maneira a articular o que há de singular num fato com a universalidade que ele totaliza no contexto da história dos homens e mulheres. Essa amarração, essa análise, essa totalização precisa ser feita para que as pessoas não se afoguem no mar das informações que lhes chega todos os dias. Os ativistas, que hoje prestam esse inestimável serviço de divulgar as informações mais variáveis precisam se apropriar desse fazer, esse é o grande desafio para eles. Mas, ainda que não se apropriem, há outras milhares de pessoas que atuam com o jornalismo, fazendo isso, trabalhando em uníssono. Esse é um daqueles momentos incríveis, de mudança de temperatura do mundo. Temos que trabalhar juntos para fazer aquilo que o velho Marx apontava, quando também criou uma forma nova de ver o mundo: transformar a realidade para o bem dos trabalhadores.

Resumindo a ópera. A mídia popular, comunitária e os ativistas digitais fizeram a diferença nesse processo do impedimento. Informaram e levaram gente para as ruas na luta contra o golpe. Abriram caminhos por entre a selva de informações da internet e foram capazes de fazer frente aos barões da imprensa. Mas, a mídia comercial ainda é poderosa, vejam o consenso que ela conseguiu criar. Ela forte e não deve ser subestimada. Por isso precisamos seguir na luta por soberania comunicacional, que se plasma na seguinte proposta: a mídia livre precisa de um estado livre e uma comunicação sob o controle da maioria. Outro estado, portanto. 

Não duvido nem um pouco de que a classe dominante já esteja atuando no sentido de enfraquecer – senão destruir – essa mídia libertadora que assomou no processo de impedimento. Um dos elementos que nos fazem pensar é a decisão do Facebook – que já abocanhou mais de um bilhão e meio de pessoas na sua rede – criando um novo serviço para que as pessoas sejam obrigadas a entrar diretamente nos sítios das grandes corporações midiáticas. Ou seja, para que um texto seja lido ele precisa estar numa plataforma de uma empresa conveniada ao face. Tudo isso porque a plataforma percebeu que as pessoas estão lendo pessoas ou blogs e não os meios, que tiveram uma queda de mais de 42% na audiência. Logo, esse setor – que nunca perde  - está se rearticulando, se aliando às plataformas de rede, para derrotar a informação livre.

Então, o nosso desafio segue o mesmo: mudar a forma de organizar a vida para, então, mudar a forma de fazer comunicação. Construir o socialismo ou qualquer outro modo de vida que inventemos, que garanta não apenas vida boa e bonita para todos, mas também a informação livre, contextualizada e produtora de conhecimento. E, seja como for, o jornalismo seguirá, brilhando e se fazendo, tal qual ensinou Adelmo, livre da manipulação, oferecendo ao que lê/ouve e vê, a universalidade dos fatos. 

segunda-feira, 20 de junho de 2016

O saco de maldades está ativo


foto: Pragmatismo Político

A abertura do processo de impedimento da presidenta Dilma Roussef colocou o Brasil numa espiral de movimentação. Há manifestações contra o PT, mas há, em muito maior número, manifestações pelo Fora Temer, que junta tanto petistas quanto pessoas que não querem ver a normalidade constitucional rompida. 

Todo esse emaranhado de atos, manifestações, passeatas e escrachos forma um caldo importante de gente em movimento que precisa ser alertada para outras maldades que seguem em andamento no Congresso Nacional. O governo interino tem editado muitas MPs, mas, além disso existem dezenas de outros projetos de lei em andamento. 

E se a administração central parece estar paralisada, no legislativo as coisas seguem em ritmo acelerado. O Departamento Intersindical de Assessoria parlamentar (o DIAP) fez um levantamento sobre os projetos que correm e que são prejudiciais aos trabalhadores. Pode ter outros, mas esses são os mais graves. Confira e compartilha. Cada uma dessas novas leis aperta ainda mais as correntes do capital no pescoço do trabalhador. Há que barrá-las!

RELAÇÃO DAS 55 AMEAÇAS AOS DIREITOS TRAMITANDO NO PARLAMENTO
1.    Regulamentação da terceirização sem limite permitindo a precarização das relações de trabalho (PL 4302/1998 – Câmara, PLC 30/2015 – Senado, PLS 87/2010 – Senado);
2.    Redução da idade para início da atividade laboral de 16 para 14 anos (PEC 18/2011 – Câmara);
3.    Instituição do Acordo extrajudicial de trabalho permitindo a negociação direta entre empregado e empregador (PL 427/2015 – Câmara);
4.    Impedimento do  empregado demitido de reclamar na Justiça do Trabalho (PL 948/2011 – Câmara e PL 7549/2014 – Câmara);
5.    Suspensão de contrato de trabalho (PL 1875/2015 – Câmara);
6.    Prevalência do negociado sobre o legislado (PL 4193/2012 – Câmara);
7.    Prevalência das Convenções Coletivas do Trabalho sobre as Instruções Normativas do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE (PL 7341/2014 – Câmara);
8.    Livre estimulação das relações trabalhistas entre trabalhador e empregador sem a participação do sindicato (PL 8294/2014 – Câmara);
9.    Regulamentação do trabalho intermitente por dia ou hora (PL 3785/2012 – Câmara);
10.  Estabelecimento do Código de Trabalho (PL 1463/2011 – Câmara);
11.  Redução da jornada com redução de salários (PL 5019/2009 – Câmara);
12.  Vedação da ultratividade das convenções ou acordos coletivos (PL 6411/2013 – Câmara);
13.  Criação de consórcio de empregadores urbanos para contratação de trabalhadores (PL 6906/2013 – Câmara);
14.  Regulamentação da EC 81/2014, do trabalho escravo, com supressão da jornada exaustiva e trabalho degradante das penalidades previstas no Código Penal (PL 3842/2012 – Câmara, PL 5016/2005 – Câmara e PLS 432/2013 – Senado);
15.  Estabelecimento do Simples Trabalhista criando outra categoria de trabalhador com menos direitos (PL 450/2015 – Câmara);
16.  Extinção da multa de 10% por demissão sem justa causa (PLP 51/2007 – Câmara e PLS 550/2015 – Senado);
17.  Susta a Norma Regulamenta (NR) 12 sobre Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos (PDC 1408/2013 – Câmara e PDS 43/2015 – Senado);
18.  Execução trabalhista e aplicação do princípio da desconsideração da personalidade jurídica (PL 5140/2005 – Câmara);
19.  Deslocamento do empregado até o local de trabalho e o seu retorno não integra a jornada de trabalho (PL 2409/2011 – Câmara);
20.  Susta Norma Regulamentadora 15, do Ministério do Trabalho Emprego, que regula as atividades de trabalhadores sob céu aberto (PDC 1358/2013 – Câmara);
21.  Susta as Instruções Normativas 114/2014 e 18/2014, do Ministério do Trabalho, que disciplinam a fiscalização do trabalho temporário (PDC 1615/2014 – Câmara);
22.  Estabelecimento da jornada flexível de trabalho (PL 2820/2015 – Câmara e PL 726/2015 – Câmara);
23.  Estabelecimento do trabalho de curta duração (PL 3342/2015 – Câmara);
24.  Transferência da competência para julgar acidente de trabalho nas autarquias e empresas públicas para a Justiça Federal (PEC 127/2015 – Senado);
25.  Aplicação do Processo do Trabalho, de forma subsidiária, as regras do Código de Processo Civil (PL 3871/2015 – Câmara);
26.  Reforma da execução trabalhista (PL 3146/2015 – Câmara);
27.  Substitutivo apresentado na CAPADR estabelece a inexigibilidade do cumprimento simulta?neo dos requisitos de “utilizac?a?o da terra” e de “eficie?ncia na explorac?a?o” para comprovac?a?o da produtividade da propriedade rural (PL 5288/2009 – Câmara);
28.  Alteração da Lei 5.889/1973, que estatui normas reguladoras do trabalho rural, e a Lei 10.101/2000, que dispo?e sobre a participac?a?o dos trabalhadores no lucro ou resultados da empresa, visando a sua adequac?a?o e modernizac?a?o (PLS 208/2012 – Senado);
29.  Alteração da Lei no 1.079/1950, para definir como crime de responsabilidade de governador de Estado a recusa ao cumprimento de decisa?o judicial de reintegrac?a?o de posse (PLS 251/2010 – Senado);
30.  Alteração da Lei 8.629/1993, para dispor sobre a fixac?a?o e o ajuste dos para?metros, i?ndices e indicadores de produtividade (PLS 107/2011 – Senado);
31.  Regulamentação da compra de terra por estrangeiros (PL 4059/2012 – Câmara e PL 2269/2007 – Câmara);
32.  Alteração da Lei de Biossegurança para liberar os produtores de alimentos de informar ao consumidor sobre a presença de componentes transgênicos quando esta se der em porcentagem inferior a 1% da composição total do produto alimentício (PLC 34/2015 – Senado).
33.  Dispensa do servidor público por insuficiência de desempenho (PLP 248/1998 – Câmara);
34.  Instituição de limite de despesa com pessoal (PLP 1/2007 – Câmara);
35.  Criação do Estatuto das Fundações Estatais (PLP 92/2007 – Câmara);
36.  Regulamentação e retirada do direito de greve dos servidores (PLS 710/2011 – Senado; PLS 327/2014 – Senado; e PL 4497/2001 – Câmara); e
37.  Extinção do abono de permanência para o servidor público (PEC 139/2015 – Câmara);
38.  Fim da exclusividade da Petrobras na exploração do pré-sal (PL 6726/2013 – Câmara);
39.  Estabelecimento de que a exploração do pré-sal seja feita sob o regime de concessão (PL 6726/2013);
40.  Estabelecimento de independência do Banco Central (PEC 43/2015 – Senado);
41.  Privatização de todas as empresas públicas (PLS 555/2015 – Senado);
42.  42.Proibição de indicar dirigente sindical para conselheiros dos fundos de pensão públicos (PLS 388/2015 – Senado);
43.  Estabelecimento do Código de Mineração (PL 37/2011 – Câmara);
44.  Demarcação de terras indígenas (PEC 215/2000);
45.  Cancelamento da política de Participação Social (PDS 147/2014 – Senado);
46.  Alteração do  Código Penal sobre a questão do aborto, criminalizando ainda mais as mulheres e profissionais de saúde (PL 5069/2013 – Câmara);
47.  Retirada do texto das políticas públicas do termo “gênero” e instituição do Tratado de San José como balizador das políticas públicas para as mulheres. É um total retrocesso para todo ciclo das políticas (MPV 696/2015 – Senado);
48.  Instituição do Estatuto do Nascituro – provavelmente maior ameaça aos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Seria concretizada a criminalização generalizada das mulheres, inviabilizando, inclusive, o aborto previsto no Código Penal (PL 478/2007 – Câmara);
49.  Instituição do Estatuto da Família – retrocesso para grupos LGTBs e mulheres: não reconhecimento como família – ficam fora do alcance de políticas do Estado (PL 6583/2013 – Câmara);
50.  Redução da maioridade penal (PEC 115/2015 – Senado);
51.  Instituição do Estatuto do desarmamento (PL 3722/2012 – Câmara);
52.  Estabelecimento de normas gerais para a contratação de parceria público-privada para a construção e administração de estabelecimentos penais (PLS 513/2011 –Senado);
53.  Aumento do tempo de internação de adolescentes no sistema socioeducativo (PLS 2517/2015 – Senado);
54.  Atribuição à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania do exame do mérito das Propostas de Emenda à Constituição (PEC), acabando com as comissões especiais (PRC 191/2009 – Câmara); e
55.  Alteração da Constituição para que entidades de cunho religioso possam propor Ações de Constitucionalidade perante o STF (PEC 99/2001 – Câmara).



Mais dinheiro estrangeiro nas empresas de aviação


Com o argumento de que é preciso aumentar a competição no mercado aéreo doméstico, com mais cidades sendo atendidas por voos regulares, o governo provisório de Michel Temer enviou ao Congresso Nacional uma medida provisória (MP 714/16) que eleva, de 20% para 49%, o limite de participação estrangeira no capital com direito a voto das companhias aéreas brasileiras.

Com essa medida o governo altera o Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei 7.565/86), que mantinha o limite da participação internacional a 20% do capital votante da empresa. O código também garantia que os dirigentes das companhias fossem unicamente brasileiros, coisa que a MP revoga, permitindo que pessoas não-brasileiras possam dirigir as companhias. 

Outra abertura para o capital estrangeiro diz respeito a reciprocidade, que agora permite que uma empresa não brasileira assuma o controle do capital de uma companhia aérea nacional (acima de 50% das ações), desde que uma empresa brasileira também possa fazê-lo no país da empresa em questão. Mas veja, não significa que precisa, só que pode.

O governo insiste que as regras atuais do Código de Aeronáutica torna o setor muito restritivo aos estrangeiros e abrir as portas para esse capital vai aumentar também a presença das empresas aéreas brasileiras no exterior. 

Mas, os benefícios aos empresários não param por aí. A MP também incorpora à tarifa aérea a tarifa alfandegária que até então ia para o Fundo Nacional de Aviação Civil. Com essa mudança, o passageiro  segue pagando a tarifa, embutida no preço da passagem (mais de 3% do valor) mas os recursos irão para a Infraero – que ainda opera 60 aeroportos -  e para as empresas que vierem a vencer os próximos leilões de concessão de terminais. Ou seja, os benefícios são para as empresas e não para o país.




domingo, 19 de junho de 2016

De ódio e de amor



Ainda é muito poderosa a força que exerce a grande mídia comercial, principalmente a televisão, na formação de ideias e princípios acerca da vida e do mundo. Todos os dias esses meios chegam massivamente nas pessoas, atirando verdades e semeando conceitos. No geral, essas empresas comerciais – de televisão  e de jornalões – são braços armados da classe dominante. Falam e escrevem aquilo que serve aos interesses dos que dominam o mundo no modo de produção capitalista.

Um dos tiros certeiros dessa fábrica ideológica é a criação do ódio. Mas, não é exatamente ódio de classe, explícito. Ele se fragmenta em “pequenos ódios singulares” que servem para manter em estado permanente de vigília e conflito trabalhadores contra trabalhadores. Fomentar o ódio intra-classe ajuda a esterilizar o inimigo verdadeiro, que deveria ser o sistema capitalista, ou classe que dirige esse modo de vida tão mortal. Então, criam-se verdades sobre a maldade dos gays, o terrorismo natural dos árabes, a delinquência dos latinos e negros, a insanidade das mulheres feministas, e por aí vai.

Nos Estados Unidos isso é fica completamente visível através da indústria cultural, que nos chega com pacotes bem embalados, reproduzidos pelas grades redes de TV. Qualquer filme estadunidense que mostre o cotidiano dos adolescentes deixa claro que, na escola, todos esses “pequenos ódios” afloram e são vistos como normais.

Talvez por isso não apareça como absurdo o fato de que milhares de pessoas tenham comemorado o terrível massacre acontecido numa boate gay em Orlando, como se a morte de mais de 49 pessoas tivesse sido uma limpeza necessária. Não causa espanto porque os mortos, além de homossexuais eram também, na maioria, latinos. Ou seja, para os que crescem sendo inoculados com os “pequenos ódios”, o massacre foi digno de celebração. Ainda mais que o assassino, Omar Mateen, foi um “árabe”, logo, um terrorista em potencial. Pouco se falou do fato de ele ser um estadunidense, criado nos EUA, que comprou suas armas nos EUA e atirou em gays e latinos, porque fora inoculado com o ódio sistemático desde sempre. Para todos, a causa vem de fora. É mais seguro pensar assim.

Mas, o ódio aos gays e latinos não ficou só na celebração do massacre. Os “ativistas” homofóbicos ainda buscaram fazer manifestações nos enterros das vítimas. E pasmem, eram“cristãos”, como no caso do grupo da Igreja Batista Westboro, que tentou tumultuar o funeral de uma das vítimas, Christopher Leinonen, no último sábado. Esse grupo já é bastante conhecido no país e tem se destacado exatamente por isso: fazer arruaça nos enterros de homossexuais.

Como entender uma coisa dessas? Como não perceber que aí está o resultado de anos e anos de pregação racista, homofóbica, discriminadora contra qualquer tipo de gente que fuja do padrão da eugenia estadunidense: branco, rico, domesticado e ignorante.

Nós, no Brasil, vamos vivendo tudo isso também, com a ascensão de figuras que pregam descaradamente a violência contra homossexuais, que falam publicamente que poderiam estuprar uma mulher pelo simples fato de ela ser uma política atuante, que incitam ao ódio cirúrgico. Esses ódios em gotas contra parcelas específicas da população: negros, mulheres lutadoras, homossexuais, ativistas sociais, sem-terra, sem-teto, estudantes secundaristas, índios. São ódios particulares, fomentados aqui e ali, hora um, hora outro e que, certeiramente, também acabam dividindo as lutas. Há que se ligar que o que esses caras  - os quais me recuso a nominar – querem é justamente isso, dividir e enfraquecer.

O que essa gente faz é propagandear seu ódio à classe trabalhadora, aos empobrecidos, aos oprimidos pelo sistema, aos que estão em luta pela transformação. Por isso escolhem uma ou outra parcela, para escamotear e fazer com que a própria classe trabalhadora entre na espiral do ódio contra os seus. O ódio intra-classe, desagregador e destrutivo que faz o negro odiar o índio, o branco odiar o negro, a mulher ver uma “vagabunda” na outra mulher que luta, um trabalhador ver um bandido no agricultor sem terra ou no pai de família que luta por moradia. Tudo tão bem orquestrado pela mídia comercial, fábrica de ideologia.

Mas, enfim, nem tudo está perdido. Gente há que se importa e age. Como as 200 pessoas que decidiram ir ao enterro de Christopher Leinonen, para proteger o morto e os familiares dos ativistas “cristãos”. Ajudados por outros tantos voluntários do departamento de figurino do Orlando Shakespeare Theater, que criaram estruturas imitando asas, eles se vestiram de anjos da guarda e foram enfrentar os violentos homofóbicos da Westboro.  

Esses contra-manifestantes tem feito isso sistematicamente desde 1998 em situações como essas, buscando apoiar as famílias contra os homofóbicos. São pessoas comuns, que sabem que ódio particularizado da classe dominante não serve à maioria. O que serve é o amor, o reconhecimento de que o outro, o caído, o oprimido, o índios, negro, sem-terra, sem-teto, a mulher que luta, o imigrante empobrecido, enfim, cada um e cada uma que busca transformar o mundo é um irmão e uma irmã em potencial. Logo, há que defendê-los.


A cena dos “anjos” nos enterros encheu meu coração de alegria. Acredito firmemente: dia virá em que o amor unirá a todos os que querem construir um mundo de riquezas repartidas, de reciprocidade, cooperação e solidariedade. Porque as revoluções que transformam a vida são eivadas de amor, por todos aqueles que merecem sentar a mesa do banquete que, hoje, só é oferecido a uns poucos no mundo. Nós ainda vamos dançar, comer e beber no paraíso, construído por nós, aqui e agora.