sábado, 29 de novembro de 2008

Palestina, Livre!

E eis que aí está o 29 de novembro. Dia triste, hora da catástrofe. Quem é mais velho, lembra. Na mesma hora em que Fátima colhia azeitonas no seu quintal e Rachid tomava seu chá de maravia à sombra do alpendre, bem longe de sua terra - num lugar onde só entram os vencedores - decidiam os seus destinos e o de todo povo palestino.
Havia acabado a guerra, guerra feia, dura, grotesca e cruel. Nela, o governo alemão tinha promovido o massacre do povo judeu, dos ciganos e de outras gentes que apreciam como “diferentes”. Os judeus foram os mais atingidos, em função do grande número. Foi um holocausto. Por conta disso, no fim da guerra, os Estados Unidos decidiram que havia de dar uma terra para os judeus.
Foi assim, que numa reunião da Organização das Nações Unidas, que àquela época contava com 57 países, decidiu-se entregar 56% do território palestino para a formação do estado de Israel. O argumento era de que lá não havia povo, portanto, estava livre para ser ocupado. Não era verdade. Ali viviam milhares de seres, tal qual Fátima e Rachid. Numa sessão dirigida pelo brasileiro Osvaldo Aranha – qualificado por Alfredo Braga como um desonesto - 25 países votaram pelo sim, 13 foram contra e 17 se abstiveram.
Contam os historiadores de que, naqueles dias que antecederam a votação – que foi bastante tumultuada – diplomatas receberam cheques em branco, outros foram ameaçados e as mulheres dos políticos receberam casacos de vison. Portanto, assim nasceu Israel. Mas, tão logo se instalou, o governo israelense abocanhou, na força, 78% do território. E o estado da Palestina nunca foi criado. Em 1967, Israel, também com a força dos canhões, expandiu ainda mais o território, massacrando milhares de famílias palestinas.
Nenhum país se levantou contra isso. A solidariedade foi sempre das gentes, dos grupos de lutadores sociais, dos oprimidos, dos desvalidos. Na televisão os palestinos aparecem como os terroristas, os assassinos, os ferozes homens-bomba. Poucos falam da promessa não cumprida, da invasão do território, dos massacres sistemáticos e recorrentes. Hoje, o povo palestino vive confinado em espécie de campos de concentração, cercados por muros gigantes, impedidos às vezes até de ver seus parentes que moram em outros pontos do território. São prisioneiros em sua própria casa.
É por isso que o dia 29 virou um dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Porque isso precisa parar. A gente palestina quer o direito de ter seu país, quer o direito de voltar para casa, assim como, um dia, os judeus também voltaram. O povo palestino quer paz, quer colher suas azeitonas, tomar o seu chá de maravia, casar os seus filhos, descansar no alpendre. É hora! É chegado o momento! Que as vozes se levantem e que a solidariedade se faça concreta.
Viva o Povo Palestino. Viva a Palestina Livre!

terça-feira, 25 de novembro de 2008

O diploma e o trabalho comunitário


Tenho lido vários artigos de jornalistas colocando como um paradoxo fazer, ao mesmo tempo, a defesa do diploma e do trabalho de comunicação comunitário. Que fazer com os jornais de bairro, que são a expressão da fala da comunidade? Como exigir ali, a figura do jornalista profissional? E as rádios comunitárias? Que fazer, se os políticos e empresários calhordas de sempre já estão se apropriando das rádios comunitárias? Bom, eu tenho algumas provocações para estas questões.

A questão do diploma é um elemento da luta de classe na sociedade capitalista. Defesa da profissão, defesa do corpo. Nada mais do que isso. Já escrevi sobre esse tema num longo artigo que pode ser encontrado no endereço: http://www.iela.ufsc.br/?page=noticias_visualizacao&id=562. E, por ser tão simples, acaba soando como insuficiente, mas não é. O diploma não se reveste, certamente, na fórmula mágica que garantirá um jornalismo de qualidade. Longe disso, a considerar o que se ensina na maioria das universidades: jornalismo gosmento, adesista, cortesão. Mas, na relação entre patrão e empregado, longe dos consensos habermasianos, o diploma é nossa garantia de proteção. Assim, no velho confronto capital x trabalho temos de apresentar nossas armas, e uma delas é a formação superior representada pelo diploma.

Já o trabalho de comunicação comunitária, onde aparecem os informativos de bairro e rádios comunitárias que não visam lucro, está inserido na lógica da soberania comunicacional. Ou seja, é direito de cada ser humano encontrar espaços para exprimir a sua palavra e, num país como o nosso, dominado pelo monopólio da mídia, estes veículos são essenciais para garantir a democratização da informação. As empresas que formam a grande mídia, para as quais vendemos nossa força de trabalho como jornalistas diplomados, estão absolutamente comprometidas com a defesa do sistema capitalista. Já a mídia independente pode – o que significa que às vezes não o faz – estar a serviço da transformação. Daí ser obrigação de quem pensa o mundo e o quer diferente, apoiar estas iniciativas.

É certo que tanto nos jornais de bairro como nas rádios comunitárias é possível encontrar oportunistas que apenas querem ganhar dinheiro e se dar bem, mas isso sempre haveremos de encontrar e faz parte da luta maior por uma sociedade diferente. Nosso compromisso como jornalistas é estar afinado com as iniciativas populares, transformadoras, rebeldes, inclusive servindo como agentes de formação. Se os comunicadores populares receberem uma boa formação de jornalistas, terão muito mais condição de fazer um bom trabalho comunitário.Mas, toda esta problemática precisa estar contextualizada na órbita da luta de classe. Tanto na grande mídia quanto na mídia independente e popular os interesses vão aparecer, e eles serão ora egoístas, ora altruístas. Cabe a nós, jornalistas envolvidos na luta por um mundo novo, estabelecer o embate, ficar firme nas trincheiras, formar gente nova capaz de inocular o sonho da transformação.

Agora, se a categoria dos jornalistas prefere o imobilismo de suas redações assépticas, se entende a comunicação popular como uma concorrente, se não consegue perceber a diferença de um trabalho feito para garantir a reprodução da vida dentro do sistema opressor e outro voltado para a transformação da sociedade, então aí a coisa fica difícil. Antes de condenar os comunicadores populares, talvez fosse bom cada jornalista parar um pouco e pensar porque raios essa gente é necessária. Se as comunidades empobrecidas estão inventando sua comunicação a despeito de todas as leis é porque alguma coisa anda cheirando mal no reino do Brasil. O jornalismo que se pratica nos grandes e médios meios de comunicação não dá conta da vida das gentes, não expressa a batalha que acontece nas ruas do mundo todos os dias. O jornalismo que se vê é cortesão, é redutor, é descontextualizado, desligado da vida real, está a serviço da opressão e da ideologia.

Então, a nós, cabem algumas mudanças como, por exemplo, fazer jornalismo de verdade, tal qual ensina Adelmo Genro Filho, recuperando a totalidade do fato, enfrentar os patrões, aproveitar as brechas, produzir teoria nova, estabelecer parceria com a vida mesma. Ou isso, ou as gentes passarão, e com muita razão, por cima de nós. Com isso repito o que venho insistindo desde sempre: o diploma é importante na relação com o patrão, mas ele não dá conta do jornalismo que precisamos praticar. Defender o diploma? Sim. Mas, fundamentalmente pensar em fazer, enfim, jornalismo, é mais do que fundamental.