sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Vereadores de Florianópolis aprovam aumento de contribuição da Previdência

 

Como a mídia comercial realiza uma sistemática campanha contra o serviço público, a população sempre tende a concordar que os trabalhadores públicos sejam vagabundos, incompetentes, etc...  E, como muitas vezes também se depara com uma estrutura carcomida, o que leva a um mau atendimento, acaba fortalecendo a opinião de que o serviço público é ruim por conta dos trabalhadores que são ruins. Mas, na verdade, o que realmente acontece é que o serviço público é ruim porque os governos não dão a ele a devida atenção e muito menos os recursos necessários para que sejam bons. E quando as coisas dão certo, no geral, é porque algum trabalhador teve de superar toda a estrutura para garantir o atendimento. É assim nas escolas, nos hospitais, nos espaços de atendimento burocrático. 

Agora mesmo, durante a pandemia, quem efetivamente está se desdobrando para garantir o atendimento às pessoas doente? Médicos, enfermeiros, atendentes, técnico de enfermagem, agentes de saúde. Muitos sendo infectados, e outros tantos morrendo. E quem são essas pessoas? Trabalhadores públicos. Ainda assim, se algo dá errado em qualquer espaço público, a tendência é sempre colocar a culpa no trabalhador e não naqueles que estão fazendo a administração do setor tais como prefeituras, estados e governo federal. O culpado do mau atendimento, do mau serviço sempre será o que está na ponta, o visto, o trabalhador. 

Essa é uma realidade que as entidades tais como sindicatos e federações ainda não conseguiram mudar. E mesmo que se façam campanhas recorrentes de valorização do serviço público e do trabalhador público, o peso do sistemático ataque aos trabalhadores parece ser bem mais eficaz. Quando uma Rede Globo faz uma reportagem de longos minutos mostrando como o trabalhador público onera o estado, ela não revela três coisas básicas: que os altos salários são uma minoria no setor, e que o número de trabalhadores na ponta dos serviços sequer é suficiente para um bom atendimento. Mas, quando a notícia termina, o que fica é: os trabalhadores públicos são um peso para ao estado. 

É por isso que quando os governos arrocham a vida dos trabalhadores públicos a maioria das pessoas vibra. Porque realmente acredita que os trabalhadores públicos são uma vergonha nacional. 

É também por isso que quando os governos decidem tirar direitos - conquistados em longa batalhas – ou privatizar a previdência ou aumentar contribuições, pouca gente se importa. Ocorre o contrário, há uma aprovação geral, porque afinal, se os trabalhadores públicos ganham tão bem, eles que paguem mais. Solidariedade de classe passa longe. Não existe. A lógica é: “se eu não tenho direito, que ninguém tenha”. 

Vivemos isso agora em Florianópolis quando os vereadores da cidade votaram, em uma sessão controversa e cheia de irregularidades, o que o sindicato dos trabalhadores está chamando de “confisco de salário”. Pois em plena pandemia, num momento em que a cidade vive um alerta vermelho, os nobres edis (que são também trabalhadores públicos, embora regidos por outras regras salariais), aprovaram o Projeto de Lei que reforma a previdência dos trabalhadores municipais aumentando em 3% a contribuição. Não houve debate com a comunidade, não foram apresentados os cálculos atuariais, nem sequer passou pela tramitação correta nas comissões. A proposta que partiu do prefeito Gean Loureiro foi votada sem que sequer as emendas apresentadas fossem apreciadas nas comissões. Tudo muito rápido, para evitar protestos. 

Na mídia, a notícia é dada como só uma notícia a mais, sem qualquer questionamento sobre as irregularidades, sobre a pressa ou sobre a falta de debates. Afinal, mais vale tirar 3% dos trabalhadores do que taxar fortunas ou discutir as verbas parlamentares. Ou seja, a partir de um alegado déficit – sem comprovação – na previdência, tira-se dos que mesmo têm. A questão que fica é: até quando a sociedade vai se manter cega diante da injustiça? Por que sempre são os trabalhadores os que que pagam a conta de um suposto déficit que, no geral, nunca é causado por eles?

Os vereadores que votaram a favor do confisco do salário dos trabalhadores – entre eles os da saúde, que hoje se arriscam por toda a população – foram: Beibe, Claudinei Marques, Dalmo Meneses, Dinho, Edinho Lemos, Erádio Gonçalves, Fábio Braga, Gabrielzinho, Gui Pereira, João Luiz da Silveira, Marcelo da Intendência, Maria da Graça, Miltinho, Renato da Farmácia e Roberto Katumi. 

Guarde esses nomes. Eles sempre estarão contra os trabalhadores, hoje, os públicos, amanhã, tu. 


quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Futebol: que parem os campeonatos

 

Eu sempre amei o futebol. Desde menina vibrando a partir das cadeiras vermelhas do estádio do Internacional de São Borja. O pai era radialista, então eu tinha aquele espaço de privilégio. Depois, quando os times se juntaram no Esporte Clube São Borja, lá segui eu o novo time, no novo estádio. A paixão mesmo era pelo que acontecia em campo, aquele bailado, os dribles, o gol.

Muitos anos depois tive a alegria de trabalhar como setorista no Figueirense, em Florianópolis, e foi daí que nasceu meu amor pelo alvinegro. Ainda assim era o futebol o meu encanto. Mas, na prática do trabalho também fui conhecendo a gurizada, os seres que fazem a festa acontecer. Nos clubes menores tende a não haver grandes estrelas. Todos estão no mesmo nível, sem altos salários e com trabalho duro. Todos os dias, o treinamento pesado. Muita academia, muito suor, muito treino tático, com o corpo sendo levado ao seu limite. Não é bolinho não. 

Foi aí que descobri que aquele bailado, os dribles e o gol não existem sozinhos, eles precisam ter corporalidade, nome, sobrenome. Vai daí que os jogadores acabam sendo o centro de tudo. Sem eles, nada. Eles são esse corpo coletivo que levanta as gentes nos estádios. Eles são parte constitutiva dessa belezura toda. 

Por isso me encho de ódio ao ver os cartolas dos times, como empresas patrocinadoras, e como redes de TV exigindo que os campeonatos recomecem. A cada notícia de mais um jogador infectado, mais meu ódio aumenta. Como é possível tanta maldade? Tanta desimportância pela vida do outro? Em cada treinamento lá se vão oito, nove, 12 garotos para o drama da Covid-19. Que insanidade! E o pior é saber que eles sequer podem dizer não. São trabalhadores. Estão sob o tacão do capital. Ou jogam fora. Esse é o tom.  

O futebol é um jogo coletivo, de muito toque e de contato. Não há como jogar sem o risco de se contaminar. Não é possível que os amantes do futebol possam querer que isso continue, como se fosse um combate de gladiadores. É preciso proteger os jogadores como se proteger os demais trabalhadores nessa hora de angústia e incerteza. Como torcidas organizadas, fazer protestos, gritar, impedir esse sofrimento generalizado para os jogadores e suas famílias, que acabam se infectando também. Nada justifica o retorno dos campeonatos se não há sequer como ver os jogos presencialmente. 

Para os donos dos times, a vida não importa. Se um jogador morrer, outro logo vem. Essa é lógica do capital. Mas, se o dinheiro não entrar nos seus bolsos eles podem repensar. Nessa hora os que pagam pelo futebol, os torcedores, os sócios dos clubes, têm poder. Há que impedir essa insanidade. Exigir que os jogos sejam suspensos até que haja segurança para os trabalhadores. 

Eu não mesma consigo ver nem ouvir a transmissão do jogo. Aperta-me o peito, me dói o coração. Coloco-me na pele daqueles homens que entram em campo, assustados, e que ainda precisam vencer. Não, não dá! Que parem os campeonatos. Que se protejam os trabalhadores. Boicote aos tempos, às Federações, às emissoras de televisão. Aquele que ama mesmo o futebol há essa clareza. E os que apenas dinheiro no processo, que se fodam!