quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Lentamente, ao sol!



Finalmente o sol. Queimando, esquentando, ardendo. Saio de um lugar ruim, cabeça fervendo. Caminho a esmo pelo centro de Florianópolis, olhando as pessoas e pensando na fragilidade da vida. Tão pouco tempo temos neste planeta azul. O tempo da gente comparado ao tempo histórico da raça é um grão de areia. Vou repassando nossa insignificância individual, enquanto percebo nas caras que passam por mim a urgência dos tempos modernos. Toda a gente tem pressa demais. Eu também, tal qual o coelho da terra encantada de Alice. “Não tenho tempo... não tenho tempo”. E o tempo, como já falou Einstein é tão relativo. Tempo do relógio? Tempo da natureza? Tempo biológico? Qual deles vamos seguir?...

Naquela tarde de quinta-feira meu tempo era o interior. Misteriosamente estava lento. Lembrei de Milton Santos, o nosso grande geógrafo, que dizia: “O futuro será dos homens lentos”. Ele era um mestre, deveria estar com a razão. Talvez seja mesmo hora de diminuir o ritmo, fazer como no poema... “Se eu tivesse que viver de novo tomaria mais banho de chuva, brincaria com barquinhos de papel, daria mais risada, ficaria mais tempo com os amigos...” Ah estes pensares outonais!

O sol seguia sua órbita escaldante. Melhor mesmo era tomar um chope. Três horas da tarde, depois de um dia inteiro enfrentando aparelhos estranhos. Sim, eu tinha direito. “Querido, um chope bem gelado!” O líquido dourado caiu, redondo, e na minha frente seguia o frenesi das pessoas. O mercado fica bem na boca do terminal urbano, por onde passam mais de 200 mil almas por dia, em desvairada carreira, correndo atrás do tempo, que escapa, fugidio.

O dia escorria e eu ali, pensando no tempo. Então fui ao banheiro. E no mercado isso é algo surreal. Para se chegar lá é preciso pegar um elevador que nos leva ao primeiro andar. Não há escadas, portanto, sem escapatória. Entra-se, aperta-se o botão e o elevadorzinho de ferro vai subindo, numa assustadora lentidão. E ali, presa na gaiola branca, fica-se a mercê daquele arrastado subir. Perde-se totalmente o controle sobre o tempo. O controle é da máquina. Prisioneiros somos.

Então entendi. A vida é um presente, um momento único. Cada instante vivido nunca mais vai voltar. Por isso se faz necessária a lentidão. Sorver os segundos, saborear cada instante. O viver é sopro, já se apaga. Nesta tarde de verão atrasado, nada mais nos resta a não ser um aceno curto e a frase pagã; “querido, traz mais um!”...