sábado, 16 de julho de 2016

Eleições para o Sintufsc - é hora de mudar













A campanha já está viva no campus. 






Dia 10 de agosto os trabalhadores da UFSC decidirão qual tipo de sindicato eles querem ter. Pode ser o que está aí: que dá prêmios para alguns, que faz festas, que destrói a luta – como na greve das 30 horas – que esvazia a política. Ou pode ser um sindicato que faz a luta acontecer, que é criativo, que enfrenta os desafios, que buscar formar os trabalhadores, que discute no campo da grande política e que também festeja.

Estou com o sindicato que se expressa agora nesse alaranjado do amanhecer. Uma proposta que bebe nas profundas águas do passado, respeitando as velhas lideranças, aqueles e aquelas que nos distantes anos 80 também se vestiram de laranja para propor uma “Alternativa Independente”.  E que, naqueles dias, garantiram a mudança na vida da UFSC e a criação desse sindicato que hora disputamos. Estou com essa gurizada que chegou nos piores tempos da UFSC – de apatia e silêncios – e, de cara, provocou a movimentação com suas vozes claras, com seus risos de cristal, com sua força de luta.

Como não estar lado a lado com essa gente – novos e velhos - que ousou fazer uma das  greves mais bonitas da UFSC: a  que colocou a universidade de portas abertas, mostrando o quanto era possível implantar o turno das seis horas. E quanta beleza se fez naqueles dias de balões, cores, tambores e palavras de ordem.

Agora será hora de decidir o caminho dos próximos anos, anos de recessão, de arrocho, de conservadorismo explícito. Um caminho que só poderá ser trilhado junto com aqueles e aquelas que se dispõem à luta concreta, verdadeira. A companheirada da Chapa 1  - TAES LIVRES é essa estrada. Porque eles e elas, acertadamente, não colocaram de lado toda uma história de luta que foi travada dentro desse espaço que é a nossa casa, a UFSC. No reconhecimento do passado e de toda a vida que se constituiu a cada greve, cada movimento, cada conquista, esse grupo se fez e se fortaleceu, recolhendo as boas experiências e inventando novos rumos.

A CHAPA 1 – TAES LIVRES  é barro pisado de muitos pés, muito suor, muitas lutas, muita história. Tem fortaleza, tem doçura, tem alegria, tem garra, tem história, tem sonhos, tem esperanças e tem fé. Essa coisa meio sem sentido que a gente sente diante do impossível, mas que é o que move o mundo.
Nossa chapa TAES LIVRES tem fé em cada trabalhador e cada trabalhadora da UFSC. Acredita firmemente que os que querem uma universidade melhor para trabalhar e para criar conhecimento para toda a sociedade colocarão seu voto na urna como uma voto na CHAPA 1. Nós temos fé e esperança em ti colega, que conhece a batalha que vem sendo travada para reviver o sindicato de luta, o nosso sindicato.


Assim, quando o dia 10 de agosto amanhecer, alaranjado e bonito, nós estaremos todos construindo um tempo novo na UFSC. Acredite nisso também e venha conosco. Vote 1 e junte-se a nós, TAEs Livres. 

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Quero de volta a família
















Sim, a sociedade moderna matou a família. E essa não é uma constatação moral. Mas uma observação prática. Quando a vida da família era permeada de tias, primos, primas, avós, não havia abandonos. Agora não, nas famílias mononucleares, não há espaço para o cuidado. Se há um filho, quem vai cuidar? A babá, a TV, a creche. Nos tempos das grandes famílias essa não era uma preocupação. As crianças viviam livres e soltas porque havia sempre alguém de olho: uma mãe, uma tia, uma parenta distante, uma avó. E elas cuidavam de todos, sem distinção.

Na minha infância, toda reca de crianças que havia na rua  estava aparentemente livre, mas sempre sob a vigilância de alguém. Nenhum menino ou menina saia do entorno da rua sem que alguma vizinha já não colocasse freio. E todos os mais velhos tinham completa ascendência sobre a turma. Nosso limite era dona Noêmia, na ponta da rua ou então o seu Ciro, que tinha uma espécie de oficina, sempre com as portas escancaradas, vigiando a gurizada.

No alto da esquina, em frente o bar da Dona Zezé ficava o Newton, Que era considerado o “louco” da rua, mas ao qual todos obedeciam. Os filhos eram filhos de todos e se algum se machucava nas correrias, sempre haveria alguém para resolver o problema.

A mesma coisa acontecia com os velhos.  Nenhum dele ficava abandonado ou ia para um asilo. Nos dias de sol, eles ficavam na calçada, sempre vigiado pela gurizada ou por algum adolescente. Qualquer movimento em falta, e lá já estava alguém ajudando. Se ficassem muito agitados, havia quem os acalmasse, e se precisasse de ajuda para um banho ou um passeio a comunidade estava a postos.

Hoje não, estamos sozinhos. Na rua poucos se conhecem e também estão se lixando para a vida do outro. Cada um que cuide do seu. As crianças, ou tomam Rivotril, ou são encarceradas pelas babás. E os velhos, ah, os velhos. Esses viram prisioneiros, seja nos asilos ou nas casas sem afeto. E não é porque as famílias sejam ruins. Como trabalhar? Como ganhar dinheiro para sustentar a família e ainda oferecer todo o cuidado – que é de 24 horas  - a uma pessoa idosa? E como pagar por um cuidador, quando a vida já tá tão dura? Sobra o asilo, decisão tão dura.

Eu mesma tenho uma penca de velhos muito amados vivendo seu momento de ocaso. Tios, tias, amigas, pai, todos eles precisando daquela atenção redobrada, do cuidado, do carinho, da paciência, da vigilância 24 horas. E como fazer? Cada um num lugar, cada um tão sozinho, entregue à solidão, em lugares distantes.

E tudo o que eu queria era poder reuni-los numa dessas ruas do passado, nas quais ninguém ficava em solidão e tudo era solidariedade.


Mas, o passado não volta mais. Restam-nos as soluções individuais, nem sempre fáceis. Por isso fico a pensar que a família era mesmo a coisa mais importante do mundo, porque a família era comunidade. Hoje não temos mais nenhuma delas. Nem família, nem comunidade. Estamos sós, mirando o abismo! 


terça-feira, 12 de julho de 2016

Sindicatos e trabalhadores: um mundo de contradições


 Colegas em luta
Janice Miranda 










Dirigentes no contra-ato


Sempre foi conflituosa a relação entre direções e trabalhadores de sindicatos. No mais das vezes a tendência é contratar pessoas que estão mais afinadas com o posicionamento político das direções de plantão. O que é ruim para o trabalhador, porque ele sempre estará na corda bamba, esperando que a direção se perpetue para não perder o emprego. E também é ruim para os dirigentes que, sendo de outras tendências políticas, se deparam com pessoas da confiança da chapa anterior no coração da entidade. Esse é um conflito vivido cotidianamente por dirigentes e trabalhadores.

Alguns sindicatos maiores, que têm estrutura grande e empregam mais pessoas, encontram saídas para esse problema realizando concursos, o que parece mais democrático. Mas, mesmo assim, como o trabalho de sindicato é diferenciado, é comum que os trabalhadores se afinem com uma ou outra direção. Logo, é preciso muita habilidade para lidar com todos os problemas que surgem. Não é fácil. Mas, também não é difícil. Ainda assim, não é raro acontecer denúncias de assédio moral, assédio sexual e violências contra trabalhadores de sindicatos por parte de sindicalistas. Em Santa Catarina muitos casos com esse teor foram denunciados e é sempre muito doloroso, porque é como cortar a própria carne, já que todos fazem parte da classe trabalhadora e acusar um dirigente sindical gera sempre um drama na cabeça do trabalhador, que ultrapassa o próprio drama vivido.

Essa semana a cidade de Florianópolis viveu um caso que se enquadra dentro desse contexto. O Sindicato dos Bancários demitiu uma jornalista, com 12 anos de casa, sem estabelecer uma justa causa. Considerando que a jornalista, Janice Miranda, é uma trabalhadora lesionada com diagnóstico de LER/DORT já há alguns anos, e que sua demissão não se enquadra em nenhuma das justificativas acordadas na cláusula 35 do acordo vigente entre os sindicatos e o Sindicato dos Trabalhadores em Entidades Sindicais (SINDES), a entidade que a representa decidiu dialogar com o Sindicato dos Bancários, sem sucesso. Na falta de diálogo, e não concordando com a demissão fora do acordado, o SINDES decidiu chamar um ato de protesto para o dia que foi proposto para homologar a demissão.

O ato aconteceu nessa segunda-feira, dia 11 de julho, com a participação de trabalhadores em sindicatos e jornalistas que foram se solidarizar com a colega. Para surpresa de todos, o Sindicato dos Bancários promoveu um contra-ato. Com uma Combi de som, a diretoria buscava abafar o discurso que se fazia em uma pequena caixinha de som, pelo SINDES, em defesa de Janice. A cena era surreal. De um lado da calçada, os trabalhadores de sindicatos, bem como a jornalista demitida. Do outro lado, os dirigentes do Sindicato dos Bancários falando sobre o fora Temer e discursando contra as terceirizações no setor bancário. De costas para os manifestantes, os dirigentes dos bancários falavam para eles mesmos fazendo alusões de que os que estavam do outro lado da rua estavam tentando desestabilizar a luta da classe trabalhadora. Uma cena triste e patética.

Num determinado momento, duas viaturas da Polícia Militar passaram pela rua e pararam. Não se sabe se foram chamadas pelos bancários ou não. O fato é que os policiais vieram e ordenaram que não se usasse mais a caixa de som. Os trabalhadores que se manifestavam disseram que desligariam desde que os dirigentes bancários também deixassem de usar a Combi de som. E assim foi.

Ainda assim o protesto dos trabalhadores não esmoreceu e todos se dirigiram para a outra rua, na segunda entrada do Sindicato dos Bancários, e ali ficariam até às três horas da tarde, horário marcado para a homologação da demissão. E, de novo, enfrentaram a Combi dos dirigentes, falando em “defesa do trabalhador”.  O SINDES emitiu um documento, o qual foi entregue ao Sindicato dos Bancários, recusando-se a participar da homologação. Segundo o SINDES, o sindicato reconhecia a doença de Janice desde 2006, uma LER/DORT, e deliberadamente se omitiu de registrar a reabertura de uma Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), depois que a jornalista voltou de mais uma licença médica.

Para os colegas que participaram do ato em defesa da jornalista Janice Miranda, a posição do Sindicato dos Bancários foi autoritária e imoral, já que se trata de uma trabalhadora adoecida pelo trabalho que desenvolve. “O sindicato pode demitir, é lógico. Mas, precisa ter uma prática diferenciada, já que também defende trabalhadores. Tinha que ter discutido com a trabalhadora, ter conversado com o SINDES, estabelecido um diálogo franco”.

Mas, não foi o que aconteceu, daí a proposta de ato que foi acolhida por grande número de trabalhadores em sindicato.

A direção do Sindicato dos Bancários emitiu uma nota, na qual argumenta que a demissão da jornalista foi um ato administrativo da direção visando o “aprimoramento das relações de trabalho e atendimento à necessidade de adequação do quadro funcional”. Também diz que foi feita a avaliação médica e que essa garante ser a doença da jornalista uma “doença comum”.  Também informa a nota que o sindicato pode demitir sem justa causa, conforme o artigo 32 do acordo coletivo de trabalho. A nota fala sobre os investimentos feitos pelo sindicato na saúde do trabalhador e repudia a ação do SINDES, e considera “as declarações inverídicas, oportunistas e desmedidas”, por parte do SINDES.

O fato é que a trabalhadora em questão tem LER/DORT reconhecida e diagnosticada desde 2006. Para quem não sabe, essa é uma lesão por esforço repetitivo, adquirida por conta do tipo de trabalho, no caso do jornalista, a digitação. E é fato também que o sistema capitalista de produção não está nem aí para as doenças que provoca no trabalhador. Quando ele não serve mais, joga-se fora e contrata-se outro. Esperava-se que num sindicato de trabalhadores as relações de trabalho fossem menos impessoais e vorazes. Afinal, todos estão submetidos ao mesmo chicote da produção. Mas, essa é uma relação que precisa de muito diálogo, de superação de divergências pessoais e de maturidade política.

A luta dos trabalhadores – como classe explorada – não é coisa fácil, ainda mais quando tem de travar lutas intra-classe, fragilizando e fragmentando ainda mais uma luta que deveria ser coletiva e unificada. 

Nesse caso, quem se delicia é o capital.


Já a dor da Janice só pode ser narrada por nós, trabalhadores, e no, abraço fraterno, encontrar solidariedade. A perplexidade que fica não esmorece a luta por um sindicalismo generoso com seus trabalhadores e diferenciado no trato da demissão. 

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Quando adoecer é um pecado













Janice Miranda, estamos contigo.


Janice Miranda é jornalista e trabalha no Sindicato dos Bancários de Florianópolis. Janice adquiriu uma doença por conta do trabalho, uma doença muito comum entre jornalistas ou pessoas que precisam repetir movimentos: a LER/DORT. Por conta dessa doença, Janice precisava ficar em repouso por períodos sistemáticos. E, nesses dias, Janice não podia trabalhar. Nesses dias de repouso, Janice não produzia. Não dava. Tinha muita dor.

Janice passou a ser vista pelos “patrões” como alguém que dava muita despesa e produzia pouco. Janice sofria com isso, mas calava, afinal, precisava vender sua força de trabalho, ainda que lesionada. Janice resistiu por muito tempo, trabalhando mesmo quando o corpo inteiro pedia para que parasse.

Janice foi demitida há alguns dias pelo Sindicato dos Bancários. Janice dava despesa e não produzia. Dane-se a dor da Janice. Dane-se que ela tenha dado seu sangue por mais de uma década a um sindicato de trabalhadores. Dane-se que agora ela estava “estragada”. Janice foi mandada embora. Já não eram mais necessários seus serviços.

Tudo bem. A gente sabe que no capitalismo é assim. Não precisa motivo para um patrão mandar embora. Patrão tem prerrogativa sobre o que quer ou não para si. E ao trabalhador resta aceitar e seguir em frente, vendendo sua força de trabalho a outro. Mas esse não era um “patrão” qualquer. Era um sindicato, que tem como premissa defender o trabalhador. Paradoxalmente, os bancários são parte de uma categoria que sofre muito com essa lesão por esforço repetitivo. Mas, para Janice não teve defesa. Ela dava despesa e não produzia o suficiente.

Ocorre que Janice não está sozinha. Ela tem um sindicato. O sindicato dos trabalhadores em sindicato. Pode até parecer loucura, mas não é. Sindicatos também se comportam como patrões e os trabalhadores de sindicato precisam de um sindicato que os defenda. E o SINDES está defendendo a Janice.

O SINDES realiza hoje um ato de protesto em frente ao Sindicato dos Bancários. Das 11h  às 15h. Considera a demissão ilegal por se tratar de uma trabalhadora lesionada, portando com estabilidade. O SINDES vai lutar e nós também. Porque hoje é a Janice, amanhã pode ser qualquer um de nós.
No sistema capitalista é assim. O trabalhador trabalha até esgotar e quando ele fica doente é jogado no lixo. Mas, o sistema capitalista precisa saber que os trabalhadores se organizam e lutam, juntos, contra o terror. E quando os trabalhadores se junta, eles vencem.

Venha para o protesto. Traga seu apoio. 11h, em frente ao Sindicato dos bancários, na Rua dos Ilhéus. Janice precisa de nossos braços e abraços. E nós estaremos lá!