domingo, 5 de maio de 2013

Pelas ruas chinesas




Nas grandes cidades chinesas o trânsito é coisa de doido. Logo na chegada, a impressão que se tem é de que ninguém respeita o pedestre. Quase não há sinaleiras e o movimento é ininterrupto. Mas, depois, acostumando-se com o ritmo da cidade, o que se percebe é que é justamente o contrário. O pedestre é que é soberano. Capturei isso olhando, desde o décimo andar, para uma enorme rótula numa das entradas da muralha de Xian. Parecia impossível que as pessoas pudessem atravessar a rua naquela sequência alucinante de carros, sem que houvesse passarelas ou sinais. Só que tudo se move como num bem ensaiado balé. Os carros andam em velocidade baixa, as bicicletas atravessam em paz e as pessoas vão cruzando a rua, por entre os veículos. Ninguém xinga  e todos seguem seus caminhos, num ritmo nada acelerado.

Aparentemente pode parecer caótico, mas tem uma ordem ali. Mesmo no meio da madrugada, os carros que cruzam a rótula seguem em baixa velocidade. Vão lentos, mesmo que não haja ninguém na rua. Nas cidades como Beijin e Shangai, com mais de 25 milhões de habitantes, esse ritual é muito parecido. As ruas largas até tem algumas faixas de pedestres, mas ainda assim as pessoas vão atravessando em qualquer parte da rua, devagar e ritmadas, como numa dança com os carros. Da mesma forma as bicicletas e os estranhos taxi-bicicletas que se veem por toda a parte.

Navegando pela internet vi muitos comentários de pessoas que viajaram para a capital chinesa, falando mal do trânsito. Pareceu-me que essas criaturas não conseguiram compreender a profunda sintonia que existe nas ruas. Um pouco aquela coisa de olhar um mundo tão distinto como o chinês, a partir da perspectiva ocidental. Eu circulei pelas imensas ruas de Beijin no mesmo diapasão: compartilhando o espaço com os carros, atravessando lentamente as ruas, desviando dos possantes e das bicicletas. Em nenhum momento senti medo de ser atropelada, coisa que sinto comumente no meu país, mesmo estando em cima da faixa. Penso que existe lá, naquela cultura milenar, um respeito profundo pelo humano que, apesar de todo o crescimento econômico, tão visível nos grandes centros, ainda não se perdeu.

Definitivamente, as ruas das grandes cidades chinesas são adoráveis espaços humanos. 



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