segunda-feira, 29 de junho de 2020

Dia do Pedro


Hoje é 29 de junho, dia dos Pedros do mar, dia dos pescadores. Nesse dia, aquático por natureza, nasceu o Pedro, meu amor. Esse canceriano diuturnamente grávido de ternura. Dele, não escapa uma palavra ruim, uma ofensa, um ai. Ele olha para a vida como se realmente tivesse entendido a promessa de que aqui seria um grande jardim, onde seríamos felizes. Pedro nunca saiu do paraíso. Ele o constrói, dia a dia, e generosamente o oferece aos que ama. Não que não sofra. Sim, ele sofre. Já sofreu perdas inomináveis. Mas, enfrenta com a certeza de que o que aqui se cumpriu foi bom e de que haverá o grande encontro. Então, volta a brincar no paraíso, com seu riso de menino, tornando tudo colorido.

Quando meu pai chegou, trazendo a demência e toda a mudança que gerou nas nossas vidas, ele tratou de ir tirando os entraves do caminho, abrindo os espaços para que o riso se mantivesse e a ternura fosse o fio condutor da nova existência. Ele já havia aberto espaços para dois desconhecidos vindos de Minas, que em pouco tempo já ocupavam seu coração, haveria de achar um canto para meu velho pai. E tem sido assim. Ele é o risonho pastor de gentes e bichos, mesmo dos gatos que diz não gostar. Sua presença ilumina a casa bem mais do que o gerador mais potente, bem mais do que o sol. Agora, avô duas vezes, de vera e emprestado, ele volta a abrir novos espaços nesse coração gigante, cornucópia de amor. Tudo é dádiva.

Com ele eu vivo desde há anos, quase sem rugosidades, e como Jesus apontando ao seu discípulo preferido eu também vaticino: Pedro, tu és pedra, e nela amarro meu barco, evitando que ele se perca no mar da demência e do imponderável. Ancorada no teu cais, eu me transformo em pandorga, e voo, para além do meio-dia, lá onde a dor não pode me alcançar. Porque tu és esse menino que não tem medo de soltar o fio, já que sabes que sempre encontrarei o caminho para tua morada.

Amo-te, broto. Amor meu. Feliz aniversário.


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