sábado, 27 de agosto de 2011

Governo brasileiro se nega a conversar com trabalhadores das universidades


Diz um amigo meu que o momento de êxtase de um burocrata se dá quando ele nega algo a alguém, baseado apenas no seu pequeno poder de negar. “Não pode”, “não dá”, “não tem”. Não há argumento para a negativa, há apenas o exercício gozoso do seu poder de negar. E a pessoa, colocada diante do poder do burocrata, fica absolutamente sem chão. Alguma coisa assim como Josef K, da obra perturbadora de Kafka, “O Processo”. Pois é nessa perplexidade que estão os trabalhadores das universidades federais, em greve desde o dia 06 de junho deste ano.

Que se explique: a greve foi a única medida possível depois de os trabalhadores serem submetidos a contínuas e intermináveis reuniões que apenas marcavam outras reuniões, sem que fosse discutida, verdadeiramente, a pauta e as demandas. Colocados diante de pequenos burocratas, os trabalhadores se viam, a cada reunião – que o governo chamava de negociação – submetidos ao jogo perverso do “não pode”, “não dá, “não tem”. E saíam das salas acarpetadas dos burocratas de plantão, desorientados e sem chão.

Mas, essa desorientação chegou ao fim, afinal, os trabalhadores das federais não são Josef K. Eles são uma coluna coletiva de gente que sabe muito bem o que quer. E, assim, diante do pequeno poder dos burocratas do ministério da educação (assim, com minúscula) eles se levantaram em luta. Porque no mundo capitalista é assim: quando o patrão não se digna a conversar e propor melhorias, os trabalhadores precisam lutar, já que só possuem sua força de trabalho para barganhar.

Mas, para a surpresa dos trabalhadores a lógica do burocrata não parou nos terceiros escalões do governo de Dilma Roussef. Ela se expressa na própria dirigente que, ao calar-se, respalda a idéia obtusa dos pequenos burocratas que se negam a conversar. E, afinal, quem é que comanda a burocracia dos escalões menores?

Nesses quase 90 dias de greve muito se falou da intransigência de um dos menores, um burocrata do ministério do planejamento chamado de Duvanier (Satânier no imaginário da turba insurgente). Incorporou-se na categoria a idéia de que era ele, o Duvanier, o responsável pelo travamento das negociações. Surgiu até a informação de que o mesmo teria dito que se houvesse negociação do governo com a Fasubra, ele se demitiria. Penso que isso deva ser lenda. Um burocrata do terceiro escalão não teria esse estofo. Ou teria?

Acredito que quem está pensando as estratégias para confrontar a greve dos trabalhadores da Educação é o governo federal, o Estado constituído. E esse Estado tem uma dirigência maior, que não é o Duvanier. Impossível crer que a presidente do Brasil desse a um burocrata menor todo esse poder.

É hora dos trabalhadores compreenderem que a questão da greve não está condicionada a uma pessoa, embora esse senhor se preste – por livre vontade - a esse serviço sujo. Essa é uma política do estado, comandada pela presidência da república. Há uma atitude deliberada de não reconhecer o direito de luta dos trabalhadores. Há a decisão explícita de não conversar com categoria que está em greve, impondo assim um terror calculado nas demais categorias que pretendam se levantar em luta. Até mesmo os professores que ensaiaram um movimento contentaram-se com uma proposta rebaixada.

O governo insiste que não tem recursos para atender aos trabalhadores. É que os dirigentes sabem que a hora fatídica chegou. O “crescimento econômico” parece dar seus aportes finais. É chegado o momento de injetar dinheiro nas obras da Copa, na construção de Belo Monte, na salvação de empresários falidos, de latifundiários em crise. Por isso essa luta que se trava nas universidades é uma luta contra o capital. Porque o que vai para os capitalistas está sendo tirado da boca dos trabalhadores. É mesma velha luta de classe.

O que dizer de um governo que permite que quase 50 universidades públicas estejam há quase 90 dias em greve? Que dizer de um governo que permite que os alunos estudem sem biblioteca, sem RU? Que governo de trabalhadores é esse que não conversa, não dialoga? Que governo é esse que escolhe sustentar os desejos do capital, arrochando os trabalhadores? Essas são questões a se pensar, observando o verdadeiro inimigo.

A greve é uma batalha legítima do trabalho contra o capital. E essa batalha não pode ser tripudiada pela burocracia estatal. Talvez seja hora de os dirigentes sindicais trilharem novos caminhos. Há quase 90 dias em greve, quase implorando por negociação, tudo o que recebem é indiferença. Assim como os povos ribeirinhos do Xingu, os índios, os aposentados. Indiferença total. A porta é fechada pelos burocratas, os que dizem não sem nem saber por quê. Já basta!

Que as gentes saibam: nas universidades os trabalhadores estão em luta porque querem condições de vida dignas. Os estudantes estão em luta porque querem uma universidade de qualidade. São três meses com as universidades paradas e parece que ninguém se importa. O que isso pode significar? Que a universidade tampouco tem importância no nosso país. Que a educação é coisa menor comparada com a sede de lucros da elite local, amparada e financiada pelo governo federal. Estado mínimo para as gentes e máximo para o pequeno grupo de poderosos.

A dureza do governo é tão grande que ele não quis conversar nem com as centrais sindicais, que se mobilizaram para mediar as negociações. “Não há conversa com os trabalhadores em greve”, dizem os burocratas. E, aqueles que de força só tem a sua capacidade de trabalho é quem são os “intransigentes”.

A greve nas universidades continua. E agora, a luta deve passar a outro escalão. Que se manifeste a presidente!

Um comentário:

02011989 disse...

uma vergonha para a democracia brasileira o que o governo fez com os professores das IFES. os estudantes apoiam a continuidade da greve em protesto a esse ato insano e inconstitucional de "forçar" assinar o acordo.