segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Indígenas e fazendeiros



A imagem é impactante. Dois indígenas caídos, um ao lado do outro. São irmãos. Um é do cacique Nailton, baleado na barriga. O outro é da Nega Pataxó, morta. Outras pessoas também resultaram feridas depois de uma ação realizada por uma horda de fazendeiros e comerciantes de Potiguará, interior da Bahia, que decidiram expulsar os indígenas Pataxó da terra onde estão, que é deles por direito. Segundo informações que chegam diretamente da comunidade indígena pelo Instagram, a Polícia Militar estava junto com os fazendeiros e também atirou. A notícia foi dada pelos jornais e portais de notícias como mais um "conflito entre indígenas e fazendeiros", como se fosse uma cena comum. E é. Desde que as comunidades, que viviam em beiras de estrada ou vagando pelo país, decidiram retomar suas terras originárias, a batalha é essa. Fazendeiros se dizendo os donos legítimos e atuando ao arrepio da lei. E, em alguns casos, ainda são escoltados e protegidos pela PM. Um verdadeiro faroeste.

E, assim como nos filmes de faroeste, quem aparece como "mocinho" são os fazendeiros, porque, afinal, o agro é pop. Já os índios... Quem se importa com os corpos caídos? Há notícias de que dois fazendeiros foram presos "suspeitos" de serem os responsáveis pela morte da Nega Pataxó. Mas, alto lá, são só "suspeitos", o que significa que podem se safar. E os demais? Os que, tal qual uma organização quadrilheira, organizam uma ação armada? Tudo bem? Esses jamais serão chamados de bandidos.

Faz tempo demais que eu acompanho a luta indígena no Brasil. E por mais que tudo seja banalizado ainda me assombra de maneira visceral uma imagem como essa. O governo, dizem os jornais, mandou uma comissão do Ministério dos Povos Indígenas. Tudo bem. Mas isso não vai ressuscitar a Nega Pataxó nem todos os que tombaram. Há que ter uma ação firme de demarcação das terras, há que ter proteção às comunidades indígenas e há que ter ação exemplar contra os "reis do faroeste". Caso não, amanhã teremos novos corpos caídos no chão.

São corpos de não-seres, de pessoas que não importam para a grande maioria das gentes. Assim como não importam os milhares de corpos de crianças palestinas na genocida ação de Israel. Assim como não importam as centenas de crianças mortas nas comunidades de periferia do nosso país, atingidas por balas perdidas, ou os corpos de jovens empobrecidos que tombam todos os dias bem diante do nosso nariz. Eu não sei como as pessoas conseguem dormir em paz... Não sei como não nos levantamos em rebelião já que somos maioria.  

Sobre Israel pouco podemos, mas sobre a ação no Brasil temos mais ingerência. Elegemos um governo que nos salvaria do "fascismo". Ok. Mas agora precisamos de um governo que atue em consequência para realmente mudar esse país.



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