Dos seis aos 10 anos vivi colada na vida de Getúlio Vargas, em São Borja. Minha família morava numa casa de aluguel pertencente à Dona Dília, getulista roxa. Bem em frente ao casarão do qual ocupávamos a metade estavam os fundos da casa do filho de Getúlio, Viriato, e alguns metros à frente, a casa do próprio Getúlio. Andar por ali era caminhar na história. Foram incontáveis as vezes que brinquei nos jardins da casa do Viriato com outras crianças que eram filhas das empregadas da casa. Ao contrário da casa do Getúlio, que sempre foi um típico casarão da Banda Oriental, a casa do Viriato se destacava como uma mansoneta moderna, com um imenso pórtico de pedras.
Neste janeiro fui à São Borja e como não poderia deixar de ser fui visitar minhas memórias. Lá estava a casa da Dona Dília, sólida e impecável, bem como a do Viriato, esta transformada agora em uma empresa. Mais dois passos e Getúlio me acolhia com uma boa cuia de chimarrão. É que hoje tem uma estátua dele, sentado num banco, em tamanho natural, bem em frente ao casarão.
A casa que hoje abriga o museu foi construída em 1910 e para ela se mudou Getúlio no ano seguinte logo após o casamento com sua esposa Darcy. Era ali também que ele tinha seu escritório de advocacia, no qual atendia a gente de São Borja, ricos e pobres. O museu foi idealizado pelo seu filho mais velho, o Dr. Lutero, e em 1984 foi inaugurado. Ali se pode acompanhar a trajetória política do caudilho, ver os seus objetos pessoais, móveis, livros, documentos, roupas, discos, retratos e até a máscara mortuária. Getúlio está sereno na sua expressão final.
Aquele dia em São Borja estava especialmente calor, com a sensação térmica acima dos 40 graus, ainda assim, por conta do pé direito bem alto, a casa se mantinha fresca e a visita pode ser feita com vagar. Por conta das mudanças na política local, a professora que atendia como guia havia sido transferida para outro espaço municipal e a casa contava com apenas uma trabalhadora. Ela não sabia dar muitas explicações sobre os objetos e a vida de Getúlio, mas era visível seu carinho pelo presidente. “Ele foi o pai dos pobres”.
E assim, enquanto a cidade ardia no calor, percorremos os cômodos reverenciando aquele que muito fez pelo Rio Grande, pelo Brasil e pelos trabalhadores. Foi o presidente que abriu a porteira do capitalismo moderno, mas que, ainda assim, mantinha firme seus ideais nacionalistas.
Para mim, a Elaine menina, além de ele ser o pai do seu Viriato, em cuja casa nos esbaldávamos, já aparecia como uma espécie de herói visto que meu pai tinha por ele muito respeito. Naqueles dias eu pouco sabia de sua história, mas já lhe queria bem, porque meu pai dizia que ele protegia os empobrecidos. Hoje conheço sua vida e suas contradições, e continuo lhe querendo bem...
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