terça-feira, 17 de novembro de 2020

Eleição x Revolução



Como sempre, depois das eleições, a gente acorda meio atordoada. É de lei. A gente entra no processo sem esperança, a gente sabe que as eleições são definidas pelo poder econômico, que há pouca consciência crítica e tal, mas, no andar da carruagem dá aquela animadinha. Quem sabe, dessa vez? Quem sabe, um milagre? Então, a derrota das pautas da esquerda nos traz de volta ao mundo real. 

No campo institucional praticamente não há espaço para as propostas de mudança estrutural. É uma completa ilusão. O conservadorismo é a regra, o sistema se mantém intacto. Algumas pequenas vitórias aqui e ali levantam a moral, mas é só uma musculação da esperança, porque, de fato, mudam muito pouco o estado das coisas. Ser um vereador de esquerda, por exemplo, numa Câmara qualquer, ajuda a denunciar, a inspirar a consciência de classe, a alfabetizar politicamente, mas tem pouca interferência na vida das cidades. Os projetos da direita, que definem as cidades, passam, e ponto final. Há, óbvio, avanços, na medida em que colocam temas que não seriam colocados, mas é tudo. No que é estrutural, os inimigos vencem.

Isso nos leva ao ponto: só uma revolução pode efetivamente colocar o mundo “patas arriba”. Não há outra escapatória. As tentativas institucionais, como na Bolívia, na Venezuela, mostram que as conquistas são poucas e que as reformas estruturais caminham com exasperante lentidão, além de serem sistematicamente atacadas. Já Cuba, que botou a elite reinante pra correr, avançou muito e só não avançou mais porque está bloqueada e isolada no mar do capitalismo. Só que lá houve mudanças na estrutura. E como disse um otário aí, lá eles “só” têm educação, saúde e segurança de qualidade e universal.  Isso não é bolinho. Foi conquistado no braço, revolucionário.

Assim que a ressaca da eleição, esse véu de maya, só aponta um caminho. Esse caminho pode parecer inexistente, nebuloso, inalcançável. Mas, uma olhadinha na história e a gente já percebe que ele pode aparecer assim, do nada, no meio da bruma, nos mostrando que ainda que não tivéssemos percebido, ele estava lá. Daí a necessidade de formar as colunas de combatentes. Preparar e preparar, pois quando o vento dissipar a cortina, temos de estar prontos para caminhar, combater e vencer.

Acordei triste, mas já me animei e tal qual Morgana, a bruxa celta, já estou de pé, na beira do lago, esperando a barca.



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