Foi assim. Nunca levei dores para casa. Longe da mãe desde bem novinha, a vida foi se encarregando das rasteiras. Mas, para a dona Helena, só contava alegrias. Nas longas cartas que iam para Minas, as letras falavam de belezas, risos e coisas boas. Mas, eu mesma tinha um código. Quando eu ficava doente ou a dor era tanta que não dava mais para suportar, eu telefonava. Não para contar tristezas, apenas para ouvir sua voz.
No mais das vezes era ela quem atendia o telefone. Então eu dizia:
- Mãe? - bem sabendo que era ela. E ela respondia:
- Filha? - bem sabendo que era eu. Só naquela palavra se encerrava um mundo e imediatamente tudo ficava bem outra vez.
Geralmente falávamos de costuras, crochê, tricô e outras coisas do seu mundo de trabalhos manuais. Eu contava alguma novidade e pronto. Estava feito. Era tudo o que eu precisava.
Nesses dias em que tudo nos lembra a mãe da gente, com propaganda e outras opressões da bondade, eu sempre fico um pouco triste. Não há linhas telefônicas no cosmo infinito.
Mas, ainda assim, nessa hora noa, quando entardece, eu sussurro baixinho: - mãe?
E consigo ouvir sua voz docinha, respondendo infalível: - filha?
Já posso dormir em paz...
Um comentário:
Obrigada por provocar lágrimas em meus olhos.
Um abraço
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