domingo, 5 de outubro de 2014

Os desafios da luta pela jornada em turnos na UFSC


Enquanto boa parte dos militantes e candidatos às eleições de 2014 descansa da batalha pelos votos, os trabalhadores da UFSC voltam para mais uma semana de luta. Serão completados dois meses de greve de ocupação, uma greve nova, de trabalho, na qual nenhum serviço deixou de ser prestado. Ao contrário, ampliou-se o atendimento para mostrar o quanto a universidade precisa de estar funcionando de maneira ininterrupta, sem excluir ninguém. Uma batalha de gigantes: trabalhar, dar conta de tudo, e ainda ter de organizar reuniões, mobilizar, escrever, pensar, tudo sem ajuda do sindicato.

Dois meses de luta renhida e quase solitária. Na casa do saber nenhum “intelectual” dignou-se a discutir o tema dos trabalhadores. Redução de jornada parece ser um tema espinhoso demais. Nenhum iluminado quis indispor-se com seus pares por um tema tão “tacanho”. O silêncio dos professores denota uma gritante verdade: estão bastante satisfeitos com o chicote instituído pela reitora Roselane Neckel. Muitos acreditam que a universidade pode funcionar muito bem sem os trabalhadores técnico-administrativos, os computadores fazem tudo agora. E a outros, os TAEs são tão insignificantes que não há porque mover palha por eles. Que se virem. Ou então, que peçam ajuda, como verbalizou um colega.

Também é sintomático o silêncio dos demais sindicatos da cidade. Nenhuma nota de apoio, nenhuma manifestação pública, nenhum gesto de solidariedade, nenhuma nota da greve nos seus informativos. E estamos lutando na UFSC por uma pauta que é de toda a classe trabalhadora. Mas, ao que parece os sindicalistas andam mais preocupados com suas questões corporativas, ou talvez com as eleições. O próprio sindicato dos trabalhadores da UFSC puxa a greve para baixo todos os dias. São tempos sombrios.

Na Câmara de Vereadores temos pelos menos dois vereadores alinhados com as lutas dos trabalhadores. Um deles é professor da UFSC. Mas, de lá, também não saiu qualquer manifestação. Nenhuma fala na tribuna, nenhum pedido de reunião com a reitora. Nenhuma palavra pública de apoio à batalha pela ampliação do atendimento na universidade. Na Assembleia Legislativa também temos os tradicionais aliados. E lá, o silêncio igualmente foi total. Possivelmente a caça aos votos foi mais gritante do que a resistência de um pequeno grupo de trabalhadores. 

No campo da universidade, apenas o movimento UFSC à Esquerda e parte do movimento estudantil tiveram a coragem de se manifestar publicamente, comparecendo às assembleias e participando dos atos. Um grupo pequeno, mas valioso, capaz de insuflar coragem e entusiasmo aos trabalhadores. 

E assim, com poucos parceiros, os trabalhadores vêm enfrentando a maior onda de autoritarismo que já se teve notícia na UFSC. Nenhuma disposição ao diálogo. Comissões de negociação são montadas, os professores dizem uma coisa e, no dia seguinte, o que vem é algo totalmente diferente, sempre golpeando e punindo.  Descaso e desrespeito. A luta pela ampliação de atendimento apontada como mais uma tentativa de “vagabundagem”.

Na perplexidade dos dias, os trabalhadores em luta viram suas reivindicações serem tratadas como busca de privilégio, tiveram seus salários cortados e sofrem cotidianamente violência e assédio moral. Dois meses e nenhum avanço. Pelo contrário, apenas a “mão dura” em nome de uma suposta moralidade enquanto nos bastidores seguem sendo firmados acordos. “Não incomode e a gente dá jeito”. Na verdade, o que ocorre no campo da administração é a consolidação do horário como moeda de troca, só que agora revestido de novos atores. Aparentemente tudo muda, para tudo ficar igual. E, aqueles que não aceitam a lógica do “jeitinho” e que tampouco querem fazer de seu tempo espaço de favores, são os que acabam recebendo a mais dura punição.

Na última semana a reitoria deu mais um duro golpe na luta. No mesmo dia em que mandava aos trabalhadores uma “proposta” de negociação, encaminhava a todos os grevistas uma notificação de desconto de horas. Documento esdrúxulo porque não tem qualquer base material para sua existência. Na verdade, era só um giro a mais do chicote. Um azote no lombo para que a decisão pudesse ser mais “fácil”, uma lambada para incitar o medo e o terror.

A semana que inicia convoca os trabalhadores à reflexão. Afinal, mesmo dentro da categoria encontramos os que ajudam a enfraquecer a luta. São os que aceitam os acordos, os que aceitam a folha ponto sem questionar, os que observam de longe, sem se misturar. Os que se mantém em silêncio diante do arbítrio. Teremos nova assembleia na terça-feira e todos esses pontos deverão ser discutidos. Continuar a greve ou aceitar a derrota sob o jugo do autoritarismo? Temos unidade e força como categoria para seguir?

Aconteça o que for, a derrota dos trabalhadores da UFSC será também a derrota de toda a classe. Mas, a vitória da administração será como a de Pirro. Dobra os trabalhadores, mas entra para a história como a administração mais autoritária, menos capaz do diálogo, mais assediadora, mais violenta no trato com os técnico-administrativos. Uma marca infeliz. Mesmo que todos os colegas professores tenham mantido reverente silêncio diante das ações da reitora, isso não significa que haja uma aceitação por parte deles dessa administração. Ela apenas está fazendo o trabalho sujo, que muitos deles – quando já estiveram nessa posição – não ousaram fazer.  É isso que, em alguma medida, boa parte dos colegas docentes aplaude.

Para nós resta a sempre clara lição: a batalha por direitos não é fácil. Exige altos preços a pagar. E, o que hoje estamos pagando - algum desconto no salário – não se compara ao que pagaram os heroicos companheiros que morreram na forca por lutarem pela redução da jornada para essas oito que hoje boa parte dos trabalhadores faz.

A modernidade exige uma mudança nas relações de trabalho. As novas tecnologias permitem que a redução de jornada aconteça agora. Estamos apenas antecipando o futuro que está bem aqui adiante. Por isso, quer essa administração queira ou não, as 30 horas vão chegar. E nós saberemos que fizemos a luta certa. 

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