sábado, 23 de agosto de 2014

Negros de Florianópolis em luta contra o genocídio














Fotos: rubens lopes






E, então, a marcha Guarani, proposta pelas comunidades indígenas para protestar contra a RBS e sua política de desinformação, também se fez negra. No dia 22 de agosto, quando em todo o Brasil o povo negro se levantava na Segunda Marcha Nacional contra o genocídio da população negra, em Florianópolis, militantes se uniram a caminhada indígena em solidariedade e em luta.  Os negros e negras se manifestaram potencializando a mensagem daqueles que, mesmo sendo maioria, seguem excluídos da vida digna nesse país. E, não bastando isso, ainda são submetidos a um sistemático processo de genocídio, com a morte cotidiana de sua juventude.  Não passa um dia sem que um negro tombe nessa batalha sem quartel de criminalização, preconceito, racismo e opressão.

Santa Catarina é conhecido como o estado que tem o menor índice de negros no Brasil (11% da população) e, por conta disso, é comum se ouvir que por aqui não há nenhum problema de racismo ou de violência contra o povo negro. Isso não é verdade. Assim, a comunidade precisa fazer o combate em duas frentes. Primeiro, mostrar que existem negros por aqui e, depois, mostrar que sofrem o racismo e a violência, exatamente como em todos os estados do Brasil.

Apesar de a escravidão ter chegado mais tarde nas terras do sul ela veio com todas as mazelas e, ao terminar, também deixou uma população negra na margem da vida. Livres, mas nem tanto, uma vez que como nos demais estados do país, não houve políticas de inclusão. Assim, em lugares como Florianópolis, o destino do povo negro foi a periferia da cidade, mas com a expansão do comércio e o surgimento de famílias abastadas logo foram empurrados para os morros. Sabe-se que desde a metade do 1700, bem antes da abolição, já havia famílias de negros, a maioria formada por fugitivos da escravidão e recém libertos, vivendo no maciço do morro da cruz. Logo, por aqui também vicejaram os quilombos, espaço de liberdade e resistência.

Com o crescimento da cidade, mais e mais famílias foram subindo as encostas e formando comunidades. Hoje, muitos destes espaços são considerados “perigosos” e recebem frequentes visitas da polícia, no mesmo “estilo” que as comunidades de periferia das grandes cidades do país. Tanto que desde alguns anos formou-se um movimento de mães de jovens assassinados clamando por justiça, denunciando a política racista que sistematicamente liga a figura do negro à marginalidade. A cor é motivo de suspeição.

E, não bastasse a violência do estado, o racismo também se expressa nos lugares mais inauditos. Com a política de cotas que agora existe na Universidade Federal, até nesse que deveria ser um centro de respeito aos direitos, de criação do saber e de vanguarda, o racismo aparece com força. Há poucos meses um estudante branco postou a foto de um casal negro, na qual o homem entregava um cacho de bananas à mulher. Isso gerou uma reação imediata dos estudantes negros da UFSC, que agora já são em um bom número, tornando-se visíveis. Esses estudantes realizaram protestos e abriram uma frente de luta importantíssima dentro do campus, mostrando que agora eles estão ali e querem muito mais do que integrar-se a uma cultura universitária eivada de preconceitos e discriminação. Hoje, eles circulam afirmando sua identidade, com elementos da sua cultura e, principalmente, atentos ao racismo – sempre recorrente - prontos para o combate.


E foi para dar visibilidade à luta e denunciar o genocídio que os militantes negros marcharam junto com o povo Guarani, com os quilombolas, com os sem-terra, os sindicalistas e militantes sociais, mostrando que o povo negro existe, é forte, é unido e tem direito à cidade. Na luta contra o racismo e a discriminação e contra a matança sistemática da juventude negra, aqui e em todo o Brasil.

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