Na minha rua mora um menino/homem/poeta/músico/anjo, nem sei
o que é, de tantas coisas cheias de ternuras. Ele "perde" seu tempo a
fazer brinquedos para a gurizada que ainda tem a rua de areia para viver a
infância. Volta e meia chega um guri no portão chamando seu nome. "Faz uma
flecha? Faz uma funda? Faz uma capa de batman? Faz uma pandorga? Arruma a
bicicleta? Enche o pneu? Tem uma fita pra amarrar o escudo do capitão américa?
Enche a bola? " ... É uma procissão! E ele, paciente, atende a todos os
pedidos, gastando horas a cortar bambus, a inventar capas e outras maluquices.
Outro dia o seu irmão de alma encontrou um caminhãozinho de
brinquedo jogado numa das trilhas do Campeche. Lá veio ele com o
"lixo" para ser reaproveitado. A carroceria virou um presépio e as
rodinhas ficaram largadas no chão. Pois o guri fazedor de coisas logo deu um
destino para elas. Pregadas em um pedaço de tábua logo viraram um rolimã. E
nessa manhã de sexta, calorenta demais, um piazito da Coruja Dourada saiu
agarrado ao brinquedo, com os olhos cheios de aventuras.
Enquanto o outro ficou, com os olhos cheios de novas
invenções, tão menino quanto o que saiu.
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