segunda-feira, 2 de julho de 2012

A Globo e os HUs



A rede Globo, dizem as boas línguas, entra na casa de 180 milhões de brasileiros. É quase a totalidade das gentes. E o programa Fantástico, nas noites de domingo também tem uma audiência cativa, de quase 70% destes 180 milhões. Não é pouca coisa. E, invariavelmente, como é comum na Globo, as informações são manipuladas, quando não mentirosas mesmo.

Foi o que vimos nessa noite de domingo do primeiro dia de julho. A reportagem da Globo realizou uma extensa matéria sobre os Hospitais Universitários. Pura ideologia e manipulação. A proposta era mostrar o caos na saúde pública, o que é muito louvável. E principalmente a situação dos Hospitais Universitários, que são referência em nível nacional em praticamente todos os estados onde existem. Isso também é fato, há uma precariedade e falta de funcionários. Há demora no atendimento e até mau atendimento. Até aí, tudo certo.

Depois de expor todos os problemas, o Fantástico mostra os protestos de alunos de medicina em alguns estados, exigindo melhorias. Também mostra as imagens feitas pelos alunos, denunciando o péssimo estado de alguns HUs. E, finalmente, para fechar , mostra a entrevista do presidente da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, dizendo que, agora, com essa nova empresa, as coisas vão mudar e os hospitais universitários voltarão a ter condições de atendimento, bons profissionais e serviço de qualidade.

Isso foi o que a maioria do povo brasileiro ficou sabendo: os hospitais são um horror, tá todo mundo indignado com isso, mas o governo, através dessa nova empresa, vai ajeitar tudo. As coisas ficarão bem. Certamente as famílias que se utilizam dos hospitais universitários – e não são poucas – suspiraram aliviadas. Que bom.

E é aí que está o engano, a mentira e a manipulação. Vamos aos fatos: É verdade que os hospitais universitários estão sucateados. Vivem há anos mendigando verbas, que não são liberadas. Também passaram mais de uma década sem contratação de novos funcionários e muitos deles acabaram terceirizando serviços, o que serviu para piorar ainda a situação. As contratações novas que aconteceram no governo Lula não foram suficientes para suprir tantos anos de esquecimento e segue havendo um déficit muito alto de pessoal.

A mentira: as manifestações nos HUs, que tem acontecido desde que os trabalhadores das universidades entraram em greve, são de denúncia desse caos, mas também são contra a EBSEHR, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, porque essa é uma empresa criada pelo governo, a qual ele chama de pública, mas que é de direito privado. Isso significa que a partir de agora a lógica de atendimento nos HUs será a das empresas privadas. Ou seja, doença vira mercadoria. Os hospitais terão de cumprir metas de produtividade. E o que é produtivo num hospital? Doença? A empresa também poderá contratar trabalhadores via CLT, o que significa criar mais uma categoria de trabalhadores nos HUs, esses fazendo as mesmas tarefas, mas tendo menos direitos que os trabalhadores públicos.
 
Assim, a entrevista da reportagem, que finaliza tudo, não por acaso é do presidente dessa empresa, a qual levou dos cofres públicos mais de cinco (5) bilhões de reais para ser constituída. Imaginem esse dinheiro todo indo para os HUs. Quanto bem não fariam? Mas não, o governo preferiu injetar recursos numa empresa de caráter privado. O mesmo de sempre. Os abutres que lucram com a dor humana ainda recebem dinheiro público, dessas mesmas gentes, para depois cobrar novamente pelo atendimento. Perversidade total.

A Globo, nessa noite de domingo, cumpriu mais uma vez seu papel de referendar qualquer governo. Não importa sua cor ou seu caráter. E o governo se utiliza – como sempre foi desde a sua criação – dessa empresa que consegue chegar aos lares de quase todos os brasileiros. Casamento perfeito para manter o povo enganado ou na esperança interminável de que “agora sim”, a coisa vai.

O fato é que o estrago está feito. Como desfazer essa ideia agora? Nós, com nossos panfletos, nossos atos públicos? Como chegar a essas 180 milhões de pessoas e dizer que tudo aquilo que eles viram no fantástico foi manipulação e mentira? Que os abraços nos HUs são abraços de luta. Em defesa do serviço público e não do serviço privado que essa empresa criada agora representa? Pois é! Tremendo desafio!

O que fica é a certeza de que o velho Brizola estava correto na sua incansável luta para tomar a Globo. As gentes precisam ter nas mãos o controle dos meios massivos de comunicação, para evitar que mentiras como a que foi escancarada ontem à noite, não repitam mais.

7 comentários:

Antonioni disse...

Nem tocar a greve dos servidores falaram. Nem falaram que o dinheiro do hospital de Porto Alegre 'brota em árvores no seu jardim'... se fosse oposição o PT estaria soltando fogos pelas vendas pela privatização; mas a Globo faz mais um favorzaço para o partido mais hipócrita e perigoso para os servidores da História do Brasil...

Gabriel P. Knoll disse...

Desculpe-me a franqueza, mas seu texto, no final, beirou ao totalitarismo comunista de Stalin, ou o totalitarismo nacional-socialista de Adolf Hitler - para não evocar Evo, Kirshner, Chaves e Fidel.

Existe uma prerrogativa humana anterior ao "controle dos meios massivos de comunicação": liberdade. Quem critica a Rede Globo não vê que ela só existe por meio do consumo de ideias amplamente difundidas na sociedade brasileira de que ela é a verdade; porque ninguém conseguiu ser tão profissional quanto este empresa. Entretanto, há pouco mais de 5 anos, a RIC cresce no mercado da informação, criando um novo mercado no Brasil. No meio televisivo, a comunicação carece... mas a responsabilidade não pode ser de quem vende, mas sim do babaca que compra.

Antes de trazer uma proposta totalitarista e com ar de "vou salvar os fracos e oprimidos", que criemos uma concorrência. E, francamente, este tipo de texto à IELA é que não rola.

Só um dado, como gostas de escrever com veemência: os hospitais privados são os melhores do país; as escolas privadas, salvo a discrepância de dinheiro injetado, são as melhores do país, as estradas privadas são as melhores do país... a única coisa que o poder público consegue ser bom é no ensino superior (bem que eu acho a Casper Líbero bem melhor que qualquer UF - mas isso é gosto) e na arrecadação de impostos.

Vamos ser um pouco mais a favor das liberdade, né? O mundo já viu como funciona quando alguém se diz o detentor da sabedoria do que deve-se ou não fazer.

Abs

elaine tavares disse...

Olha, os alunos do Tambosi fazendo militância eletrônica. Gostei de ver..

Gabriel P. Knoll disse...

Elaine,

assim você evoca o mais baixo argumento ad hominem, ou pior, uma falácia de culpa por associação.

Vamos ser razoáveis!

A única coisa que vejo, no seu argumento, é achar que você não está certa em restringir a liberdade. Ao invés de dar amplitude a ela, você propõe censura.

enfim... militância eletrônica seria mais pros vermelhinhos que acham que a esquerda e direita ainda é igual os tempos pré-1990.

Aí! Esta tal "Pravda" (правда) socialista ainda faz adeptos.

Vamos ler Adelmo? HAhaa

glauco disse...

Quem luta pela democratização dos meios de comunicação sabe muito bem do que a Elaine está falando:terminar com os monopólios e ter algum tipo de controle social. Isto é democracia. Totalitarismo é condenar a humanidade a resolver todos seus problemas através da "livre concorrência". Por outro lado, citar Adelmo Genro Filho, só pode ser um deboche para um "articulista" que demonstra uma profunda indigência intelectual em seu texto, típica de "sere-produtos" destinados, pelo que parece, a serem peças de reposição da indústria jornalística.

Gabriel P. Knoll disse...

Glauco,

parece que você não conhece a comunicação - de verdade. O único monopólio da comunicação existente é no Rio Grande do Sul, com a RBS... e claro, em Florianópolis na mídia de rádio (CBN é a única rádio de jornalismo na região). Mas Monopólio? Veja os índices! A CBN nem FM consegue ser... O único monopólio criado no Brasil surge com o Estado.

Segundo, ironia não é deboche. Adelmo está morto, enterrado e não sabe o que se passa - assim como toda a ideologia defendida por este blog.

Terceiro, minha indigência intelectual consegue, ao menos, entender que capitalismo é um modelo econômico e socialismo é uma ideologia política.

OBS: Realmente, não há como discutir com quem não sabe o que acontece com o jornalismo - porque está fora da esfera profissional - e ainda tenta ser um intelectual da área.

Abs

glauco disse...

Não sou jornalista e nem eu nem qualquer pessoa necessita fazer parte desta "esfera profissional" para ter opinião sobre a sociedade e o modo como ela funciona, inclusive na área de comunicação e jornalismo. Infelizmente tua curiosa concepção quanto aos diferentes modos de produção e teu método para identificar o que seja um monopólio, confirmam o fenômeno da indigência intelectual a que me referi anteriormente. Quanto ao Adelmo, a obra dele e a concepção teórico filosófica que ele desenvolvia permanecem para serem lidas por quem queira fazê-lo, jornalista ou não. Se foi ironia tua referência a este jornalista, ela foi de péssimo gosto. De minha parte, dou por encerrada esta breve exposição de idéias, porque não vejo possibilidade de que isto se reverta em troca ou debate.