quinta-feira, 24 de março de 2011

Festival da Água e do Pacuca consolida união comunitária






A comunidade do Campeche, em parceria com o Movimento Saneamento Alternativo e Núcleo Distrital do Pântano do Sul, realizou neste dia 23 de março, o Festival da Água e do Pacuca (Parque Cultural do Campeche). O ato político cultural aconteceu no campo de aviação, onde desde há anos, a comunidade planeja construir um Parque, no qual as pessoas possam reunir-se, praticar esportes, viver momentos de lazer. Por incrível que possa parecer, o histórico bairro do sul da ilha não tem uma única praça onde as pessoas possam exercitar a convivência.

Não bastasse isso, o crescimento vertiginoso e desordenado que vem sendo registrado na comunidade incorpora novos desafios para a vida de todos os que ali vivem. Nos últimos meses, a proliferação de condomínios e a sistemática burlagem da lei, tem causando sérios problemas, como, por exemplo, o rebaixamento do lençol freático feito sem licenças, que pode trazer prejuízos ao abastecimento de água. Muitas denúncias foram feitas, mas só a ação da Polícia Ambiental colocou freio a este desperdício. Um único condomínio jogava pelo ralo cerca de 130 mil litros de água por dia.

Em função destes abusos, o Conselho Popular do Núcleo Distrital decidiu que era preciso fazer um trabalho de informação e conscientização com os moradores. Com o crescimento do bairro há muitas famílias novas vivendo por ali, as quais não têm conhecimento do intricado mecanismo que garante água pura nas suas torneiras. Assim, com a colaboração dos moradores do Pântano do Sul, dos militantes do Mosal e trabalhadores da Academia Sotália, realizaram o festival, que garantiu a distribuição de panfletos, longas conversas informativas e, de quebra, promoveu a reunião da comunidade no espaço que tem sido reivindicado para a construção de um parque.

A proposta do PACUCA já foi finalizada há anos, assim como foi respaldada pelas audiências públicas da discussão do Plano Diretor, logo, está completamente incorporada à vida da comunidade. Mas, o debate com a União, que é a dona do terreno de 323 mil metros quadrados, não tem avançado. Atualmente, a área está sob a proteção da aeronáutica, mas, na realidade, não tem qualquer função para esta instituição. Já a comunidade ressente-se de um espaço de convivência, coisa que jamais foi garantida pelo Estado. No projeto, desenhado de acordo com os desejos das pessoas que vivem no Campeche, estão previstas áreas esportivas, culturais e de lazer. Não é sem razão, que, recorrentemente, a comunidade ocupa o campo de aviação para reafirmar a decisão de garanti-lo para a vida local.

Neste Festival da Água e do Pacuca, as entidades do sul da ilha ainda tiveram uma grata surpresa: a visita de representantes do movimento SOS Canasvieiras, que vieram solidarizar-se com a luta pela preservação da água, uma vez que naquela comunidade do norte da ilha eles amargam a sistemática falta de água, fruto também do crescimento desordenado e muitas vezes – como no Campeche – à margem da lei. Segundo Nelson, a vida em Canasvieiras é o retrato vivo daquilo que não pode acontecer com o sul: “Hoje, nós sequer podemos tomar banho na nossa praia, pois não há um ponto que não esteja poluído. O bairro cresceu, mas a infraestrutura não acompanhou”. Para todos que fizeram o longo caminho desde o norte, a integração entre as comunidades é vital para que a cidade se uma e se organize para a conquista de seus direitos. Luiz Gabriel Vasconcelos, um dos organizadores do Festival, concorda com esta idéia: “Foi um dia maravilhoso, de união. Fizemos atividades com as crianças, plantio de árvores, apresentação de músicos locais, panfletagem, foi tudo muito bonito! Uma grande celebração de carinho. Carinho entre as pessoas, carinho pela terra, pelo nosso parque, pelo nosso bairro, carinho pela água e pelo futuro da nossa cidade. Futuro que esperamos seja repleto do que vivenciamos hoje. Por isso lutamos!”.

Durante toda a manhã, em frente ao campo de aviação, as pessoas mostraram seu carinho pela comunidade e por Florianópolis – já que era o aniversário da cidade. Com a participação da Rádio Campeche, os músicos locais puderam mostrar seu talento e as crianças que estudam música nos projetos sociais desenvolvidos nas Areias também encantaram o público. A Academia Sotália promoveu oficinas de pintura e os pequeninos coloriram seus desejos de água pura, vida digna, ambiente preservado. No campo, brigadas de voluntário plantavam árvores frutíferas e ornamentais. Foi uma manhã cheia de alegria e de partilha amorosa de sonhos. Aqueles que dedicaram parte do seu feriado para a luta comunitária saíram do festival com a alma lavada.

A integração com os moradores de Canasvieiras, do Pântano do Sul e das Areias mostrou que é possível ainda constituir projetos coletivos. “Se pudermos unir toda a Ilha (os movimentos organizados), não há força que nos vença nesta próxima investida contra o Plano Diretor Participativo”, afirmou Telma Piacentini. Janice Tirelli, representante do Campeche no Núcleo Gestor, estava emocionada. “É bom ver que o movimento cresce e se revigora”. Ataíde Silva, da Amocam, também estava vibrando. “Temos de ocupar esse espaço. Ele é nosso”.

E assim foi o festival. Muita alegria, emoção e vontade de lutar por um bairro onde a vida saudável e com qualidade seja possível. A luta pela água e pelo Pacuca seguirá firme, agora mais ainda, porque tecida com outras comunidades.

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