domingo, 15 de janeiro de 2023

Alzheimer, uma fase a mais


O pai foi diagnosticado com Alzheimer há sete anos e está comigo desde aí. Muito provavelmente já passamos por todas as fases: esquecimento, alucinações, violência, impaciência, perda da capacidade de cuidar de sua higiene pessoal, insônia crônica e tudo mais. É tanta coisa que nem sei. Um turbilhão, uma montanha russa para ele e para todos nós que formamos sua família. Um aprendizado constante, pois a doença é assim. Quando entendemos uma das fases, vem outra. E tudo precisa ser recomeçado. Uma batalha. 

Desde dezembro de 2021 o pai foi parando de andar. Mais um baque porque perde completamente a autonomia. Desde aí sua rotina é levantar e dar uns poucos passos do quarto até a cozinha, onde senta e fica até de noite, ou na cadeira de rodas, com a qual saímos para pegar sol, ou no sofá. Mais que isso ele cansa muito.

Mas, o mais surpreendente é que todos os demais sintomas da doença parecem ter desaparecido como mágica. Não há mais o tal do "quero ir para casa", não tenta fugir, não fica brabo quando faz as necessidades na fralda, não fica violento, toma banho cantando, bem contente e pasmem: dorme a noite todinha. Coisa absolutamente impensável nos últimos seis anos, quando acordava dezenas de vezes querendo sair e aprontando miles de aventuras. E, não, não está apático para nada. Ele presta atenção em tudo, entende boa parte do que dizemos, responde perguntas básicas e não raro me chama de filha. Seus olhinhos estão sempre atentos e basta que a gente abra a geladeira para ele abrir a boca, pedindo algo para comer. Ele se alimenta bem e só é meio chato com a água. Essa a gente tem de empurrar, toda hora um golinho.

De manhã, quando entro no quarto para os trâmites da limpeza, ele me recebe sempre com um sorriso sapeca.  Sempre, como se reconhecesse que ali está alguém que o ama. 

- Vamos levantar pra comer ovo? – eu digo

E ele fica a animado, dizendo: 

— Mas, bah! - ou enrolando na sua língua Klingon.

Quando tem visita em casa ele também fica bem alegrinho, sorrindo para as pessoas. Durante o dia escuta suas músicas preferidas e se alegra quando ouve a palavra Uruguaiana.

É fato que os cuidados aumentaram, mas é incrível ver que ele segue antenado, tranquilo e aparentemente bem feliz. Tá magrinho, mas forte. Continua arrenegando com os cachorros e querendo tomar a nossa cerveja. Toma um único remédio para pressão, além, é claro, do abençoado óleo da Santa Maria. 

E assim, vamos caminhando rumos aos 91 aninhos que se cumprirão agora em fevereiro.

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