Pela primeira vez os meios de comunicação livres,
alternativos, independentes, comunitários e populares se juntam para
reivindicar do município o compartilhamento das verbas que a administração de
Florianópolis gasta com publicidade e propaganda, 100% delas dirigidas aos
grandes meios de massa, como os grupos RBS e RIC Record.
Entendendo a comunicação como um direito humano, esses meios
independentes entendem que o Estado, seja ele em nível federal, estadual ou
municipal, não pode se limitar a financiar grupos que representam apenas um
extrato da sociedade, que é o da classe dominante. Como nesses meios as vozes
da maioria não se expressam, é necessários que o estado compartilhe as verbas
de comunicação também com os veículos populares e comunitários.
Foi a partir desse entendimento que os veículos resolveram
unir forças, se encontrar e pensar formas de reivindicar o mesmo direito que os
grandes meios têm. Assim, numa discussão puxada pelo Portal Desacato, juntaram-se
a Rádio Campeche, Portal Catarinas, TV Floripa, Rede Abraço, o Centro de
Estudos de Mídias Alternativas Barão de Itararé, o portal O Barato de Floripa, Coletivo
de Jornalismo Maruim e UFSC à Esquerda.
Desse debate nasceu a ideia de uma audiência pública para dialogar com os
vereadores sobre a necessidade de uma regulamentação para o uso de verbas da
comunicação que contemplasse as mídias alternativas.
A proposta logo foi encampada pelo vereador Lino Peres, que
foi quem articulou a audiência. Assim, no dia 17, os representantes de todos
esses veículos lá estavam para serem ouvidos pelos vereadores e pela sociedade.
O recado foi dado, ainda que apenas o vereador Guilherme Botelho tenha
participado, como representante da Comissão de Educação. Coincidiu que naquele mesmo momento outra
reunião sobre o Plano Diretor estivesse acontecendo, o que tirou o quórum da
audiência. Mas, mesmo assim, todos os meios fizeram sua fala e ficou acertado
ao final que será criado um Grupo de Trabalho dentro da Comissão de Educação para
que se construa coletivamente um projeto de lei no qual esteja normatizado o
direito dos veículos alternativos, comunitários e populares a receber também
verbas do estado na rubrica comunicação.
A importância desse movimento é muito grande na medida em
que a cidade de Florianópolis conta hoje com grupos muito bem estruturados de
comunicação livre. As novas tecnologias baratearam bastante a produção de
informação e as mudanças que vieram com essas tecnologias também proporcionam a
possibilidade do crescimento desses novos veículos, comprometidos com a maioria
da população, dispostos a oferecer espaço onde as vozes – geralmente silenciadas
pela grande mídia – possam se expressar.
É fato que essas mídias ainda não se constituem de fato uma alternativa
de comunicação, uma vez que os meios de massa são capazes de chegar ao estado
inteiro, no país inteiro, enquanto as mídias comunitárias e populares ainda
formam um grupo de alcance reduzido. De qualquer forma, esses espaços tem sido
de crucial importância no processo de organização dos movimentos populares uma
vez que cumprem a função de informar o que acontece no campo de interesses da
maioria. Basta lembrar que toda a articulação contra o golpe foi feita através
dos meios alternativos e das redes sociais.
Por isso, cada dia mais é fundamental fortalecer esses
veículos, para garantir que a maioria da população tenha, de fato, uma
alternativa ao pensamento único e a fabricação do consenso que são elementos
basilares dos meios de massa.
Com a criação do GT na Comissão de Educação da Câmara de
Vereadores, esses veículos de mídia comunitários e populares acompanharão o
processo e se manterão na luta para romper com a assimetria de tratamento na
distribuição das verbas. Se os grandes meios de comunicação recebem recursos do
bolo estatal, os meios alternativos também
devem receber. Não há argumento para a discriminação.
A luta avança.
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