Uma cidade para a maioria - Foto:
Num sistema como o nosso, executivo e legislativo atuam em
sintonia. Não adianta eleger um prefeito progressista ou de esquerda, e colocar
na Câmara de Vereadores, gente de direita ou atrasada. O legislativo pode
barrar projetos, recursar leis e tudo mais. Tem que ser casado.
Agora, em Florianópolis, estamos vivendo mais um momento de
eleição. Os candidatos se apresentam e disputam a cidade. Para mim, o certo
mesmo era não ter candidato de esquerda. Estamos sob golpe em nível nacional.
Mas, ao que parece, isso não impede que os partidos participem do pleito
municipal, muitas vezes com alianças “doidas” demais.
Resta tomar a decisão. Ou votar nulo ou escolher alguma
opção que possa ser melhor para o projeto de cidade que defendemos. Dentre os
sete candidatos à prefeitura – três mulheres e quatro homens - tirando o Elson (PSOL) e Gabriela (PSTU), o
demais é mais do mesmo. Os defensores do capital na versão forte, e os da
versão suave. Nenhuma ilusão com eles. Elson tem um acúmulo que vem da eleição
passada, quando ele defendeu o projeto de cidade que estava bastante afinado
com as lutas que vínhamos travando no debate do Plano Diretor. E Gabriela traz a
proposta abrangente do PSTU, sem muita afinação com as questões mais paroquiais.
Dentre os candidatos à vereança, vivemos o suprassumo do
surreal, com as candidaturas de dez pessoas, que já são vereadores na
legislatura atual, e que concorrem à reeleição apesar de denunciados pelo
Ministério Público na Operação Ave de Rapina, aquela que investiga casos de
corrupção. Dois deles chegaram a ser julgados na Câmara por quebrarem o decoro,
e foram absolvidos. O mais louco é que todos eles podem ser reconduzidos,
justamente por conta do bom e velho poder econômico que dispõem para incentivar
o voto.
Eu, que sou uma otimista indômita, fico na esperança de que
as pessoas usem o cérebro para votar. Que coloquem no legislativo municipal
pessoas que realmente vão atuar na defesa de uma cidade boa de viver, com
prioridade para os seres viventes e não para as máquinas, o cimento e o lucro
de alguns.
Não dá para votar em alguém só porque é amigo, conhecido ou
parente. Tem que ver qual é o projeto de cidade que a pessoa defende. Que
interesses estão por trás da pessoa? Quem o financia? Quem paga pela campanha é
quem vai mandar no vereador. Sem essa informação, a gente está entregando o
voto para alguém, que pode até ser legal e nos dar uma coisinha, mas que lá na
frente vai atender a interesses outros que não os da maioria.
Esses vereadores que foram denunciados pelo Ministério
Público são acusados de receber dinheiro para barrar ou forçar a aprovação de
projetos de interesses de empresas, que no mais das vezes, eram contra os
interesses da maioria da população.
O vereador é nossa ligação mais próxima com a administração
da cidade. Com ele podemos participar ativamente de todas as decisões sobre a
vida de todos nós. É esse vereador que chama para o debate, que se curva aos
desejos da maioria das gentes, aquele que deve contar com nosso voto.
Eu já escolhi o meu. Votarei no Lino Peres, que nessa
legislatura em curso, efetivamente tem representado os interesses de todos aqueles
que lutaram pelo Plano Diretor Participativo, pelas demandas dos negros, das
mulheres, das comunidades de periferia, por uma melhor mobilidade, enfim, por
temas que envolvem as pessoas comuns, e não os grupos de poder ou de interesse
econômico. Claro que há outros candidatos que certamente farão o mesmo
trabalho, e é eles que devemos elevar à condição de vereador. Colocar ali, na
Câmara, um número maior de pessoas que pratiquem o que o filósofo Enrique
Dussel chama de “poder obedencial”, ou seja, que legislem baseados nos
interesses da maioria dos trabalhadores, das gentes que constroem de fato essa
cidade.
Na última legislatura tivemos dois vereadores de oposição:
Lino e Afrânio. Duas pessoas lutando pela cidade de verdade. Tem que ter mais.
Já basta dos sugadores da esperança pública. Escolha bem o seu candidato. Não
vote por amizade ou interesse pessoal. Pense que a cidade é a sua casa e é
preciso que os que estão na Câmara sejam capazes de cuidá-la bem.
Eu quero uma cidade na qual as pessoas possam se mover, que
o transporte público seja bom e eficaz, que haja planejamento, que o cimento
não engula a beleza, que os parques proliferem, que não se renda à ganância ou
ao turismo para os ricos. Que seja desfrutável por nós, os sem dinheiro, que
garanta a sobrevivência da cultura originária, que acolha os forasteiros sem
olhar a condição social, que garanta água pura e vida boa.
Penso que podemos construir essa cidade. Mas não será com os
velhos modelos de políticos, representantes dos ricos, dos empresários e dos
graúdos. É tempo de darmos chance ao novo, ao que busca caminhar com a maioria.
E, ainda que não seja o candidato perfeito – coisa difícil de achar – eu vou de
Elson, 50. Um fio de esperança, mas pelo qual vale a pena sair de casa e votar.
A luta não se esgota na prefeitura e essa não é a mãe de
todas as batalhas. Mas é a que temos para hoje.
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