Na foto, Matheus Nachtergaele encarnando Zé do Caixão. Extraordinário.
Assisti há pouco tempo a primeira temporada de uma série chamada “Hollywood”. É incrível ver como a indústria do cinema tem essa capacidade de se alimentar de si mesma, gerando produtos sem fim. A série é uma ode à arte do cinema, sob o ponto de vista estadunidense, é claro, uma vez que ali só aparecem referências ligadas àquele país. Artistas, diretores, produtores. É um passeio sobre o nascimento da indústria cinematográfica e toda a sorte de dramas que ensejou, desde as buscas pessoais dos aspirantes a astros e estrelas até os dramas coletivos como a questão da homossexualidade, o racismo, a libertação da mulher etc... A singularidade da série é que ela reescreve a história introduzindo momentos que poderiam ter mudado o curso das coisas. Nela, por exemplo, o jovem astro Rock Hudson, que era homossexual e sempre fez papel de galã escondendo sua opção, se revela publicamente. Uma atriz negra ganha sua chance de interpretar uma personagem entregue só as brancas e é premiada por isso. E uma mulher assume, com brilho, a condução de um estúdio cinematográfico. Coisas inimagináveis nos Estados Unidos dos a nos 30, 40 e 50. Enfim, é interessante, mas é Hollywood, ou seja, mais do mesmo.
Digo isso pensando numa fala do professor Nildo Ouriques, num dos programas Pensamento Crítico, quando ele diz que no Brasil sabemos mais do cinema estadunidense do que do nosso. E é verdade. Imaginei então algum cineasta fazendo um apanhado da vida cinematográfica do Brasil numa série assim, tipo essa de Hollywood, trazendo para as novas gerações todos os dramas que fizeram a beleza do nosso cinema, desde as famosas chanchadas, Mazzaropi, as pornochanchadas, o cinema de arte, Zé do Caixão, Glauber, Barreto, e até as bobajadas comerciais da Globo, mostrando os nossos artistas e os bastidores das produções. Seria um trabalho e tanto e nos daria um panorama singular do cinema nacional.
Lembro do magnífico trabalho feito pelo ator Matheus Nachtergaele na série que contou a vida de Zé do Caixão, um dos nossos grandes. O trabalho foi realizado inspirado na biografia “Maldito – A Vida e o Cinema de José Mojica Marins”, escrita pelos jornalistas Ivan Finotti e André Barcinski. A direção foi de Vitor Mafra e o roteiro produzido por Barcinski, Mafra e pelo professor da Academia Internacional de Cinema (AIC), Ricardo Grynszpan. É uma lindeza de série e deveria ser vista por todo o país em canais abertos. Mas até agora só passou no cabo. É uma belezura de trabalho, com a atuação extraordinária de Matheus.
Enfim, temos cinema, temos história, temos atores e atrizes geniais e temos roteiristas incríveis. É tempo de contarmos essa história e eternizar os grandes e os pequenos realizadores. Só o sistemático revolver da memória garante que a vida vivida não se perca. Viva o cinema nacional.
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