quinta-feira, 23 de abril de 2020

Renan


Eu não conheci o Renan, mas sabia de suas histórias de luta. Nunca nos encontramos para um papo ou coisa assim. As poucas vezes que nos encontramos foi em situação de eleição para o Sindicato dos Jornalistas e Fenaj. E estávamos em campos diferentes. Ele nunca me dirigiu a palavra, apenas olhares acusadores. Ele não gostava de mim. Creio que foi envenenado por colegas adversários, porque, afinal, não me conhecia. Mas, ainda assim, ele foi capaz de um ato generoso. 

Tempos depois de o grupo no qual estava vencer o sindicato ele publicou um texto comentando um livro meu. Dizia que estava lá na sede, limpando as estantes e o encontrara. Renan deve ter sido o único colega que leu o livro e fez um comentário bem honesto sobre ele. Como repórter que era, sabia reconhecer uma reportagem. O texto me chegou por outras vias, e achei bonito. Ele teve a delicadeza de, apesar de envenenado, dar uma espiada. E gostou do que leu. E foi digno em fazer um comentário público. Isso diz muito de quem ele era. 

Quando entrei na imprensa catarinense era lendária a sua história de briga com a RBS e seu solitário protesto deitado em frente à empresa, exigindo seus direitos. Lendários também eram seus textos, suas reportagens cheias de viço e bossa. Renan era um repórter, absolutamente repórter. Com o passar dos anos a gente ouvia falar: Renan tá na China, Renan tá na guerra, Renan está incomodando alguém. Ele era um furacão. E a gente lia suas reportagens com quem sorve uma água fresca no deserto. Escrevia como ninguém e era capaz de fazer um baita texto sem quase nada. Só observando e descrevendo. 

A última vez que o vi foi, brevemente, por ocasião da campanha do Nildo Ouriques, como candidato a candidato à presidência. Ali estava ele, grudado em mais uma causa impossível. Trabalhamos em uníssono. Foi a primeira vez. 

Depois, fui acompanhando sua luta com o transplante e tudo mais. No dia em que vi sua última postagem liguei para o Nildo e disse: o Renan vai sair de mais uma, ele sempre sai. Danado, não saiu. 

Fica aqui meu carinho por esse grandalhão do jornalismo, em todos os sentidos. Um repórter que iluminava o jornalismo com seu texto. E, por conta disso, é um desses mortos que nunca morrem.   

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