quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Cadernos do Terceiro Mundo



Era a metade dos anos 70, a ditadura ainda comia solta. Eu tinha uns 15 anos, não recordo como foi que consegui, mas me caiu nas mãos um número da revista “Cadernos do Terceiro Mundo”, que trazia notícias da América Latina, da África e do mundo árabe, coisas que nem sonhávamos ver nos nossos meios de comunicação.

Como sempre fui uma leitora voraz, a revista me encantou pela abordagem totalmente diferenciada. Mostrei pro meu pai e pedi pra fazer uma assinatura. Ele fez. Mandamos o pedido para a Editora Terceiro Mundo, com sede no Rio de Janeiro. Então, a revista me chegava pelo correio e eu devorava com avidez.

Quando tivemos de sair do Rio Grande e fomos viver em Pirapora, Minas Gerais, a revista me seguiu pelos anos 80 afora. Esperar a “Cadernos do Terceiro Mundo” era uma alegria profunda. Eu mais ou menos sabia quando saia e ficava todos os dias enchendo o saco do carteiro, “tem carta pra mim, tem carta pra mim”. A revista era bem isso: cartas chegadas de um mundo desconhecido até então, um mundo aonde as gentes lutavam, um mundo que me enchia de alegria e de indignação.

Foi pelas suas páginas que conheci Yasser Arafat, Mandela, Samora Machel, Agostinho Neto, Kadaffi, Steve Biko e outros tantos que tinham suas vozes expressas na pequena publicação. Há pouco tempo o professor Waldir Rampinelli trouxe para o IELA vários números da revista. Estão aqui na biblioteca. Tem muitos números. E eu ainda me emociono até as lágrimas cada vez que passeio pelas suas páginas.

Nunca será demais agradecer aos fundadores, Beatriz Bissio, Neiva Moreira e Pablo Piacentini por esse presente. Tenho muito claro que essa revista é, em grande parte, responsável por eu ser quem eu sou.

Nenhum comentário: