Famílias palestinas sendo expulsas de suas terras em 1948 |
A vida na Palestina hoje |
Onde voarão os pássaros depois do
último céu? Onde dormirão as plantas depois do último ar? Escreveremos nossos
nomes com vapor tecido de vermelho, cortaremos as mãos para que se complete
nossa carne. Aqui morreremos. Aqui, nessa última passagem. Aqui ou aí... nosso
sangue plantará suas oliveiras. (Mahmud Darwish)
“Ainda verte a fonte do crime” grita
o poeta palestino Mahmud Darwish em um dos seus poemas. E é verdade. A fonte de
todo o terror, do êxodo forçado, do assassinato, da prisão arbitrária, do roubo
das terras, segue jorrando e provocando revolta no meio da vida palestina. É o
que acontece desde o ano de 1947, quando em novembro foi divulgado pelas Nações
Unidas a criação artificial do estado de Israel na região onde viviam
milenariamente as gentes palestinas. Alegando que era preciso reparar o holocausto
causado pelos nazistas, os Estados Unidos decidiu que deveria criar um estado
para os judeus. Escolheu a Palestina, e não por acaso. A região é
geopoliticamente estratégica, visto que é uma espécie de porta para o Oriente
Médio, então e ainda berço do maior volume de petróleo no mundo. Alegando que
ali era um espaço vazio, nasceu o estado sionista.
Mas, a Palestina não era um espaço
vazio. Ali viviam as gentes com suas casas ancestrais, suas oliveiras, seus
carneiros, sua história. E, na medida em que chegavam os judeus, iniciava-se o
êxodo das famílias palestinas, retiradas de suas terras à força. Agora em maio
completarão 70 anos do Nakba, o chamado “dia da catástrofe”, quando Israel
começou, 24 horas depois de ser criado, a tentativa de extermínio de toda a
gente palestina, promovendo massacres visando expulsar as famílias de suas
casas. Muita gente fugiu, mas outras tantas ficaram e lutaram sem parar. Uma
luta que segue até hoje.
Primeiro, foi o espanto. Do nada, um
novo país se formou dentro de outro que já havia. Depois, começaram as investidas
violentas. Do lado palestino crescia o número de vítimas. Gente obrigada a
vagar pelo mundo, buscando abrigo longe de suas casas, famílias separadas por
cercas e muros, vigiadas por soldados, pessoas sendo mortas como moscas. O
caminho previsto por Israel era o extermínio. “Limpar a área”, fazer sumir do
mapa o mundo palestino.
Depois do espanto, veio a organização.
O povo palestino haveria de lutar para garantir a sua vida e o seu território. Assim,
em janeiro de 1965 nascia oficialmente o Movimiento de Libertação da Palestina,
uma organización revolucionária que tinha como líder Yasser Arafat. Foi esse movimiento
que empreendeu a primeira resposta militar organizada contra o estado de
Israel, visando defender o direito do povo palestino de viver em paz nas suas
terras. Uma reação legítima e necessária.
A luta iniciada por Arafat cresceu,
envolveu a gente palestina, e acabou gerando a OLP (Organização para Libertação
da Palestina), com maior espectro que o de apenas um grupo de resistência.
Tomou corpo e se encravou na vida palestina como um movimento necessário para o
enfrentamento da violência sistemática de Israel que sempre teve como aliado
militar e político os Estados Unidos. Inimigos de peso que não podiam ser
enfrentados apenas com os corpos nus em sacrifício.
E foi essa luta que foi abrindo passo
no mundo, mostrando o delírio do estado sionista, e garantindo junto aos demais
países a legitimidade da resistência do povo palestino. Tanto que foi possível
o reconhecimento do Estado Palestino bem como a participação de seus
representantes em organismos internacionais. Por muito tempo Arafat e seus
companheiros foram considerados “terroristas” porque precisaram abrir caminho com
violência. Mas, poucos entendiam da extrema violência que vivia o povo
palestino.
Hoje, passados 70 anos do começo de
todo esse terror, que ainda assola a vida das gentes palestinas, a resistência segue.
E não é fácil. O território da Palestina está cada dia menor e fatiado. Há
pequenos espaços cercados por muros onde as famílias vivem segregadas como se
fosse um campo de concentração. Vivem cotidianamente a violência, tendo de
apresentar documentos e passar por revista para um simples ir e vir ao trabalho
ou às compras. O maior pedaço é a Faixa de Gaza, onde se concentram quase dois
milhões de pessoas em apenas 365 quilômetros quadros. Vivem sob bombardeios e
ataques de toda sorte. É o terror diário.
Setenta longos anos de puro terror.
Na televisão, todos os dias, há
notícias sobre o drama palestino. Mas, o que aparece é o seu contrário. A mídia
comercial mostra a luta de resistência de um povo atacado como se fossem os
palestinos os vilões. Eles são os violentos. Eles são os terroristas. A verdade já desapareceu
completamente ao longo de todas essas décadas. Para o senso comum, o que
acontece naquelas longínquas terras é um briga religiosa: árabes contra judeus.
Nada pode ser mais falso.
O conflito na Palestina diz respeito
a território, a riquezas, a roubo, a usurpação. Em nome de um sofrimento vivido
na segunda grande guerra, os judeus sionistas – o que significa que não são
todos os judeus – repetem o mesmo sofrimento, desta vez como verdugos. Fazem
com o povo palestino o que os nazistas fizeram com seus parentes. Tudo em nome
do poder e da ganância. Os Estados Unidos garantindo seus interesses no Oriente
Médio, e os sionistas enchendo os bolsos. Tudo isso representa a trama bem
urdida da acumulação capitalista. Rapinagem das terras e das riquezas das
gentes para usufruto de alguns.
Setenta anos de dominação genocida. O
terror. Mas, ainda assim, o povo palestino resiste, sobrevivendo a todas as
tentativas de extermínio. Já enfrentou massacres massivos e segue enfrentando
sistemáticos bombardeios, assassinatos cirúrgicos, prisão de crianças, terror
cotidiano.
Nesse ano de 2018, quando maio
chegar, e Israel comemorar os 70 anos da invasão, lá estarão os palestinos,
vivos e resistentes, junto com todas as gentes no mundo que os apoiam, celebrando
o levante e a luta. O Estado Palestino é um direito e haverá de vingar. Passaram-se
70 anos e o extermínio não se completou. Porque enquanto houver uma vida palestina
pulsando no mundo, a resistência seguirá.
Agora, para “celebrar” essas décadas
de massacre, o presidente estadunidenses, Donald Trump, decidiu desferir mais
um golpe, declarando a cidade santa de Jerusalém, que sempre foi a capital
palestina, como a capital de Israel. Mais uma imposição do império. Mais uma
violência. Mais uma provocação. Tudo o que querem é provocar a reação para
justificar o assassinato recorrente.
Mas, se uma verdade pode ficar
escondida por algum tempo, uma hora ela vem à tona. É impossível parar o
conhecimento sobre a realidade. Hora virá que o mundo inteiro compreenderá o
que realmente passa na Palestina. Reconhecerá o criminoso (Israel) e se juntará
ás vítimas (Palestina).
Com a Palestina estamos, e seguimos.
Liberdade, território e direito de gerir a própria vida. Fora Israel. Fora
sionistas. Viva a Palestina Livre.
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