Foto: Rubens Lopes
Um dos elementos importantes do processo de golpe vivido no
Brasil foi a absoluta falta de gente na rua, saudando o momento. Mesmo aqueles
que se mobilizaram contra Dilma, o PT e pelo impedimento, em grandes
manifestações chamadas pela mídia e pelas organizações de direita,
mantiveram-se dentro de casa. Vibraram no facebook, espaço protegido, mas não
buscaram as ruas. Não teve pato, nem
camisas verde-amarelas, nem bandeiras do Brasil. Uma ou outra manifestação
solitária.
Por outro lado, vieram para as ruas imediatamente as gentes
que denunciavam o golpe desde sempre. Estudantes, juventude sem partidos,
população desorganizada, e os militantes que sempre estiveram na luta com os
trabalhadores. Voltaram, em profusão, as bandeiras vermelhas, as palavras de
ordem, os gritos de guerra: “Fora Temer”, “Eleições Já”.
No dia da votação do Senado, já havia movimentação nas ruas.
No dia seguinte foi maior, e depois do dia seguinte, de novo bem maior. A
participação vai crescendo de forma exponencial, como já tivemos a oportunidade
de viver em outros momentos históricos, como a luta pela Anistia, em 1979, e as
Diretas, em 1983. É quase uma relação direta: as ruas se enchem mais e mais, e
a mídia comercial esconde tudo, mais e mais, procurando criar outros pontos de
atenção para tirar do foco da população a luta efetiva que se dá nas ruas.
De novo, percebe-se que essa é uma tática derrotada. Quem
vai para a rua vê o que acontece, e os que circulam pela cidade acabam sabendo.
A verdade escapa da prisão da mídia. E, hoje, com as novas tecnologias, fica
bem mais fácil a informação chegar por outras vias. Até mesmo os mais
reacionários tem na sua “linha da vida” um irmão, um tio, uma sobrinha, alguém
de suas relações que mostra o que acontece. Assim, acaba tendo de saber. E,
como na Anistia e nas Diretas o processo vai num crescendo, impossível de
parar.
Florianópolis foi assim. No dia seguinte ao golpe já estavam
nas ruas os estudantes e populares. Mais de três mil. Cantaram, pularam,
dançaram, protestaram e seguiram para fechar a ponte. Veio a polícia – como sempre
– e provocou o tumulto. Violência, bombas, gente machucada. O jeito do poder de
intimidar. Outro engano. “Amanhã vai ser maior”, gritavam, enquanto buscavam
abrigo. Incorporavam a palavra de ordem que ecoou na conservadora capital dos
catarinenses no ano de 2004, quando os secundaristas iniciaram o movimento que
ficou conhecido como a “Revolta da Catraca”. Naqueles dias, eles capitanearam
uma luta que chegou a juntar milhares de pessoas contra o aumento das tarifas.
E assim foi. Dois dias depois lá estavam de novo as gentes
nas ruas. Juntando-se em frente à velha alfândega, aquelas caras jovens aliadas
aos velhos militantes chegavam com seus tambores, danças, bandeiras e canções. De
novo o caminhar pelas ruas da cidade, com a força do protesto entrando pelos
ouvidos dos que se recusavam ouvir. E era tanta alegria na luta que os
trabalhadores do comércio tiveram de juntar-se à porta, para ver passar o
cortejo. Não faltaram os sorrisos e os aplausos. Das janelas dos prédios também
vinha o piscar das luzes, saudando a indignação. “Fora Temer, Fora Temer”.
Naquele dia o Congresso – em mais um ato de deboche explícito
– havia aprovado as pedaladas fiscais, as mesmas que chamaram de “crime” para
condenar a presidenta do país. Nos argumentos da decisão afirmavam que essa era
uma prática corrente que só precisava se legalizar. Tripudiavam do povo. E a
resposta foram as manifestações gigantescas por todo o país.
Em Florianópolis, quando a noite avançou, já eram mais de 10
mil pessoas nas ruas. Tudo ia bem até que a caminhada chegou na rua Mauro Ramos,
onde a polícia encurralou alguns e fez o que sabe fazer: provocar os tumultos.
Bombas, balas, cassetetes, pauladas, confusão.
No dia seguinte, a mídia comercial tentava convencer a
população de que os “baderneiros” são os jovens que quebram vidros de bancos –
esses que são os maiores ladrões. E, nas redes, há os que se solidarizam com os
banqueiros muito mais do que com a jovem que teve seu olho cegado pela polícia.
Normal. Mas, para os que recolheram as
bandeiras, o que ficou martelando foi o mantra: “amanha vai ser maior”. Quem
duvida?
Por todo o Brasil as manifestações se agigantam, nas
capitais, nas cidades médias, nas pequenas cidades. Na semana que vem já têm
novas marchas, em Florianópolis será na terça-feira, contra o golpe e por
eleições diretas já. É um momento histórico, de resistência contra tudo o que
já foi anunciado, de retirada de direitos, de censura, de autoritarismo, de quebra
do processo democrático.
São as ruas as que vão dar o tom. Certamente aumentará
também a repressão. É o momento dos adversários medirem forças. É claro que o Estado
tem todo o aparado repressor, com a violência característica. E as gentes têm
seus corpos e sua força de luta. Não haverá contemporização, nem se pode
esperar outra coisa do Estado que não o ataque desproporcional. Serão dias
duros. Os que bateram panela e se
esconderam agora, na sua vitória de Pirro, não estão dormindo. A luta de classes
será expressa no cotidiano, à luz do dia.
O Brasil está na rota de desestabilização que convulsiona toda
América Latina. Caberá aos movimentos e ao povo em luta dar a direção.
Na capital catarinense, o ato deverá ser em frente ao Trapiche da Beira-Mar. No
reduto da classe dominante o povo se reunirá, olhando de frente para os
algozes, sem medo. Ao contrário. Botando medo! Porque quando a multidão avança,
derruba as bastilhas....
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