O filme Lua
em Sagitário é o primeiro longa-metragem de Márcia Paraíso, essa carioca que
chegou por aqui e, de mansinho, foi descortinando, pelo olho da câmara, apaixonadamente, a nossa história. É ela que assina o roteiro - com Will Martins - e direção, bem
como coordena uma equipe de 14 atores cujos protagonistas são Fagundes Emanuel e Manuela Campagna, estudante do curso de
artes cênicas da Udesc. Boa parte do elenco é da terrinha e a produção tem
parceria com os irmãos argentinos.
O filme foi rodado no Oeste de Santa
Catarina - Abelardo Luz e Dionísio Cerqueira - e tem como cenário a cara
camponesa do estado, com suas paisagens deslumbrantes. É uma aventura na
estrada, e a câmera passeia pelo universo esquecido dos trabalhadores rurais.
Márcia já acerta por aí. Quando decide
filmar uma história que se ambienta no interior de um estado periférico – Santa
Catarina. É o interior do interior, sem a mistificação do velho adágio de que o
sul é a Europa brasileira. Não, o sul de Márcia é o sul de verdade, das
pequenas cidades, dos pequenos agricultores, dos acampamentos de sem-terra, das
ocupações nascidas da luta, dos assentamentos de reforma agrária, da vida sem
sobressaltos, da lenta rotina, da falta de opções, das famílias conservadoras,
da gurizada que espera e da que faz acontecer.
O outro elemento do filme que faz com que
a gente goste de cara é a aposta na realidade dos jovens. Mas não jovens
quaisquer. São aqueles que vivem nas pequenas cidades, sem o brilho dos grandes
centros e com suas singelas existências. Essa gurizada real, que estuda,
trabalha, ama, sonha e quer ver realizados seus desejos mais ternos.
O filme conta a história de uma guria que
vive numa dessas cidadezinhas do interior catarinense – fronteira com a Argentina - que
se apaixona por um guri, filho de assentados – esses guerreiros da reforma
agrária, tão mal/ditos pela mídia comercial. Os dois querem participar de um
festival de música na capital, Florianópolis, e o filme conta dessa viagem e
desse sonho.
O caminho, percorrido de moto, é o fio
condutor do filme, que acaba discutindo outros temas, para além das intenções.
O amor, a ternura, o preconceito, o medo do desconhecido, a aventura da
descoberta. Lá, no encontro com a tela, cada um vai descobrir o que mais lhe toca, como cabe à arte.
O fato é que Lua em Sagitário fala de
nós, da nossa cultura, da nossa terra, tem o nosso sotaque. Isso já é mais um
motivo para desfrutar da aventura. Tem a ternura do amor adolescente, e tem a
beleza do encontro com os diferentes.
Márcia, que já narrou com tanta fortaleza
a vida cabocla, a Guerra do Contestado, agora nos descortina mais uma obra. Eu mesma
ainda não vi, mas já gostei. Porque sei quem a Márcia é, porque conheço o que
ela faz e o que ela pensa das coisas do mundo. Com ela, caminha ainda toda uma
turma que também tem uma linda história de trabalho e de realizações bem aqui,
na nossa aldeia, como a Juliana Kroeger e o Chico Caprario. Motivo a mais para que ocupemos todas as cadeiras do cinema na
estreia do filme em setembro.
Lua em Sagitário nos apresenta a leveza
do amor que se compromete. Não apenas o amor que salta da tela, da história em
si, mas o que permeia todo o trabalho da equipe de produção, que atua sempre no
limite da condição. Afinal, nunca é fácil fazer cinema fora do eixo do grande
centro.
O pequeno petisco que vi, no trailer
promocional, já me roubou lágrimas.
- Eu te amo, tá?
- Tá!
Nada pode ser mais lindo...
A não ser essa coragem, dessa equipe
toda, em contar uma história tão nossa e, ao mesmo tempo, tão universal.
FICHA TÉCNICA
Roteiro: Will Martins e Marcia Paraiso
Direção: Marcia Paraiso
Direção de Produção: Juliana Kroeger
Produção Executiva: Ralf Tambke (Brasil) Saula
Benavente (Argentina)
Direção de Foto: Ralf Tambke (unidade 1) -
Anderson Capuano (unidade 2)
Direção de Arte: Loli Menezes
Maquiagem e Cabelos: Fernanda Cacivio
Desenho de Som: Lucas Larriera
Montagem: Glauco Broering
Direção Musical: Ju Baratieri
Interferências Gráficas: Marcelo Buti
Foto Still: Silvio Marchetto
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