quinta-feira, 25 de junho de 2015

Dilma, a mandioca e os indígenas















na lenda, a mandioca nasce do corpo de uma menina






















Nem preciso dizer, mas sempre é bom, que acho o governo de Dilma Roussef uma fraude. O PT é um partido da ordem que governa para a classe dominante. Quanto a isso não resta qualquer dúvida. Mas, ainda assim preciso falar sobre o discurso que a presidenta deu durante os jogos mundiais indígenas e os comentários desairosos que se veem nas redes sociais. Sobre eles, alguns elementos me parece importante dissertar.

Primeiro: Ninguém está nem aí para a cultura indígena. A completa indiferença da maioria das gentes brasileiras pelos primeiros habitantes desse lugar não é novidade. Ao longo dos séculos os indígenas foram dizimados, assassinados e desaparecidos. Muito foram subsumidos na cultura branca e, à exaustão, os meios de comunicação e os aparelhos ideológicos têm disseminado a ideia de que índio é um ser de segunda categoria, um sujo, um bêbado, um atrapalho para o progresso da nação. 


Por conta desse “crime perfeito” poucos são os que se dispõe a conhecer e entender a cultura dos povos originários que, no Brasil, conformam mais de 300 etnias, 270 línguas e um milhão de pessoas. Gente que tem uma cosmovisão, uma história e uma cultura importantíssima.  Não é, então, sem razão, que a notícia mesmo – a realização dos jogos mundiais indígenas – tenha sido apagada, com o foco todo sendo dirigido para as palavras da presidenta, que, bem orientada, se embasaram na rica tradição indígena. 

Segundo: O eurocentrismo e o colonialismo mental da maioria dos brasileiros é algo que ainda tem um peso gigantesco na cultura nacional. Uma ignorância que é imposta, na medida em que as escolas e os demais centros de irradiação de conhecimento ainda se mantêm reféns de uma cultura exógena, tida como melhor do que a nossa. Assim, valoriza-se mais a lógica dos fast-foods, vindas da matriz imperial – os Estados Unidos  - que o nosso baião de dois. É mais chique comer escargots do que pirão d´água. Tudo isso é carregado para dentro das gentes pelos meios de comunicação, na sua interminável mais-valia ideológica. 

Por isso as piadas sobre a questão da importância da mandioca, que Dilma muito bem lembrou no discurso aos povos indígenas. 

Pois a mandioca é um alimento sagrado para o povo indígena de quase toda a Abya Ayala, inclusive para os povos do norte. Sobre ela contam-se lendas da mais profunda beleza. Ela é absolutamente a rainha dos trópicos, a terceira maior fonte de carboidrato, e está presente na mesa de quase todo o brasileiro e latino-americano, muitas vezes até sem ele saber.  

Contam os Tupi que uma de suas mulheres deu à luz a uma indiazinha que foi chamada de Mani.  Ela era linda e tinha a pele bem branca. Era alegre e brincalhona, e tanto, que todos a amavam.  Mas, um dia ela ficou doente e por mais que fizessem não conseguiram salvá-la. Ela se foi. Foi enterrada dentro da própria oca, como é costume. E os pais regavam seu túmulo com lágrimas. 

Foi então que, um dia, dali começou a brotar uma planta. E sob as folhas verdes nasceu uma raiz marrom, bem branquinha por dentro. Os pais a chamaram de Maniva, em homenagem á  filha. Desde aí essa raiz passou a fazer parte da vida da tribo e nunca mais deixou de vingar pelas terras dos trópicos. Ela é tão importante, inclusive, porque praticamente não precisa de manejo e se mantém na terra por muito tempo. Foi um presente de Mani para sua gente.

A mandioca é, então, um elemento fundamental da cultura indígena e da nossa própria cultura brasileira.  “A mandioca é a rainha do Brasil”, dizia Câmara Cascudo, um dos nossos maiores estudiosos do folclore e da cultura nacional. Ele estava certo. 

Dilma é um desastre na política e na economia, governando para a classe dominante. Mas, nisso – da importância da mandioca - ela acertou.  

E que viva a mandioca, como diria o genial Gilberto Vasconcellos, um produto genuíno do nosso país. 





Um comentário:

Ronald José Magalhães disse...

Muito bom; oportuno e com conhecimento de causa;parabéns.