Agora que é outono caminhar pela praia do Campeche em Florianópolis é como caminhar na beleza. O azul do céu, intenso, se mistura ao do mar que, encapelado, vem bater violento na areia clarinha. Já não há turistas e as pessoas, que arriscam molhar os pés ou tomar o tímido sol, todas se conhecem. A vida assume aquele tom de comunidade que é coisa muito boa.
Pois no dia primeiro de maio esta gente toda se reuniu em frente ao grande oceano para a missa dos pescadores. Mesmo quem não é católico se acerca porque o que vale é desejar sorte aos Pedros do mar. Já faz cinco anos que a colônia de pescadores da região faz o encontro, tentando vitalizar a pesca para que ela não se perca no mundo cada dia mais vazio de artesãos.
Então, na manhã friazinha, o povo se junta para cantorias e rezas, pedindo para que as redes se encham. E, como não podia deixar de ser, vêm também os políticos. Prefeito, secretário da pesca, vereadores. Ficam ali, como peixes fora d´água, parecendo se importar. As gentes acolhem, afinal, espantar por quê? E, ao final, eles fazem discursos e saem felizes, cumprindo os rituais.
Mas, este ano, foi diferente. A comunidade não estava para brinquedo. Até porque a prefeitura está com um projeto de jogar bem ali no mar do Campeche o esgoto de quase toda a ilha. A proposta é construir um emissário que vai mar adentro e solta os dejetos no mar aberto. O povo que conhece de saneamento e ambiente já deu o veredicto: vai contaminar a praia, mesmo que fique bem distante. O mar traz, isso é fato!
Pois na hora do rito, da fala do prefeito, ele foi confrontado. Com a fala mansa e o jeito cismado de pescador, o seu Getúlio, que é quem organiza a festa, colocou a questão. “Na nossa praia não”. E o prefeito, acuado, sem palmas ou vivas, ficou sem chão. “Em algum lugar temos que jogar”. Saiu miudinho, com a saia justa. Pela praia ficaram as gentes a confabular. Pescadores, artesãos, artistas, moradores, surfistas, militantes, todos estão alertas. Esgoto na praia não vai rolar.
Não é à toa que o padroeiro do bairro é São Sebastião. Se o prefeito insistir, muitas são as flechas!... E infinitos os arqueiros...
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