Esse é um ditado popular que infelizmente parece ser a regra no mundo humano. Aquilo que toca individualmente é o que acaba prevalecendo. O coletivo serve para bonitos discursos, mas a prática é o que determina aquilo que realmente somos e pensamos. Um dos exemplos disso é a vacina. Há os que, em nome de suas convicções individuais, preferem deixar o coletivo se explodir. Mesmo sabendo que a vacina terá mais eficácia quando mais gente estiver vacinada, há os que se negam, ainda que nos seus perfis de redes sociais façam emocionados discursos pela família, por deus, por gatinhos ou cachorros.
Outro exemplo são as lutas sindicais, coletivas. Uma batalha travada por uma categoria precisa da adesão de todos, mesmo aqueles que não são tocados pelas decisões. Lembro-me das greves da UFSC quando os técnicos de nível superior decidiram criar uma associação própria porque entendiam que os ganhos vinham só para os de nível médio. Estudados, sabiam muito bem que numa greve existem várias demandas e que os ganhos podem não chegar da mesma forma nem no mesmo tempo para todos. Houve greves que os TAEs de nível superior ganharam mais, e outras que os de nível médio ganharam mais. É assim.
Também havia e há até hoje os que sequer fazem greve porque acreditam que estão muito bem, que o seu salário tá bom, que não sofrem assédio, que têm chefias camaradas etc... Então, se existe alguém que não está satisfeito, que lute sozinho. O bom e velho egoísmo funcionando a mil. Sempre tentamos trabalhar isso nos movimentos, observando que a luta coletiva é o que fortalece a categoria, e que as batalhas pontuais a gente vai travando ora aqui, ora ali.
Agora mesmo a UFSC define um retorno ao trabalho presencial em setembro, apenas para os técnico-administrativos é claro, bem no meio de uma nova onda da Covid, com a variante Delta chegando para arrasar. A ideia, diz o documento da reitoria, é preparar os setores gradualmente para o retorno, ainda que diga que os setores precisam abrir das 08 às 18. Onde fica o gradual aí? E como trabalhar em salas que não têm a devida ventilação quando os prédios foram sendo feitos para o uso de ar-condicionado? Há tantas coisas que causam insegurança e até terror.
Isso acontece com todos os trabalhadores? Não! Existem setores na UFSC que podem estar bem preparados para um retorno. Inclusive existem trabalhadores que nunca pararam de ir à universidade, presencialmente, para resolver problemas. Eu mesma fui várias vezes ao IELA ligar os equipamentos, fazer limpeza, fazer a manutenção nas máquinas fotográficas, filmadoras e em outras máquinas que não podem ficar tanto tempo paradas. Sabemos o quão difícil é conseguir a estrutura. Amamos a UFSC e temos muita clareza de que precisamos cuidar. E por que eu fui ao IELA? Porque lá estou sozinha. Não divido o espaço com ninguém e nunca permiti ar-condicionado no meu espaço, sempre de janelas abertas. Ora, essa é minha realidade, individual.
O mesmo não acontece com uma parcela bastante grande da universidade. Boa parte dos trabalhadores labuta em salas coletivas, fechadas. Então, o compromisso ético de cada um de nós deve ser com essa maioria. A luta coletiva precisa estar em primeiro lugar. Atualmente, os mais diversos setores da UFSC, com suas especificidades tão díspares, estão trabalhando na sua capacidade máxima. Cada pequeno setor segue dando respostas para a comunidade e para a instituição. Ninguém está parado. O trabalho da maioria está sendo feito remotamente, mas, possivelmente, muitos colegas já foram até a UFSC para resolver alguma coisa presencialmente. Porque é assim que são os trabalhadores comprometidos com a universidade.
Assim que um retorno presencial em massa não tem sentido algum nesse momento, muito menos na lógica confusa da administração que afirma ser um retorno gradual, mas exige setores abertos. Haveremos de retornar, é certo. Quando for seguro. E ainda não é. Por que então expor os trabalhadores a um risco desnecessário? Por conta das cobranças da imprensa pelega? Ora, desde quando a UFSC se rendeu à bocas-alugadas de plantão? O documento da reitoria diz que serão acompanhados os casos de infecção que possam surgir. Ora? O que é isso? Depois de os trabalhadores serem infectados, sem necessidade, o que a UFSC fará? Rezar? Chorar no enterro? Isso não tem qualquer cabimento.
Cada trabalhador da universidade sabe do seu trabalho e a maioria sempre esteve e está comprometida com a qualidade do que faz, sabendo muito bem o que significa ser um trabalhador público. Sim, existem os ladinos, os preguiçosos, os egoístas. Mas, esses, são poucos, exceções. Não podem servir como base.
O que deve nos orientar é a luta coletiva. Enquanto houver um único colega em risco, por conta de uma decisão irresponsável, temos de estar juntos, lutar juntos.
Precisamos preparar a universidade para o retorno, é certo, mas isso não se dá assim, num ato administrativo, sem diálogo com os trabalhadores e sem a devida contrapartida estrutural. Esse retorno precisa ser articulado e discutido com as categorias que conformam a UFSC. Não estamos em Marte. Estamos aqui e temos muito a contribuir.
Esperamos que a administração central não se esqueça de tudo que prometeu na campanha eleitoral. A democracia tem de ser participativa e, tal e qual a solidariedade, ser uma prática cotidiana e não um discurso vazio.
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