quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Quem precisa de Bolsonaro?

Morro das Pedras

Armação

Navegantes - parte protegida

Navegantes - Gravatá


Nas últimas eleições para presidente, deputados e senadores, o mote era: vamos deter o fascismo! Uma alusão à figura nefasta de Bolsonaro. Mas, vale dizer que faltou outro mote, talvez mais preciso: vamos deter o capitalismo. Sim, porque ao que parece, a turma já não está muito preocupada com ele, muito mais interessada em se adequar do que destruir esse modo perverso de organizar a vida. 

Digo isso porque as eleições vieram e o Bolsonaro não passou. A alegria de ter “vencido” o fascismo parece ter entorpecido boa parte da chamada esquerda brasileira, que simplesmente não consegue enxergar o tremendo processo de exploração do povo e na natureza que vem sendo imposto dia após dia, tanto pelo governo de Lula quanto pelo Congresso Nacional, que tem aprovado sistematicamente as propostas que chegam do executivo. 

Não bastasse o pacote de ajuste fiscal anunciado pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que arrocha ainda mais o salário mínimo, atingindo milhões de trabalhadores da ativa bem como os que recebem o BPC (Benefício de Proteção Continuada), agora a Câmara desengaveta um projeto que visa entregar a costa brasileira, assim como as margens de rios e lagos, para a iniciativa privada. É a chamada da PEC das Praias que acaba com  os terrenos de marinha, uma faixa de terra – hoje pertencente à União – que tem sido a única proteção ao ecossistema. 

Entre aqueles que estudam o ecossistema o protesto contra essa proposta é unânime. Afinal, sem essa proteção, a beira do mar, lagos e rios, ficará entregue à especulação imobiliária, que não tem qualquer compromisso com preservação da natureza. Caso passe, essa PEC permitirá a consequente privatização das praias com o surgimento de resorts, hotéis e outros equipamentos turísticos para a classe alta, obviamente, expulsando assim o povo da possibilidade do lazer. 

E quando se fala em preservação o que se quer dizer é que, sem a faixa de terrenos, a possibilidade de desastres ambientais aumenta significativamente. Está mais do que provado que a manutenção de restingas, dunas e vegetação na beira do mar é o que efetivamente protege o entorno. Quem não acredita nisso basta ver os exemplos que temos bem aqui nas nossas praias, em Florianópolis. Uma caminhada pela areia na altura dos Morros das Pedras e o que se vê são casas sendo engolidas pelo mar, sem que nenhuma das ações (caríssimas, por sinal) de tentativa de proteção dê resultado. Ou ainda a praia da Armação, que simplesmente desapareceu em função da falta de proteção, com edificações praticamente a dois passos do mar que igualmente foram engolidas. 

Outro exemplo – positivo – é o que acontece hoje na praia de Navegantes, onde a prefeitura tem investido pesado na preservação da restinga à beira-mar, fazendo com que a faixa protegida do litoral siga verde, com praia ampla e bonita. Lá é possível ver claramente a diferença entre a área protegida, com a areia grande, e a parte da praia que não teve a restinga preservada. Nesta, o mar avançou comendo toda a areia e quase comendo as construções, o que tem levado ao inútil e caro processo de engordamento sistemático da praia. 

Mas, para o capitalismo isso é coisa que não importa, já que o processo é esse mesmo. Fazer, destruir, demolir, reconstruir, tudo isso é o que faz girar a roda do dinheiro. Dane-se a natureza e danem-se os pobres que querem curtir uma praia. Não há limites para o eterno balanço da destruição/reconstrução. Vai daí que a única possibilidade de parar com esse processo é acabar com o capitalismo. Esse é o mote. Todos os dias, esse sistema de exploração dos trabalhadores nos mostra que não há acomodações possíveis, não há melhoramentos possíveis. É sempre como uma plástica malfeita. O que parece ser feito para melhorar, só piora. E é deliberado.

Assim que o capitalismo não precisa de Bolsonaro para fazer sua maquinaria girar. Isso pode ser feito com qualquer outro, como está sendo feito agora. Seja Lula, Haddad, deputados de todas as cores. O capitalismo avança sem freio. Ele come o salário das gentes, come as praias, enche a comida de veneno, derruba as árvores, muda o clima, mata quem se interpõe no caminho, vai arrasando sem dó. 

O capitalismo é um sistema de abate. Abate a natureza e abate as pessoas. Tudo para que meia dúzia de seres humanos acumule dinheiro. Essa lógica de destruição da vida e de tudo o que é público acontece em nível mundial, nacional e também municipal. Basta ver as seguidas operações da Polícia Federal em Florianópolis, prendendo gente ligada à administração e à vereança, envolvida em corrupção.  Os gerentes e subgerentes do capital vão caindo, mas o “dono da porra toda” segue intocável.  E tanto que quando vêm novamente as eleições, a população vota nos mesmos “gestores do capital” acreditando que eles vão administrar para a maioria. Quando despertarão? 

Bolsonaro mesmo é a prova. Ele sempre foi honesto no seu propósito e dizia claramente que iria acabar com o país. Pois segue sendo seguido por milhões que gritam, histéricos: acabe com tudo, acabe com tudo, mate os comunistas. 

Sequer sabem que o comunismo é exatamente a única alternativa na qual eles poderiam ser felizes.


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