quinta-feira, 29 de agosto de 2024

As precursoras do Curso de Jornalismo da UFSC


O Curso de Jornalismo completa 45 anos e realizou ontem uma atividade de celebração, convidando as professoras que começaram essa caminhada. Um momento mágico rever essas mulheres maravilhosas que foram decisivas na minha formação como jornalista. Todas elas, de alguma maneira, foram expulsas do curso porque não caminhavam na estrada do chamado jornalismo tecnicista. Viveram um expurgo cruel porque estavam mais vinculadas a uma proposta cultural, ou literária, ou humanizada e o curso queria ficar mais “profissional”, mais “técnico”. 

Lembro bem, quando ainda estudava, das conversinhas de corredor falando mal das aulas de algumas delas, porque davam muita teoria, ou porque falavam de assuntos que não tinham “nada a ver” com jornalismo. Ora, o nada a ver era a discussão da arte, da cultura, da literatura, do simbólico, elementos que são fundamentais para a formação de um jornalista, para que seja capaz de ler o mundo com mais competência. Neila Biachin, Aglair Bernardo, Sônia Maluf, Carmem Rial e minha adorada mestra Gilka Girardello pavimentaram um caminho que se descortinou extraordinário. Na época em que cursei jornalismo tinha o grupo dos “políticos” e o dos “culturais” e havia essa rivalidade boba, tão redutora, que depois evoluiu para a perversidade. 

Por sorte conseguimos conviver com essas mulheres generosas e criativas, fora das caixinhas da normose. Como mulheres foram particularmente ridicularizadas e sofreram inúmeras violências. Mas, alguns homens também tiveram sua cota de sofrimento, como foi o caso do Henrique Finco, do Mauro Pommer, que também faziam parte do grupo dos “culturais”, e eram igualmente professores instigantes e criadores. E até o Sérgio Weiggert, que era da turma dos “políticos”, sofreu na mão de alguns perversos, tirado como louco. Um gênio, que abriu mundos em nós. Eu mesma tenho ele e a Gilka como minhas referências eternas  - mudaram meu rumo. 

Ontem vendo aquela mesa bonita, com aquelas mulheres corajosas, que a despeito de tudo que viveram ali, seguiram seus caminhos construindo maravilhas, me emocionei demais. Que bom que a turma do curso de hoje teve a coragem de trazê-las e prestar essa homenagem. O passado não se apaga, foi duro e triste, mas o presente mostra claramente o tamanho da contribuição destes professores  - mulheres e homens – que nos guiaram pelo labirinto do fazer jornalístico. Eu os reverencio e os honro! E agradeço por ter tido a sorte de tê-los no meu caminho...

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