quarta-feira, 30 de março de 2022

O restaurante popular de Florianópolis


O prédio fica na Mauro Ramos, antigo Sine

A mídia comercial florianopolitana não surpreende e mantém invisível a luta social. Ontem, anunciou com pompa e circunstância o que chamam de “mais uma obra do prefeito Gean Loureiro”: o restaurante popular. E lá estava ele, sorridente, cortando fitas e entregando o restaurante que oferecerá mais de duas mil refeições a preço módico para a população empobrecida. Serão R$ 3 para quem tem renda per capita de até meio salário mínimo, R$ 6 para quem recebe acima de meio salário mínimo e isenção para renda zero. Mostraram as instalações, os balcões, as mesinhas, os trabalhadores que farão o cadastro e anunciaram que a “gestão” do restaurante ficará a cargo de empresa parceira, que no bom português significa mãos privadas. Terminada a inauguração, as pessoas terão de esperar o próximo semestre para ver a coisa realmente acontecer. 

Bom, o que os jornalistas não contaram foi a luta renhida travada por pessoas e movimentos sociais para que esse restaurante tivesse chegado à vida. O principal deles é o Movimento em Defesa do Restaurante Popular, com anos na batalha pelo direito humano à alimentação, reivindicando, discutindo, propondo, insistindo, porque entende que alimentação não é “benesse”, mas direito. Por isso, fazem a defesa intransigente de uma política pública permanente que garanta o funcionamento efetivo e sem interrupções do restaurante popular. O movimento ainda reivindica que o RP não seja só um lugar onde as pessoas possam “comer barato”, mas que faça parte de toda uma proposta global que garanta também:

1. Acesso a empregos, salário e renda capaz de viabilizar qualidade na alimentação

2. Sistema de produção de alimentos de qualidade para o consumo de toda a população

3. Condições para que as pessoas em vulnerabilidade social tenham acesso a comida e água

4. Educação, saúde, moradia e saneamento básico 

Nesse sentido não basta o prefeito inaugurar o restaurante popular e colocar ali uma ONG para administrar, colocando o feito na sua folha corrida de “obras”. É preciso que esse projeto faça parte do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional, ainda inexistente em Florianópolis. 

O movimento também reivindica que o Restaurante Popular esteja articulado à produção local com maricultores, pescadores, agricultores, indígenas e quilombolas, garantindo assim qualidade de vida para quem produz e para quem vai consumir o alimento. 

Em Carta Aberta o Movimento em Defesa do Restaurante Popular reconhece a importância de esta proposta ter saído do papel e encontrado concretude na vida da cidade, mas alerta para a insuficiência. Se a cidade realmente quer tratar a questão da fome e da segurança alimentar de sua população há que seguir batalhando para que a municipalidade integre o restaurante com as demais políticas sociais. 

É sempre bom lembrar que não existe pobreza, o que há é o empobrecimento das gentes em função da lógica do capital. Portanto, o que se reivindica não é comiseração ou pena e sim uma proposta articulada entre quem produz e quem consome para que todos possam viver com dignidade. 

O restaurante popular é uma vitória da luta! E a luta segue.


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