As mudanças de percepção do pai são inesperadas. Ele pode estar bem tranquilo num momento e no outro segundo ficar agitado, querendo sair. Num minuto está consciente de tudo e noutro já nem sabe mais quem eu sou. Numa hora está sentadinho ouvindo música e de repente começa a mexer nos armários compulsivamente.
- A senhora teria um cigarro? ele pergunta. E aí já sei que saiu do ar, está noutra dimensão da sua mente. Então, tenho de embarcar nela. Coisas que já faço no automático, como se fosse assim, uma mudança de língua. Estou falando português e logo já começo a falar em espanhol. Igual.
Outro dia estávamos tomando café. De boa. Ele fazendo as traquinagens com o pão. De repente, do nada, ele se levantou agitado. Pegou a almofada, passou a mão no saco de pão e saiu porta afora, perguntando, nervoso: Onde é a saída? Onde é a saída?
Saí da mesa, peguei sua mão e sinalizei:
- É por aqui, seu Tavares, é por aqui. E já fui puxando para o caminho em volta da casa.
Completamos duas voltas de braços dados.
Na terceira ele olhou a almofada, o saquinho e me puxou casa adentro, voltando para o café.
- Quer um pão de queijo, pai?
- Sim, filha.
Pronto, voltou.
2 comentários:
Um amado 💕
Que filha mais respeitosa.... bravo .. muita energia de cura pra vcs muita força e luz no seu caminho abençoado 🙌🙏🏼
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