É agosto. Os cachorros se movimentam mais, latem mais, perseguem espíritos. A lua cheia aparece na borda do meu muro lá pelas sete horas, imensa. Gosto de ficar parada, vendo-a subir, ficando cada vez maior e mais brilhante. Jacy. Repleta de bênçãos, movimentando nossas marés interiores. Que espetáculo. Não canso de apreciar.
E, nessas noites de inverno o céu parece que se mostra com mais esplendor. Tudo tão limpo. As estrelas bem próximas. Gosto de apagar as luzes da casa e sentar no jardim, em silêncio, só sentindo o roçar dos gatos nas pernas. É quando os cachorros se aquietam e ficam ao meu lado, reverentes. Então, fico buscando as constelações. O cruzeiro do sul assoma, Orion aparece com as três Marias em destaque, Antares, a vermelha, pisca, indicando o caminho de Escorpião. Ah, o céu. Logo me vem à mente o Sr Spock, capitão Kirk, capitão Picard, meus parceiros cotidianos de aventuras pelo espaço. Mando um beijo para Carl Sagan, esse homem incrível que tanto me ensinou. Chego a vê-lo galopado pelo céu estrelado, atado a cola de algum cometa.
Busco os discos voadores, como desde menina. Um dia virão. Sejam de outro mundo ou de outros universos temporais. Caço buracos de minhoca para poder fugir. Aqui tá estranho. Mas, enfim, esse é o tempo que me tocou viver. O vento frio vai gelando o pé, mas não arredo. A noite do inverno é bonita demais. Só faltam as fogueiras para que a comunhão se faça, mas as árvores estão podadas, e os vizinhos espiam. Se pá, eu viro bruxa. Já sou “petista”, “comunista”, e se me veem dando pago à terra ou dançando para os deuses aí a parada fica sinistra. Melhor seguir no silêncio, dançando na mente, como se estivesse no meio da pampa infinita, de cara para o minuano.
Fecho os olhos e deixo que passe a procissão dos mortos, os que eu amo e amarei, os que me ensinaram, os que me guiaram. Acaricio as cabeças dos bichos e espero, pela bênção, pela força atávica. Tudo me inunda. Estou pronta para dormir. Assim são os invernos aqui nesse sul de mundo, nessa vereda perdida do Campeche.
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