segunda-feira, 13 de abril de 2020

As rendas do Dinho


Cinco horas da manhã, o dia ainda dormia. O pai,  zanzado no quarto na sua dança de arrumação. São pelo menos duas horas nessa função. Pouco posso fazer. Então, fui ver o documentário da jornalista Adriane Canan, “As rendas de Dinho”. Não pude ir ao lançamento e já havia tempos que andava curiosa por assistir. Ela me mandou o enlace secreto, aproveitei.

O Dinho é um morador do Pântano do Sul que é considerado hoje um patrimônio histórico/afetivo do bairro, embora nem sempre tenha sido assim. Na sua história de vida ele mesmo lembra quando teve de ir embora de Florianópolis porque alguém na comunidade o considerava a vergonha do lugar. Ele é rendeiro, profissão sempre fadada às mulheres e que é marca registrada da ilha de Santa Catarina.  E foi essa sua singularidade que atraiu o olhar da documentarista. 

O documentário traduz bem o espírito do Dinho. É terno, leve, alegre, colorido e profundo. Delicadamente vai enredando a renda da vida desse homem que é como um raio de sol na comunidade tradicional de pescadores. A partir da fala dele mesmo e das pessoas do seu entorno o filme desvela o caminho feito desde o mar do Pântano, passando por São Paulo, Canadá e depois a volta para casa. Outra vez em frente ao mar, os olhos nos cardumes,nos barcos e nas gentes. 

No Pântano, depois de tantas andanças, Dinho se viu perdido de alguns de seus mais importantes amores e a vida virou tristeza. Então lembrou que sabia rendar e começou a fazer renda na praia. A partir daí, seu riso aberto voltou e a vida recomeçou apesar da dor.

O filme retrata esse homem e sua história de buscas, perdas e reencontros. Ele eterniza um ser que é também essência do Pântano, reconhecido e amado. Adriane Canan narra o local, mas consegue abarcar a universalidade do humano. Ela cristaliza a memória da nossa cidade e ainda oferece um presente: o Dinho, na sua singeleza e na sua capacidade de reconstrução. No rosa esvoaçante do vestido, no azul do mar e no riso de menino dança a alegria de existir e amar. 

Belo trabalho Adriane. Obrigada... 

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