quinta-feira, 7 de junho de 2018

Doval, o futebol e o esquadrão imortal

Doval

o esquadrão imortal

Sempre tive certa síndrome de Madre Tereza, ficando ao lado do mais fracos em todas as situações, inclusive no futebol. Lembro que quando era pequena (ou criança, porque pequena ainda sou) achava muito estranho a garotada da rua ser Flamengo. Todos eram Flamengo, aquilo não me parecia justo. Eu brigava porque achava que tinham de ser dos times locais, no caso ou Internacional, ou Cruzeiro, que eram os times de São Borja. Mas, bastava ter jogo do Flamengo que a galera deixava o jogo de bolita para ouvir a contenda.

Foi por conta disso que me fiz Fluminense lá pelos anos 70. Achava triste que ninguém torcia para o tricolor. No jogo de botão, esse sempre era meu time. Cafuringa, Mickey (o artilheiro do paz e amor), Félix, Gerson. E, em 1975 o “esquadrão imortal” era imbatível, com figuras míticas como Carlos Alberto, Edinho, Dirceu, Rivelino e o absoluto Doval. Esse era meu ídolo, tinha milhares de fotos recortadas do “diabo loiro” argentino. E o dono da banca de revista já sabia, quando chegavam as revistas do esporte eu era a única menina a comprar. Também tinha todos os álbuns de figurinha.

Naqueles anos o futebol era uma beleza. A gente conhecia os jogadores, amava cada um deles pela magia que conseguiam fazer com a bola nos pés. Eu, de fato, sempre gostei do jogo, não importando muito quem jogava. E a torcida era sempre definida em função de quem estava com menos apoio.

Ao longo dos anos amei Nelinho, Eder, Paulo Cesar Carpeggiani, Renato, Figueroa, Paulo César Caju, Manga, Zico, Falcão, Marinho, Sócrates, Wladimir, Palhinha, Fio, Biro-Biro, Toninho Cerezzo, Roberto Dinamite, Leão, Valdo, e tantos outros. Hoje ainda me deixo ficar em frente à TV quando o jogo é bom, mas já não conheço ninguém. Desses, da seleção brasileira, praticamente nenhum. Eles não são nossos ídolos aqui, não dançam nos nossos gramados, estão fora.

Mesmo assim, quando chega o tempo da Copa eu me animo. Mesmo no meio do futebol técnica assoma algum guri brincalhão, desses que dança e faz misérias. Isso me emociona e me transporta para os anos 70 e 80 quando a gente vivia com força essa paixão. Mas, é triste não ter o nome dos guris na ponta da língua e não saber sequer de onde eles estão saindo. No geral, as gentes de outros lugares sabem deles mais do que nós. Nossos garotos, quando em algum momento se destacam, já são capturados por algum olheiros e viram mercadoria, levados para longe de nós.

Nesses dias que antecedem a Copa me veio assim, profundo, um oceânico sentimento de saudade e me vi debruçada sobre o álbum que enchi só com fotos do Doval. Ele ainda deve existir em alguma caixa na casa de meu pai. O Doval já se foi, “hace tempo” jogar no céu. Morreu cedo, com 47 anos, deixando a doce lembrança do riso, dos cabelos lisos e compridos e do braço em riste na hora do gol. Doval é a memória de um tempo em que o futebol era capaz de nos encantar.

Hoje, não mais... Ainda que nos dias de Copa eu me perca, outra vez...Esperando.


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