Para Ângela Vilma
Outro dia uma amiga postou no “face” um texto sobre a
solidão dos livros que se escreve e que não são lidos. Fiquei a pensar sobre
isso, eu que escrevo. Também tenho alguns guardados nas estantes, como outros escritores que conheço.
Livros que ninguém comenta, que ninguém faz resenha. Livros mortos, que não
falam nada a ninguém. Mas, creio eu, esses livros não estão acabados. Não. Sozinhos,
eles esperam.
Há quem diga que não vale mais a pena editar livros. Ninguém
mais lê. É só textinho de “facebook” (o livro da nossa cara). Prefiro achar que
não. Os livros são entidades eternas e, ainda que dormidos, preservam sua
magia.
Guardo na memória a descoberta de um livro, desses, feito
morto, numa velha estante do sebo Martin Livreiro, em Porto Alegre. Eu estava
lá, procurando por exemplares da Revista “O Cruzeiro” para as análises do meu
mestrado. E o moço mandou eu subir. Por certo era um andar onde pouca gente ia,
no qual ficavam as publicações mais antigas. A revista “O Cruzeiro” a primeira
revista de reportagens com distribuição nacional, nascida no longínquo 1928.
E eu fiquei ali, sozinha e esquecida, a fuçar pelas estantes
cheias de livros e revistas velhas, sentindo o nariz coçar, com a fuligem característica
do papel carcomido. Procura aqui, procura ali, move uma revista, move um livro
e então, quando eu puxava um grande volume de capa dura, um livrinho pequeno
saltou para fora da estante. Assim, como se tivesse vida própria. Catei do chão
e sem curiosidade, já ia devolvendo para o armário, quando ele outra vez se moveu, e escorreu da mão.
Eu, que creio em bruxarias, entendi que o livro queria ser visto.
Peguei-o de volta e fui folheando. A capa estava rasgada,
meio comida pelas traças. Antônio Olinto. Nunca tinha ouvido falar. Na contra
capa, a surpresa: Jornalismo e Literatura. Um achado! O livro, escrito em 1955,
me saltava às mãos numa tarde fria de Porto Alegre, no ano de 1999. E o que descobri
nele abriu caminhos para minha compreensão do jornalismo.
Ele estava ali, dormindo. Sabia que um dia iria chegar uma
mulher, pequenina e curiosa, e ele então saltaria da estante, pronto para o
encontro. Estamos juntos até hoje. Vez em quando, se o jornalismo vira gosma,
se não consigo vislumbrá-lo na vida mesma, eu recorro ao livrinho e me
aconchego às suas palavras, ditadas desde tão longe no tempo. “O jornalista tem
que ser como o artista, que mantem intacta em si a capacidade de sentir e
transmitir sentimentos estranhamente verdadeiros”, dizia Olinto. Ah, mestre, que bom que te encontrei...
E assim sigo eu, cumprindo essa lição.
Então, por conta desse encontro, tão abissal, eu insisto: os
livros são entidades mágicas, que esperam por nós, em algum lugar. Não deixe de
escrevê-lo, escritor, escritora. Não deixe!!!
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