terça-feira, 18 de abril de 2017

No busão... da UFSC ao centro




Saí da universidade por volta das cinco e meia da tarde. Respirei fundo, pois, depois das cinco, já se sabe que o calvário será doloroso. No geral, o ônibus leva uns cinquenta minutos só para ir da biblioteca até a Eletrosul. Não deve dar mais de dois quilômetros. É um martírio. E não há saída. Quem mora longe tem de pegar o ônibus. Não dá para ir à pé e a bicicleta não é opção. Não há ciclovias e não há respeito com quem pedala. Fazer o trajeto na magrela é arriscar a vida, sempre.

Agora para completar a tragédia da imobilidade ainda estão em andamento as obras da duplicação de parte da Edu Vieira. Outra obra inútil, pois duplica apenas um pequeno pedaço do trajeto, que novamente vai engarrafar na Eletrosul. É uma coisa de louco. Talvez fosse bom a gente investigar sobre os contratos da empreiteira que está fazendo o serviço, porque não tem explicação racional para aquilo.

O fato é que depois das cinco e meia os ônibus andam lentos e totalmente lotados. Quem vai em pé sofre demais, ainda mais carregando livros e cadernos. É o terror.

Pois nesse dia uma cena grotesca me jogou no chão. Uma daquelas coisas que nos deixa sem palavras, pelo tamanho do absurdo.

O busão seguia lento, o povo com aquelas caras de desespero, apinhado no corredor. Na catraca, a cobradora, a cada ponto, recitava o mantra: um passinho mais pra trás, por favor, tem mais gente pra entrar. Só que não tinha mais espaço. Nenhum passinho podia ser dado. Todos com aquela cara de bunda, já olhando feio para a moça. Mais um ponto e nem a porta conseguia abrir, de tanta gente. Então, ela, tentando ser engraçada, começou a gritar: olha a barata, olha a barata. Duas garotas que estavam mais a minha frente arregalaram os olhos, cheios de terror. Eu acalmei. Bobagem, não tem barata. Só a tentativa desastrada da guria em fazer as pessoas se apertarem mais.  

Lá na frente a moça sorria de sua própria piada. Só ela, ninguém mais. Eu, que ando com os nervos à flor da pele não consegui reter as lágrimas. Que porra de mundo é esse? Que merda de sociedade a gente criou? Na qual se tem de andar como bicho, olhos no chão, resignados? E ainda tendo de aturar brincadeiras idiotas de quem infelizmente não tem consciência de classe.

Bateu uma tristeza infinita. Porque aquela moça é uma trabalhadora. Deve também pegar o busão cheio para voltar pra casa. E certamente seguirá cabisbaixa e triste como todos nós que levamos quase três horas para chegar a casa depois de um dia de trabalho.

Do meu lado, as garotas rastreavam o chão, ainda sem acreditar que não havia barata. E me olhavam, estranhadas, por conta das lágrimas que corriam devagar. Vontade de quebrar o ônibus e a cara da mulher, que seguia rindo. Tem dias que é uma merda, mesmo... 




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