domingo, 19 de março de 2017

Jornalista Moair Loth recebe medalha Professor João David Ferreira Lima


Homenagem será na Câmara de Vereadores, dia 20, segunda-feira, às 16h

Quero começar esse texto dizendo que Moacir Loth é um homem especial, e que eu o amo. Ele é um desses jornalistas de primeira linha, dos que quase não existem mais. Seus textos primorosos, desde os tempos em que trabalhava no velho Jornal de Santa Catarina, em Blumenau, sempre foram um sul para os novos repórteres. Escrita potente, ironia fina, Moacir tem como marca adentrar as entranhas dos fatos, descrevendo com maestria e reportando com fidelidade. Nascido lá na Itoupavazinha, ele traz, bem arraigada, a sua alma colona, de desbravador. Os olhinhos apertados, sempre desconfiados, nunca deixaram passar um detalhe. O espírito reporteiro encontrou ali a sua concretude.

O conheci quando entrei na UFSC para ser repórter na Agência de Comunicação (Agecom). Ele era o diretor da agência. Durante a caminhada naquele pequeno (grande em qualidade) espaço de comunicação da UFSC tivemos grandes momentos. O Moacir é um chefe como poucos. O trabalho com ele é como um bailado. Não impõe. Discute. Sua marca na Agecom sempre foi a da liberdade. Nós podíamos escrever o que quiséssemos, desde que fosse bem escrito. Uma novidade para alguém que, como eu, vinha de anos na iniciativa privada, sempre podada por interesses outros que não o da boa informação pública.

Com ele construímos uma política pública de comunicação que andou pelo Brasil, inspirando e acendendo novas formas de ser assessoria de imprensa. E sob sua direção fazíamos o Jornal Universitário, que, por conta da maneira como todos entendiam a comunicação, mostrava toda a vida que pulsava na UFSC. Não era um jornal chapa-branca, desvelava as mazelas da política nacional, os grandes temas do país e fazia a crítica da própria universidade. Moacir segurou barras incríveis por conta de reportagens aparentemente desabonadoras sobre a UFSC. Posso dar um exemplo de uma que eu fiz, sobre o cruel abandono de cachorros usados para experiências no curso de Medicina. Gente grande pediu minha cabeça. Moacir segurou a barra, sob o risco de perder a sua própria cabeça. Vivemos muitas situações assim. E ele nunca abandonou qualquer um de nós.

Tivemos, é claro, brigas homéricas e ficamos por algum tempo sem se falar. Afinal, Moacir, na direção da Agecom, também cometia erros, como qualquer ser humano. E eu era implacável. Acho que ainda sou. Mas, como ele é generoso, e eu também sou, sempre voltamos às boas. É difícil demais ficar brava por muito tempo com ele.  E ele tem um coração maior que o corpo.

Uma das coisas que sempre me emocionou na história de Moacir foi o seu amor pela UFSC. Nunca vi coisa igual. Talvez o Assis tenha chegado ao mesmo nível. Quando diretor da Agecom, praticamente morava na universidade. Sua sala, tomada por livros, recortes de jornal e outros papéis, era seu ninho seguro e quentinho. Escondido ali, com os dedos ágeis sobre a máquina de escrever, usada muito tempo ainda depois da chegada dos computadores, ele passava os dias e parte da noite. Nunca teve tempo feio. E mesmo quando a vida se transportava para o bar, com cerveja e pizza, a UFSC era o assunto principal. Conspirávamos, conspirávamos, planejávamos e agíamos. Que tempos vivemos, que tempos!!!

Por conta da pequena política Moacir também passou maus bocados. Por muitas vezes foi afastado, preterido, substituído. Mas, aquilo não importava. Seguia seu caminho, fazendo sempre o melhor pela UFSC,  sua “pequena”, sempre amada. Fosse na Agecom, ou na Editora, onde também atuou. Aposentou-se em meio a uma tormenta, na gestão da Roselane Neckel. Perseguido, assediado, vilipendiado. Saiu da UFSC sem pompa, mas sempre com aquele risinho meio tímido, meio cínico, como a dizer “a vida é mais”. E ele estava certo.

Agora, quando o vereador Lino o homenageia pelos 35 anos de dedicação à UFSC eu me emociono. Porque o Moa merece que o reverenciemos. Ele merece, não uma medalha, mas esse reconhecimento público pelo trabalho que fez na universidade. Trabalho de formiguinha, amoroso e sistemático. Ele merece pelo tanto que contribuiu com o jornalismo de qualidade, seja como repórter, seja como chefe de redação, seja como colunista.

Com ele, a despeito de todas as diferenças, dividi minha vida de reporteira. Na Agecom, na Pobres e Nojentas, no sindicato. E, hoje, me enche de felicidade vê-lo homenageado. Não pela Câmara, que é uma instituição que não nos diz nada. Mas, pelo Lino, que foi professor na UFSC e sabe bem o que o Moacir significou na Comunicação. E por todos nós, seus amigos, que também queríamos ver todo o seu trabalho dignamente reconhecido.

Nessa segunda-feira, quando ele receber a medalha Medalha Professor João David Ferreira Lima, eu estarei lá, para ver com esses olhos de enxergar a merecida honraria a esse homem que construiu uma linda história no jornalismo catarinense. A honraria não partiu da UFSC, sua casa amada. Mas, não importa. Ela se faz e nós nos alegramos.

Valeu Lino, por dignificar o trabalho do Moa.


Valeu Moinha, por ser quem tu és. E eu sei que tantas outras belezas estão nascendo desses teus dedinhos, agora no computador. Bem assim, desse teu jeitinho, quietinho, escondidinho, mas absolutamente lindo. Que venham os livros!!!!

Nenhum comentário: