Homenagem será na Câmara de Vereadores, dia 20, segunda-feira, às 16h
Quero começar esse texto dizendo que Moacir Loth é um homem
especial, e que eu o amo. Ele é um desses jornalistas de primeira linha, dos
que quase não existem mais. Seus textos primorosos, desde os tempos em que
trabalhava no velho Jornal de Santa Catarina, em Blumenau, sempre foram um sul
para os novos repórteres. Escrita potente, ironia fina, Moacir tem como marca
adentrar as entranhas dos fatos, descrevendo com maestria e reportando com
fidelidade. Nascido lá na Itoupavazinha, ele traz, bem arraigada, a sua alma
colona, de desbravador. Os olhinhos apertados, sempre desconfiados, nunca
deixaram passar um detalhe. O espírito reporteiro encontrou ali a sua
concretude.
O conheci quando entrei na UFSC para ser repórter na Agência
de Comunicação (Agecom). Ele era o diretor da agência. Durante a caminhada
naquele pequeno (grande em qualidade) espaço de comunicação da UFSC tivemos
grandes momentos. O Moacir é um chefe como poucos. O trabalho com ele é como um
bailado. Não impõe. Discute. Sua marca na Agecom sempre foi a da liberdade. Nós
podíamos escrever o que quiséssemos, desde que fosse bem escrito. Uma novidade
para alguém que, como eu, vinha de anos na iniciativa privada, sempre podada
por interesses outros que não o da boa informação pública.
Com ele construímos uma política pública de comunicação que
andou pelo Brasil, inspirando e acendendo novas formas de ser assessoria de
imprensa. E sob sua direção fazíamos o Jornal Universitário, que, por conta da maneira
como todos entendiam a comunicação, mostrava toda a vida que pulsava na UFSC.
Não era um jornal chapa-branca, desvelava as mazelas da política nacional, os
grandes temas do país e fazia a crítica da própria universidade. Moacir segurou
barras incríveis por conta de reportagens aparentemente desabonadoras sobre a
UFSC. Posso dar um exemplo de uma que eu fiz, sobre o cruel abandono de
cachorros usados para experiências no curso de Medicina. Gente grande pediu
minha cabeça. Moacir segurou a barra, sob o risco de perder a sua própria
cabeça. Vivemos muitas situações assim. E ele nunca abandonou qualquer um de
nós.
Tivemos, é claro, brigas homéricas e ficamos por algum tempo
sem se falar. Afinal, Moacir, na direção da Agecom, também cometia erros, como
qualquer ser humano. E eu era implacável. Acho que ainda sou. Mas, como ele é
generoso, e eu também sou, sempre voltamos às boas. É difícil demais ficar
brava por muito tempo com ele. E ele tem
um coração maior que o corpo.
Uma das coisas que sempre me emocionou na história de Moacir
foi o seu amor pela UFSC. Nunca vi coisa igual. Talvez o Assis tenha chegado ao
mesmo nível. Quando diretor da Agecom, praticamente morava na universidade. Sua
sala, tomada por livros, recortes de jornal e outros papéis, era seu ninho
seguro e quentinho. Escondido ali, com os dedos ágeis sobre a máquina de
escrever, usada muito tempo ainda depois da chegada dos computadores, ele passava
os dias e parte da noite. Nunca teve tempo feio. E mesmo quando a vida se transportava
para o bar, com cerveja e pizza, a UFSC era o assunto principal. Conspirávamos,
conspirávamos, planejávamos e agíamos. Que tempos vivemos, que tempos!!!
Por conta da pequena política Moacir também passou maus
bocados. Por muitas vezes foi afastado, preterido, substituído. Mas, aquilo não
importava. Seguia seu caminho, fazendo sempre o melhor pela UFSC, sua “pequena”, sempre amada. Fosse na Agecom,
ou na Editora, onde também atuou. Aposentou-se em meio a uma tormenta, na
gestão da Roselane Neckel. Perseguido, assediado, vilipendiado. Saiu da UFSC
sem pompa, mas sempre com aquele risinho meio tímido, meio cínico, como a dizer
“a vida é mais”. E ele estava certo.
Agora, quando o vereador Lino o homenageia pelos 35 anos de
dedicação à UFSC eu me emociono. Porque o Moa merece que o reverenciemos. Ele
merece, não uma medalha, mas esse reconhecimento público pelo trabalho que fez
na universidade. Trabalho de formiguinha, amoroso e sistemático. Ele merece
pelo tanto que contribuiu com o jornalismo de qualidade, seja como repórter,
seja como chefe de redação, seja como colunista.
Com ele, a despeito de todas as diferenças, dividi minha
vida de reporteira. Na Agecom, na Pobres e Nojentas, no sindicato. E, hoje, me
enche de felicidade vê-lo homenageado. Não pela Câmara, que é uma instituição
que não nos diz nada. Mas, pelo Lino, que foi professor na UFSC e sabe bem o
que o Moacir significou na Comunicação. E por todos nós, seus amigos, que
também queríamos ver todo o seu trabalho dignamente reconhecido.
Nessa segunda-feira, quando ele receber a medalha Medalha
Professor João David Ferreira Lima, eu estarei lá, para ver com esses olhos de
enxergar a merecida honraria a esse homem que construiu uma linda história no
jornalismo catarinense. A honraria não partiu da UFSC, sua casa amada. Mas, não
importa. Ela se faz e nós nos alegramos.
Valeu Lino, por dignificar o trabalho do Moa.
Valeu Moinha, por ser quem tu és. E eu sei que tantas outras
belezas estão nascendo desses teus dedinhos, agora no computador. Bem assim,
desse teu jeitinho, quietinho, escondidinho, mas absolutamente lindo. Que
venham os livros!!!!
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